O assassinato de um cantor popular
Grande cantor popular chileno, ele foi cruelmente assassinado nos primeiros dias da ditadura instaurada pelos militares liderados por Augusto Pinochet em 1973. O crime aconteceu no Estádio Nacional que servia de prisão para milhares de militantes. O relato chocante abaixo, que mostra a barbaridade do assassinato, foi retirado de No Olho do Furacão, do jornalista brasileiro Paulo Cannabrava, a partir de relatos de quem esteve lá.
“Em um dado momento, Victor desceu para a platéia e se aproximou de uma das portas por onde entravam os detidos. Ali topou – cara a cara – com o comandante do campo de prisioneiros que o olhou fixamente e fez o gesto mimico de quem toca violão. Victor assentiu com a cabeça, sorrindo com tristeza e ingenuidade. O militar sorriu, contente com sua descoberta.
Levaram Victor até à mesa e ordenaram que pusesse suas mãos em cima dela. Rapidamente surgiu um facão. Com um só golpe cortaram seus dedos da mão esquerda e, com outro, os da mão direita. Os dedos cairam no chão de madeira, ainda se mexendo, enquanto o corpo de Victor se movia pesadamente.
Depois choveram sobre ele golpes, pontapés e os gritos: ‘canta agora… canta…’, a fúria desencadeada e os insultos soezes do verdugo ante um ‘alarido coletivo’ dos detidos.
De improviso, Victor se levantou trabalhosamente e, com o olhar perdido, dirigiu-se às galerias do estádio… fez-se um silêncio profundo. E então gritou:
– Vamos lá, companheiros, vamos fazer a vontade do senhor comandante.
Firmou-se por alguns instantes e depois, levantando suas mãos ensanguentadas, começou a cantar em voz ansiosa o hino da Unidade Popular (Coligação de partidos de esquerda que apoiavam o governo de Allende), a que todos fizeram coro.
Aquele espetáculo era demasiado para os militares. Soou uma rajada e o corpo de Victor começou a se dobrar para a frente, como se fizesse uma longa e lenta reverência a seus companheiros. Depois caiu de lado e ficou ali estendido.”
Ano passado, 36 anos depois de seu assassinato, o povo chileno finalmente pode realizar o funeral público de seu grande artista.
Um documentário da TV3 da Catalunha registra a ação da Funa, uma manifestação de militantes com objetivo de denunciar publicamente uma pessoa.
Eles vão até a casa ou trabalho de torturadores e assassinos da ditadura denunciá-los perante seus vizinhos e colegas. No vídeo, a Funa de Víctor Jara, vai até o ministério governamental onde trabalha o ex-militar conhecido com El Príncipe, apontado como o comandante da barbaridade feita contra o cantor. No final, os militantes invadem o gabinete do assassino e o acusam cara a cara. Assistam o vídeo completo abaixo e o ápice da manifestação em:
Fonte: http://soylocoporti.com/?p=995
P.S. Este vídeo tem a duração de 30m. Se não puder assisti-lo na íntegra, avance o cursor até à marca de 19m30s, que é o momento exato em que se vê o desmascaramento daquele criminoso.