“A Esquerda e o Golpe de 64”: um livro indispensável para a compreensão da história do Brasil recente
No último dia 27 (terça), a sede nacional do PCB abrigou o lançamento do livro “A Esquerda e o Golpe de 64”, do escritor Denis de Moraes, em reedição atualizada pela Editora Expressão Popular. Da mesa do evento, participaram os camaradas Ricardo Costa (Rico), representando o Comitê Central do PCB, e Joba, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Dênis de Moraes, professor da Universidade Federal Fluminense, jornalista por formação, é acadêmico e pesquisador respeitado na área da Comunicação, autor de mais de vinte títulos, dentre os quais Vianninha, cúmplice da paixão (1991), O velho Graça (1992) e O rebelde do traço (1996), belíssimas biografias de Oduvaldo Vianna Filho, Graciliano Ramos e Henfil, nas quais a trajetória da esquerda brasileira é reconstruída através das vidas e obras dos biografados. Seu livro mais recente, Vozes abertas da América Latina: Estado, políticas públicas e democratização da comunicação (2011), retrata bem a preocupação do autor, nos últimos anos, em analisar o processo de consolidação da hegemonia burguesa na América Latina, através do espantoso crescimento do poder ideológico exercido pelos meios de comunicação, no contexto mundial da globalização capitalista, em paralelo ao desenvolvimento de ações de resistência e de políticas de controle popular e democrático da mídia, por intermédio dos movimentos populares, organizações de esquerda e governos progressistas do nosso continente. Traduzido e reconhecido no exterior, Dênis recebeu, no ano passado, o “Premio Internacional de Ensayo Pensar a Contracorriente”, do Ministério da Cultura de Cuba.
Em A esquerda e o golpe de 64, publicado originalmente em 1989, quando grande parte dos personagens e entrevistados do livro ainda estavam vivos (tais como Luiz Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Leonel Brizola, Francisco Julião, Herbert de Souza, Nelson Werneck Sodré, dentre outros), Dênis analisa as diferentes concepções, táticas e projetos estratégicos, assim como as ilusões e os equívocos, da esquerda brasileira se no período do governo João Goulart, derrubado, em 1º de abril de 1964, pelas forças políticas reacionárias e pelos setores representativos da burguesia monopolista. Recorrendo a imagens cinematográficas, faz um balanço dos erros e acertos da esquerda numa conjuntura de grande efervescência política e cultural, com a ampla participação de diversos setores organizados das massas (sindicatos, ligas camponesas, organizações estudantis, de mulheres, artistas, escritores, etc), fato que provocou a reação da direita brasileira, temerosa da eclosão de uma revolução vermelha.
No evento de lançamento do livro, Dênis dedicou sua palestra aos verdadeiros heróis do povo brasileiro: os membros do Comitê Central do PCB assassinados pela repressão em 1975 e os revolucionários da estirpe de Gregório Bezerra e Carlos Marighella. Resgatou a figura histórica de João Goulart (Jango), demonizada pela direita e esquecida por boa parte da esquerda, lembrando seu governo democrático, que não reprimiu os movimentos sociais da época e possibilitou a organização dos trabalhadores, na luta por seus direitos.
Conforme lembrado pelo camarada Ivan Pinheiro, Secretário Geral do PCB, a atividade, promovida pelo Comitê Central do Partido e tendo ainda o maior movimento social brasileiro contemporâneo, o MST, através da sua Editora Expressão Popular, como patrocinador da reedição da obra, estava carregada de simbolismos políticos, ao associar o balanço dos anos 60, em que os comunistas foram importantes protagonistas da história do Brasil, com os tempos atuais, de reconstrução das esquerdas brasileiras comprometidas de fato com as lutas anticapitalistas e anti-imperialistas e com a alternativa socialista.
Nas palavras de José Paulo Netto, autor do prefácio desta edição da obra, impresso na orelha do livro: “Dênis de Moraes, nestas páginas em que o talento do escritor dá as mãos à argúcia do jornalista que investiga, nos oferece a prova decisiva da validez do antigo juízo de Mário de Andrade: a história não é exemplo, é lição.”