A intervenção militar no Rio de Janeiro
Por Sued Lima*
Somente a ingenuidade extremada ou a criminosa má fé pode ver com bons olhos a intervenção do governo federal no Rio de Janeiro, decretada dia 16 de fevereiro passado. O ato já vem com um escancarado vício de origem, representado pelos seus patrocinadores mais visíveis: Michel Temer, Moreira Franco, Raul Jungmann e Sérgio Etchegoyen, cujo traço comum de caráter que os configura é a deslealdade.
Temer, o conspirador solerte contra sua companheira de chapa, Dilma Rousseff, esconde-se da Justiça por trás do foro especial que o protege de responder por crimes de diversos matizes: corrupção passiva, obstrução de justiça, recebimento de propinas de empresas que operam no porto de Santos e organização criminosa. Moreira Franco é figura que transita com desenvoltura em governos supostamente de esquerda, como os governos petistas, e os de direita, como o atual. É tido como o grande articulador político de Temer. Quando governador do Rio de Janeiro, aproximou-se dos contraventores do Estado, pesando sobre ele a acusação de ter recebido do grupo recursos para suas campanhas eleitorais. É o articulador do plano de entrega de empresas nacionais a conglomerados estrangeiros e responde a acusações de corrupção quando diretor da Caixa Econômica. Em 2017, teve seu cargo guindado ao status de ministro para ser protegido da prisão.
Raul Jungmann é o camaleão que se transfigura de acordo com seus interesses pessoais. Foi de militante do Partido Comunista Brasileiro a ministro do governo FHC. No PCB, como assecla de Roberto Freire, participou da tentativa fraudulenta de liquidação do partido na insidiosa, porém frustrada, operação do teatro Zaccaro, São Paulo, em janeiro de 1992. Por fim há o general Etchegoyen, que teve suas três promoções como general durante os governos petistas. Sua ascendência inclui generais que vêm desde a década de 1940, sempre em posições reacionárias, na participação em golpes contra a democracia, na entrega de empresas nacionais às multinacionais e na prática de tortura durante a ditadura militar, conforme consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade. Segundo recente edição da revista Veja, Etchegoyen vem sendo qualificado de traidor pelo alto escalão do Exército por defender a reforma da previdência.
Quando se comparam a qualidade e os objetivos desse grupo e a avaliação da quase unanimidade dos especialistas em segurança pública e chefes militares, aí incluído o comandante do Exército General Villas Boas, que qualificam a medida de inócua, inadequada e perigosa, não há como fugir da constatação de que se trata de mais um lance de ludibrio, com objetivos próprios da mais baixa política, do que voltados para a efetiva busca do bem estar da população.
Enfim, desse grupo, nada se pode esperar de virtuoso.
Foto: Beto Barata/PR
*Pesquisador do Observatório das Nacionalidades (UECE)