Jornalismo e tortura: uma breve lembrança histórica
Jones Manoel*
Com a instalação da ditadura empresarial-militar no Brasil, o Estado brasileiro aplicou uma política de torturas, perseguições e assassinato em massa de lideranças sindicais, camponesas, comunistas, nacionalistas e intelectuais. Vários intelectuais tiveram que fugir do Brasil para não ser presos e torturados. Contudo, os monopólios de mídia, no geral, não noticiavam a política oficial de tortura ou, quando era impossível esconder a notícia, dava destaque a versões produzidas pela própria ditadura.
O corpo diplomático brasileiro, na época, tinha como missão convencer a “comunidade internacional” de que o Brasil não tinha uma ditadura e que as torturas não existiam. Diplomatas como o famoso liberal brasileiro José Guilherme Merquior participavam de um grande teatro macabro: diziam que os direitos humanos eram plenamente respeitados pelo Brasil em diversos fóruns internacionais.
Vários intelectuais do mundo todo se mobilizavam na defesa de brasileiros perseguidos. Centenas de intelectuais dos EUA, por exemplo, criaram uma campanha de alcance mundial para proteger o historiador Caio Prado Jr. da perseguição. Lideranças religiosas, como Dom Helder Câmara, faziam denúncias no Brasil e no mundo revelando a tortura e recebiam como resposta dos monopólios de mídia a calúnia e a difamação: o jornal Folha de São Paulo tinha um tesão especial em caluniar o religioso.
A imprensa no Brasil entrou numa realidade paralela e era motivo de chacota. Vários exilados brasileiros na Europa faziam uma piada clássica nos anos de 1960: é mais fácil entender o Brasil lendo os jornais de Paris que os de São Paulo.
Mais uma vez a história se repete. Enquanto nos principais monopólios de mídia do mundo, até nos mais reacionários, existe um consenso que Bolsonaro é um político neofascista que representa um atraso civilizacional e que as eleições brasileiras ocorrem numa situação de anormalidade e com ilegalidades cada vez mais flagrantes, nos monopólios de mídia brasileiros tudo se passa na mais bela normalidade. A “festa da democracia” acontece com perfeição.
Todo dia eu lembro que poderíamos ter a Telesur no Brasil sendo o grande contraponto a essa miséria jornalística. Não temos. Lula escolheu deixar a emissora fora do Brasil para agradar os monopólios de mídia, especialmente a Globo.
A fatura da escolha chegou.
*Militante do PCB de Pernambuco