IMPORTÂNCIA E NECESSIDADE DA FRENTE NACIONAL DE RESISTÊNCIA POPULAR

519 anos de resistência na América Latina

Depois de um século de bipartidarismo político, o povo continua herdando o sofrimento, a fome e a exclusão. São as mesmas famílias que herdam a pobreza e a miséria. São avôs e avós, pais e mães, filhos e filhas de mesmo sobrenome estão cada vez mais pobres e sofrem mais humilhações, desterros e mortes pela falta de condições sociais e econômicas num país que vem sendo governado pelas mesmas poucas famílias. Famílias essas que enriquecem cada vez mais, explorando o trabalho de operários (as), campesinos (as) e profissionais que, diariamente, aspiram uma vida digna.

Aqueles que administram o Estado colocam suas instituições a serviço dos seus grupos econômicos, militares, políticos e religiosos. Alinhados com o império norte-americano, com a cumplicidade europeia, com os países asiáticos do primeiro mundo e em conluio com os carteis do narcotráfico, condenam a maior parte da população hondurenha a viver esfomeada, humilhada, insegura e à beira da morte. Nós hondurenhos e hondurenhas sentimos que nossa pátria está distante, pois 15% da população da população emigrou para outros países. E o êxodo continua, apesar das incertezas nos países receptores. Constantemente somos assaltados pela tentação de responder com violência tanta desesperança.

Ainda que os grupos do setor dominante saiam fortalecidos depois de mais de dois anos do Golpe de Estado de junho de 2009, hoje retornam a sua eterna divisão, a mesma que se caracteriza pela disputa dos recursos estatais e/ ou por fazer prevalecer o controle do Estado por parte dos distintos grupos de poder.  Neste momento, os grupos econômicos que historicamente saqueiam nosso país, disputam o uso e o abuso dos recursos naturais de Honduras. Os rios, os minerais, as terras, os lagos, as lagoas, as praias, as ilhas e os bosques são os novos objetivos da classe dominante. O território nacional continua sendo saqueado sem se importarem com a deterioração da vida dos habitantes deste país.

As empresas transnacionais, os bancos e os organismos internacionais avalizam tais atos com suas estratégias ou são testemunhas cúmplices deste holocausto que pretende exterminar, no menor tempo possível, a reserva de dignidade existente na população hondurenha.

A inconformidade da população com os resultados do modelo neoliberal e do sistema capitalista, único conhecido por Honduras, é demonstrada com a espontânea adesão ao projeto de refundação da Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP). Um projeto que ainda não alcançou clareza suficiente, porém que se apresenta como uma alternativa ao vivenciado até hoje pelo povo hondurenho.

O PCH considera que não existe forma de realizar ações de transformação econômica e social em Honduras sem ter o poder político da república. A obtenção do poder político só será possível mediante a devida articulação do povo, que se recusa a morrer sem lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. No presente momento dessa articulação, a FNRP deverá conduzir o povo à tomada do poder político, definida pela criação de um braço político, o Partido pela Libertação e pela Refundação (P-LIBRE).

A FNRP se converteu no legítimo condutor das aspirações do povo hondurenho. Na FNRP residem as esperanças e os anseios das maiorias sempre excluídas pelos grupos de poder. Por esta tarefa recebida é que a FNRP, em sua condição, possui algumas responsabilidades de que não é possível esquivar-se sem afetar fortemente sua legitimidade.

Seguem as principais responsabilidades da condução nacional da FNRP, conforme a visão do PCH:

FORTALECECIMENTO DA FNRP

O povo, organizado ou não, legitima e reconhece apenas a Frente Nacional de Resistência Popular como a força social e política capaz de realizar transformações sociais, econômicas e culturais que tragam o bem-estar para as maiorias empobrecidas em Honduras. Tentar desconhecer esta realidade seria tão míope como desconhecer a liderança do atual coordenador da FNRP.

Existem várias maneiras, complementares entre si, que podem contribuir com o fortalecimento da FNRP: a democratização interna, a tolerância de ideias, a consolidação de uma proposta de desenvolvimento para Honduras, a definição de um programa político e a consecução de uma nova sociedade hondurenha. Estes são alguns dos elementos fundamentais para o fortalecimento da FNRP.

A democratização interna deve ser uma aspiração constante, não só dos grupos ou tendências opositoras à atual condução da FNRP, mas também da mesma condução nacional. Deve entender-se que os tempos atuais reclamam a democracia como prática de qualquer articulação, especialmente a política, no mundo inteiro. Recorrer a práticas autoritárias só criará como produto algumas medidas ditatoriais que, mais cedo ou mais tarde, estabelecerão um divórcio entre dirigentes e dirigidos.

Uma maneira de contribuir com a democratização da FNRP pode ser a realização de um inventário de todas as forças que se declararam em resistência durante estes dois anos. Além disso, devemos reconhecer as forças emergentes que lutam contra o modelo e o sistema que retarda a libertação e a refundação de Honduras. Deve-se reconhecer que alguns dos agrupamentos dissidentes da FNRP não tiveram lugar no jogo democrático interno.

Necessitamos tolerar as ideias contrárias para alcançar o crescimento no conhecimento, porém também para aprender a envolver e a não excluir as pessoas e os agrupamentos. Sobretudo, é importante escutar novas propostas, ainda que não sejam as nossas, para aprender a dar soluções pertinentes às pessoas, famílias e comunidades que se encontram desesperadas por sua situação social e econômica. Só desta maneira estaremos criando uma escola que prime pela tolerância, por escutar, pelo conhecimento e pela sabedoria, elementos que nos farão governar de forma distinta como fazem os lacaios do império.

Com o intuito de enriquecer a FNRP, deveria ser criado um Conselho Consultivo que assessore a condução da frente e uma Assembleia para definir aspectos de estratégia política. Este conselho poderia ser criado com a participação de todas as forças organizadas durante o período de resistência e elaborar o Programa Político da FNRP para que seja aprovado pela Assembleia e executado pela direção nacional da FNRP.

É muito provável que várias organizações do FNRP suspeitem da estratégia política eleitoral por algumas experiências políticas passadas, que terminaram legitimando a classe dominante, e porque não é um segredo para ninguém que a decisão da criação do braço político da FNRP não foi tomada somente pela coordenação nacional de maneira autônoma.

Com base no citado anteriormente, essa única suspeita não é suficiente para tentar deslegitimar a criação do P-LIBRE como estratégia política eleitoral. O que poderia afetar negativamente o P-LIBRE e ainda mais a FNRP é a falta de democracia e outras manhas dos partidos tradicionais para impor candidaturas a cargos de eleição popular. O povo em resistência não só anseia bem-estar e um novo país, mas também espera que seus mais legítimos líderes participem da tomada de decisões e dos cargos de eleição popular.

O PRINCÍPIO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS

Assim como o povo e o governo cubano que não esquecem seus 5 herois, mesmo depois de 13 anos de prisão, nós resistentes hondurenhos não podemos esquecer o sangue derramado de mais de uma centena de companheiras e companheiros, que caíram por terem ideias distintas ao neoliberalismo, ao sistema capitalista e por sonharem com uma Honduras melhor.

Em tal sentido, é necessário que continuemos revivendo o pensamento daqueles que caíram na luta, porém também URGE que a FNRP produza ferramentas e estratégias de defesa dos Direitos Humanos. Esses direitos, civis, políticos, sociais, econômicos e culturais, devem ser exercidos efetivamente, pois os grupos de poder oligárquico continuarão violando-os e não descansarão até impor sua vontade a todo o povo em resistência, ainda que seja a custa de seu desgaste internacional, tal e como demonstraram nos últimos 27 meses.

Distanciar-nos da defesa dos direitos, do protesto permanente, distanciar-nos dos espaços de defesa da vida, da alimentação, do trabalho, do território, de nossos povos originários, da diversidade, seria como renunciar ao povo. Somente a defesa do povo pode manter o povo em resistência.

Tegucigalpa, outubro de 2011

Até a Vitória Sempre!

Partido Comunista de Honduras

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Categoria