A grande derrota de Trump na Venezuela
Carlos Aznárez
Resumen Latinoamericano
O mais importante que ocorreu no domingo, 20 de maio, é que vencendo ameaças de todo tipo, o povo venezuelano outra vez saiu para votar e impôs democraticamente e à vista de centenas de observadores eleitorais a esperada reeleição de Nicolás Maduro. Esse detalhe precisamente, o da renovada prática de defender a soberania popular com uma urna como arma, é a que a partir do não muito distante dezembro de 1998 vem colocando os sucessivos governos estadunidenses a beira da histeria.
Percorrendo os centros eleitorais e conversando desde cedo com aqueles que, ao soar da lembrança do chamado chavista, se enfileiravam para depositar seu voto, é que pudemos escutar, em Caracas e seus arredores, razões que logo explicariam o triunfo. A paz era uma delas, porém formulada não como um recurso formal, mas como uma mostra de cansaço: “que nos deixem em paz, que não condicionem nosso futuro com ameaças”, nos disse um jovem em um colégio de Catia. Horas depois, em outro centro do Estado de Vargas, a expressão se repetia em um “eu apoio (me jogo) com Maduro porque esta Revolução é nossa esperança”. Próximo dali uma concentração de vizinhas e vizinhos dançavam, comiam uns doces e contavam a quem quisesse escutar que “esse bairro que você vê aqui foi feito pelo comandante Chávez e aquele mais para lá foi entregue pelo presidente operário”. Falavam de edifícios impecáveis com todas as instalações funcionando, e que são parte das 2 milhões de habitações que a Revolução construiu para os mais necessitados. Ao dar-se conta que alguns dos visitantes eram procedentes da Argentina, uma mulher já de idade avançada, nos abraçou e gritou para que ficasse claro uma coisa: “Se vocês precisarem de ajuda para tirar esse Macri, nos avisem. Aqui nós todos temos os pés fincados na terra”. Existia gosto no povo daquele lugar, que embora com a temperatura opressora, não se movia porque estavam esperando o anúncio do Conselho Nacional Eleitoral proclamando a ansiada vitória.
Mais tarde, em outro bairro de Caracas, as respostas continuavam acumulando razões: “Eu voto contra Trump e contra esses do Grupo de Lima”, esclareceu um estudante de medicina, que em seguida acrescentou com um: “o que gostamos e o que não gostamos deste governo nós vamos decidir e não um ianque milionário ou esses europeus que não têm nada que fazer aqui”. Testemunhos de insatisfação contra tanta ingerência, vozes dignas dispostas a defender o conquistado, expressões de agradecimento para aqueles que chegaram para confirmar que na Venezuela Bolivariana o legado de Hugo Chávez está intacto na fidelidade de seu povo.
Logo vieram os resultados e, em meio aos foguetes lançados ao ar ou à ovação carinhosa até as lágrimas para saudar o novo presidente em frente ao Palácio Miraflores, a oposição e seus “protetores” internacionais colocavam em marcha um plano que estava no papel há bastante tempo. Os chamados “democratas” arremetiam com mais sanções econômicas, com gritos desequilibrados que cantavam fraude (inclusive antes de se saber os resultados, como fez o candidato Henry Falcón) ou com artigos venenosos na maioria da imprensa mundial hegemônica. A mais obscena de toda uma série de agravos pode ser lida na imprensa argentina assinalando: “Uma organização criminosa venceu as eleições venezuelanas” e assim outros múltiplos epítetos.
O certo é que o império e seus capangas dos governos direitistas do continente não puderam suportar esta vitória heroica, surgida das entranhas de um povo que padece necessidades, porém não se quebra ante elas e tirando forças de sua própria memória de luta, converte em luminosos até os mais obscuros cenários.
Agora virão os apertos, as expulsões de embaixadores, as conspirações para isolar ainda mais um país cujo único pecado foi querer a felicidade de sua gente e cometer a ousadia de mostrar-se como exemplo ao resto ou recordar a si próprios e aos estrangeiros que as grandes façanhas custam sacrifício. Querer chegar a viver em uma sociedade socialista em pleno avanço político, econômico e militar do neoliberalismo é o maior desafio que se pode fazer àqueles em Washington, Miami ou Madri, que acreditam que a vida de um homem ou uma mulher se compra e se vende como em um mercado.
Agora soarão todas as sirenes de alarme em terras latino-americanas e será necessário redobrar a solidariedade internacionalista, da mesma maneira que se fez quando Cuba foi expulsa da OEA e quiseram isolá-la de seus irmãos da região. Igualmente como naquela ocasião, os povos deverão gestar um acúmulo de ações fraternas para abraçar a Pátria de Bolívar, demonstrando a Trump que suas ameaças podem incendiar a pradaria e que, como ocorreu em outras épocas, a paciência tem limite. É certo que existem colaboracionistas e alcaguetes que amparam essas políticas agressoras, que ao calor de tanta ingerência chegam a meter medo no corpo de alguns políticos que se dizem “progressistas” e que em suas campanhas eleitorais (como ocorre na Colômbia e no México) aderem ao Grupo de Lima e desconhecem a vitória de Maduro ou não querem mencionar o nome do país agredido porque seus assessores ou eles mesmos consideram que “tira votos”. São pobres de alma esses personagens, aos quais o império despreza e não serão salvos de seus ataques. Porém, também existe em cada um de nossos países, operários, estudantes, camponeses que admiram todo o feito por Chávez e o que hoje representa Maduro. Gente com pé no chão, que sabe que desejar o impossível custa muito e não se arrepende de ser como é. Eles e elas, precisamente, são os que não entram em discussões sobre porcentagens de participação eleitoral ou se o Maduro “não é como Chávez”, como costumam fazer alguns sabichões da política de “esquerda”. Para essas pessoas de coração sensível e decisão quase militante (ou sem o “quase”), o mais impressionante que ocorreu agora é “ganhou Maduro” e “os ianques que se explodam”. Estão certos. Como no esporte, ganhar se ganha ganhando. O resto será discutido no calor das mil batalhas que serão travadas a partir de agora.
Fonte: http://www.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)