“O governo de Washington está dirigindo as ações contra a Venezuela”

imagemA análise de James Petras, 6 de agosto de 2018.

Em sua coluna semanal de análise internacional, a partir dos EUA, em diálogo com a Radio Centenário, o sociólogo e pesquisador estadunidense abordou a situação na Venezuela, o conflito interno nos EUA entre governos estaduais e o de Trump pelo controle da emissão de gases contaminantes e as diferenças com a UE pelas sanções ao Irã entre outros temas.

A seguir, transcrevemos a análise que você poderá voltar a escutar aqui: https://www.ivoox.com//james-petras-cx-36-6-8-audios-mp3_rf_27615503_1.html

Diego Martínez: Vamos ao contato com Petras, bem-vindo. Bom dia, Petras! Como está?

James Petras: Estou bem, esperando a chamada como sempre.

DM: Bom, Petras. Hoje vamos diretamente a um dos temas, sem dúvida, deste momento da agenda a nível internacional, a nível mundial, que é o atentado realizado na Venezuela com a tentativa de assassinato de Nicolás Maduro. Conte um pouco qual a análise feita a partir de sua ótica.

JP: É algo já recorrente o fato de que os Estados Unidos e seus satélites estão preparando um golpe, porém esses são preliminares, não é a última carta que estão jogando.

Os drones e os levantes anteriores são uma forma experimental de ver em quê grau poderiam dividir ou intimidar o povo, os militares e os afiliados do governo.

O fato de que utilizaram um drone e atacaram uma marcha, é uma provocação de alto nível porque já está atacando diretamente as forças militares em uma grande manifestação de visibilidade.

Uma coisa é atacar o governo na rua, outra coisa é atacar o presidente do país e todas as suas equipes mais os comandantes em chefe do exército. Porém, é uma coisa que devemos perguntar, por que o presidente Maduro dirige as críticas aos opositores internos e aos colombianos, principalmente ao ex-presidente ou presidente temporário Santos?

É evidente que o governo de Washington está dirigindo estas ações no passado e na atualidade.

É um movimento evidente com o apoio da OEA e com Luis Almagro preparado com antecipação, com as denúncias e esforços para preparar o clima político. Neste sentido, é um avanço de denúncias de Almagro à ação dos cipaios e agora o próximo ataque é de Washington.

Porém, Washington necessita encontrar um clima propício, não vão mandar tropas à Venezuela e encontrar uma guerra prolongada, uma resistência forte. Quer encontrar apoiadores de dentro, tanto militares como forças para militares.

E esse ataque com os drones, a princípio, aparentemente não era exitoso, porém poderia apresentar um quadro da dispersão dos militares correndo da marcha, aparentemente abandonando o presidente, segundo as fotografias que vimos.

E isso pode estimula-los a tentar repetir as ações. No momento não conseguem nenhum apoio, porém obviamente é um sinal aos militares de que eles também são alvos de ataque se não colaborarem e traírem o governo.

DM: Bem, existiram repercussões a nível mundial, diversas, nos Estados Unidos com uma ótica bastante particular que também tentou gerar agenda, suponho.

JP: Bom, não sei. Nos Estados Unidos existe uma luta na classe política entre as duas oligarquias: os meios de comunicação 100% contra Trump e Trump com seus seguidores e partidários. Isso ocupa a classe política mais que o que está ocorrendo em qualquer parte do mundo. Eu acredito que Trump está buscando uma forma de desprestigiar os meios de comunicação que são seus adversários, evidentemente. Os opositores buscam alguma forma de desprestigiar Trump a partir de escândalos pessoais, de testemunhos com a Rússia e outras coisas mais. E, talvez, estimular algumas medidas judiciais contra Trump.

Por esta razão, os meios de comunicação que dariam alguma publicidade aos acontecimentos na Venezuela, pelo fato de que não teve sucesso, de que falhou a tentativa, é uma razão para que eles não possam apresenta-lo com mais publicidade.

No que resta dos meios daqui, todos inventam mentiras com a equipe de Trump, dizem ser um autoatentado, dizem que não existe muita evidência de que foi um drone, inventam todo tipo de fabricação para não envolver-se nem a oposição nem o governo. Os opositores do atentado, os que denunciam, são a minoria ativa do que poderíamos chamar de oposição.

E que os liberais, os progressistas aqui são mínimos porque estão envolvidos no conflito com Trump. Então, não se mostram muito afiliados contra o golpe neste momento. Como não tinham grandes resultados no sentido político, na política norte-americana, foi desaparecendo da notícia.

Hernán Salina: Petras, o consultamos acerca de um aspecto interno dos Estados Unidos, que há pouco tempo vimos como notícia: um enfrentamento entre os Estados e o governo federal por um plano de emissões de gases. Ao que tudo indica, ocorreu uma revogação de algumas medidas de eficiência energética, o que gerou a reação de governos estatais a respeito do governo de Donald Trump pelo plano de emissão de gases.

Que importância isso pode ter? Quanta dimensão de conflitividade pode gerar isto? Estamos falando dessa postura de Trump a respeito de todos estes temas do aquecimento global, por exemplo, não?

JP: Bom, neste sentido existe uma grande maioria que está contra a política de Trump de contaminar o meio ambiente e repudiar o acordo mundial, particularmente na Califórnia, onde existe um fortíssimo movimento a favor de melhorar o ambiente.

Em termos práticos, as principais forças contra a política de Trump estão na Califórnia e Nova York, Nova Inglaterra e outros lugares. Neste sentido, estão colocando obstáculos sobre Trump, principalmente entre a classe política, os Poderes Judiciais e outros instrumentos e instituições oficiais.

No entanto, a opinião pública está contra Trump, porém as grandes empresas petroleiras e alguns setores de automóveis também estão a favor do que está fazendo Trump.

Os sindicatos aqui não servem para nada. São muito minoritários e estão a reboque das empresas que estão tomando posições. Neste sentido, poderíamos dizer que é um forte conflito, porém não se vê nenhuma expressão política no sentido de que os Estados críticos a Trump estejam preparando separar-se da União ou em rebeldia expressiva. Ou seja, não vão tomar medidas extraparlamentares, muito menos estão jogando muito mais a legislação regional e os processos judiciais localizados nos Estados sem resistência.

María de los Ángeles Balparda: Bem, Petras. Somou-se aos temas que nós já tínhamos para falar contigo hoje o atentado que ocorreu na Bolonha, Itália. Atentado não, a explosão que ocorreu. Não sei se você tem algum dado, que destaque pode ter isto. Pelo menos, nós não vimos que uma avaliação sobre o pode ter acontecido.

Um morto e dezenas de feridos…

JP: Não temos muita informação, porém existe um ambiente caloroso agora na Itália, porque os centros anti-imigrantes, os poderes anti-imigrantes no governo, têm uma mescla de apoios. Têm eleitoreiros, têm parlamentares e têm setores extraparlamentares que poderiam utilizar a violência.

Porém, também existem setores que estão fortemente contra estes novos partidos no governo.

Então, não temos claro quem está envolvido nestes ataques e quais são as políticas que os dirigem. Porém, poderíamos dizer que a polarização na Itália está fortíssima agora e à oposição faltam mecanismos parlamentares para frea-los.

Por outro lado, é estimulante para a ultradireita tomar ações porque sentem que tem uma cobertura com os novos governantes.

DM: Bem, Petras, o outro tema que queríamos propor para a conversa é a resolução tomada por parte da União Europeia de não acatar a resolução sanções por parte dos Estados Unidos para o Irã. Isto pode ser compreendido como uma desobediência? Como isto poderia ser entendido?

JP: Os principais apoiadores do Irã neste momento são a China, Rússia e Índia, que declararam que não vão acatar as ordens de Washington. Contudo, a Europa continua muito contraditória. Falam de não apoiar Trump, seguir com o Irã, porém, ao mesmo tempo, não dão nenhuma garantia de que quando as sanções começarem a funcionar, eles irão resistir.

Então, a posição é de muita verborragia da Europa, mas nada garantido para o Irã. Estão olhando o Irã para ver se acontece algo positivo em relação ao funcionamento do boicote e as sanções.

Se o Irã tiver êxito em supera-lo, particularmente com os países de fora da Europa, creio que vão apoiar o Irã.

Porém, se existem limitações, se o Irã cair em conflito e se enfraquecer, é possível que a Europa acate as ordens de Washington. Então, estão à espera, poderiam ir por um lado ou outro, mas não têm uma posição definida como os outros países não europeus.

DM: Bem, Petras. Como sempre, damos a possibilidade de que nos conte sobre alguns outros temas em que esteja trabalhando.

JP: Sim, tocamos no evento da Venezuela. Então, quero abordar três coisas mais.

Primeiro, é a China. Existe muita publicidade nos meios ocidentais sobre a corrupção na China, porém ninguém menciona duas coisas: que a China tem uma campanha anticorrupção, que encarceraram mais de dois milhões de funcionários. Inclusive, os que ocupam os centros de poder, (…), as forças militares. Então, se existe corrupção na China, também existe uma enorme corrupção para limpar o governo e não vimos nenhuma campanha no mundo ocidental do tamanho e extensão que encontramos na China.

Ao mesmo tempo, falam dos multimilionários na China, que é certo, mas não mencionam que atualmente, sob o governo atual, existe uma enorme campanha contra a pobreza obrigando as grandes empresas a financiar povoados inteiros com novas casas, financiando novos trabalhos e empregos nos lugares mais pobres da China.

Então, sim, existem problemas na China como corrupção, porém as anticorrupções são mais efetivas que em qualquer outro país e a campanha contra a pobreza é muito mais ampla e profunda que em qualquer país ocidental.

Segundo ponto, quero mencionar a Nicarágua, onde as ONGs financiadas por Washington com milhões, estão financiando os golpistas mobilizados que estão fazendo o jogo para o império como fizeram na Ucrânia, na Sérvia e Iugoslávia. Utilizam e financiam algumas forças com algumas queixas, porém que não são queixas que necessitam um golpe de Estado.

Eu sou completamente contra o golpismo e as mobilizações que estão aparecendo na Nicarágua, apesar de que ter muitas críticas ao governo e Ortega.

As ONGs são uma fachada, um canal para os Estados Unidos agirem, como que vimos múltiplas vezes em muitas partes do mundo.

E, finalmente, quero mencionar outra coisa sobre os meios de comunicação nos Estados Unidos. Trump está fazendo um excelente trabalho descrevendo os meios de comunicação como falsificadores da notícia do que está acontecendo no mundo. Jamais vimos um presidente que tenha mostrado as mentiras e propaganda. É uma luta entre duas oligarquias que estão lavando a roupa suja para que o mundo todo veja.

Se Trump é um inimigo dos povos do mundo, também os meios estão envolvidos nos grandes enganos do que está ocorrendo em qualquer lugar. As acusações que Trump está fazendo contra as mídias por ataca-lo podem ser multiplicadas por todos os líderes no mundo que sofrem as mentiras e calúnias dos meios de comunicação. CNN, NBC, ABC e todos os demais, enganam e Trump está mostrando a público, utilizando a plataforma para fazê-lo. Sem discutir que o próprio Trump é o chefe dos grandes crimes contra o mundo por sua parte.

Uma coisa final: recebemos notícias há pouco tempo de que no final de semana, em Chicago, 60 pessoas sofreram ferimentos à bala e com algumas dúzias de mortos. Nos Estados Unidos, particularmente em Chicago, é um lugar onde é difícil caminhar na noite. A polícia atira sem perguntar. Vimos centenas de casos todos os dias, onde a polícia está matando cidadãos desarmados ou pessoas com problemas mentais.

Então, temos dois tipos de violência: um entre gangues e outro entre os cidadãos e a polícia.

MAB: Sim, sim, vários mortos e muitos feridos também durante o fim de semana aí, em Chicago.

JP: Sim, 60 pessoas entre sábado e domingo, em uma cidade.

MAB: Exatamente.

Agradecemos muito que nos tenha dado está informação também dos Estados Unidos e ponto de vista, porque viu que não se sabe muito dos Estados Unidos, da informação interna. Assim, valorizamos muito estas suas contribuições, Petras.

Reencontramo-nos na próxima semana…

JP: Bom, um abraço. Até a próxima.

MAB: Até segunda-feira. Um abraço.

Fonte: http://www.radio36.com.uy/entrevistas/2018/08/07/petras.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)