Viva a Revolução Cubana!

imagem60 ANOS DE LUTAS EM DEFESA DA DIGNIDADE DOS POVOS E DO SOCIALISMO CONTRA OS ATAQUES DO IMPERIALISMO

Jornal O Poder Popular n° 37 (edição de janeiro de 2019)

Em janeiro de 1959, o Movimento 26 de Julho derrotou, em Cuba, a ditadura de Fulgêncio Batista. A organização revolucionária originou-se no ataque ao Quartel Moncada, instalação do exército na cidade de Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953. Dois anos depois, no México, exilados cubanos e lutadores internacionalistas se reuniram com o intuito de criar uma guerrilha para derrubar o regime que explorava Cuba com o apoio do imperialismo estadunidense. O movimento tinha em seus quadros um grupo de mais de 80 revolucionários, dentre os quais os irmãos Fidel e Raúl Castro, Ernesto “Che” Guevara, Camilo Cienfuegos e as destemidas Vilma Espín e Celia Sánchez.

Um dos principais líderes da revolução triunfante, Fidel Castro nasceu em 13 de agosto de 1926. Seu pai, Ángel Castro y Argiz, imigrante galego radicado em Cuba, havia se tornado um bem-sucedido produtor de cana-de-açúcar da Província do Oriente. Em 1945, Fidel começou a estudar Direito na Universidade de Havana, onde se envolveu com o movimento estudantil, iniciando sua trajetória política de combate ao imperialismo e à intervenção dos Estados Unidos no Caribe.

O ASSALTO AO QUARTEL DE MONCADA

Fulgêncio Batista, apoiado pela oligarquia cubana e o imperialismo estadunidense, tornou-se um ditador sanguinário. As condições de vida da população eram degradantes: pobreza generalizada, desemprego, fome, miséria, analfabetismo eram as consequências de o país ser cada vez mais dependente dos interesses dos oligopólios norte-americanos. O país foi praticamente ocupado pelo Império, que se apropriava de todos os bens e riquezas, desfrutando de tudo que havia de melhor na Ilha: residências, praias e tudo mais que o dinheiro podia comprar.

No dia 26 de julho de 1953, correu a notícia de que um grupo de jovens, revoltado com o despotismo e a violência de mais um ditador corrupto, haviam tentado invadir os quartéis Moncada e Bayamo, para se apoderar das armas e iniciar uma luta sem tréguas em nome da Liberdade e da Justiça e da verdadeira Independência do povo cubano.

Os jovens rebelados não conseguiram seu intento, mas o movimento se revestiu de grande significado simbólico para a Revolução Cubana. Em 1955, Fidel e outros companheiros fundaram o Movimento 26 de Julho, de caráter clandestino e revolucionário. O grupo decidiu refugiar-se no México e aí organizar e preparar a revolução. Foi no México que Fidel conheceu “Che” Guevara e ambos se deram conta da convergência de pensamentos e ideias, o que foi decisivo para a luta revolucionária.

DA AVENTURA COM O GRANMA A SIERRA MAESTRA

Após meses de treinamento guerrilheiro, em novembro de 1956, com pouco menos de 100 homens, Fidel decidiu que era hora de voltar a Cuba. Depois de algumas tentativas para comprar um barco em condições de funcionamento e tamanho suficientes para comportar a totalidade do grupo, o único cujo preço correspondia às finanças do grupo foi o Granma, que estava em reparo.

O barco não poderia abrigar mais do que 12 pessoas com comodidade, mas 82 homens foram empilhados nele, com armas e comida insuficientes. A travessia foi um tormento, e o desembarque foi um fiasco! Che Guevara comentaria mais tarde: “O navio adquiriu um aspecto ridículo e trágico ao mesmo tempo. (…) Aquilo não foi um desembarque, foi um naufrágio”.

Os guerrilheiros foram atacados pelas tropas de Batista. Acampados na floresta, Fidel e seus homens fugiram e se embrenharam nos canaviais em direção à mata fechada de Sierra Maestra. A maioria foi assassinada, e os poucos sobreviventes se dispersaram. Em Sierra Maestra, os revolucionários começaram a montagem de um quartel na selva e passaram a refazer contatos com os companheiros nas cidades, em especial Frank País, o líder urbano do Movimento 26 de Julho.

Com a ajuda do braço urbano do Movimento 26 de Julho, Fidel pôde organizar a guerrilha rural, recebendo reforços de rebeldes recrutados nas cidades. Em maio de 1957, houve o primeiro ataque rebelde de sucesso ao posto militar de El Uvero. Foi nesta batalha que Che Guevara demonstrou ser mais do que médico, participando ativamente do cerco armado e atendendo a todos os feridos, de ambos os lados. Foi então promovido de médico de tropas a comandante.

COMANDANTE CHE GUEVARA

Ernesto Guevara de la Serna, que tivera uma infância de frágil saúde por causa da asma crônica, tornou-se um lutador independente e determinado. Praticou esportes e estudou medicina. Realizou viagens pela América Latina, que o ajudaram a saber de que lado estar e na defesa de quem dedicar seu pensamento político.

Ernesto viu cair a Guatemala do presidente Jacobo Arbenz (1951-1954), abatido por um golpe de estado planejado e financiado pela CIA, interessou-se pela Revolução do Paraguai, visitou a Bolívia e outros países da região. No México, conheceu os revolucionários cubanos, com os quais partiu no iate Granma rumo ao combate na Ilha. Lutou em Sierra Maestra e se tornou Comandante. Transformou-se em Che, um chefe revolucionário, adepto de uma disciplina extraordinariamente rígida.

Em Sierra Maestra já se encontravam 300 homens no início de 1958. Ampliava-se o espaço sob domínio rebelde, que Fidel chamou de “Território de Cuba Libre”. O apoio camponês era cada vez maior e aumentava na medida em que os revolucionários promoviam a Reforma Agrária nos territórios conquistados, construíam oficinas, hospitais, escolas para alfabetizar a população e pressionavam os donos de engenhos de açúcar para aumentar o pagamento dos empregados. Uma rádio clandestina foi montada – a Rádio Rebelde – que transmitia direto de Sierra Maestra.

A situação de Batista ficou insustentável. Os Estados Unidos suspenderam a remessa de armas para a Ilha. Várias organizações comerciais, ao verem que até os EUA estavam abandonando Batista, começaram a pedir sua renúncia. Em abril, os oposicionistas urbanos conclamavam todos a uma greve geral, que acabou tendo o apoio de Fidel, que lançou outro Manifesto: “Guerra Total Contra a Tirania”.

Batista preparou uma megaoperação com 10 mil soldados que se dirigiram, com tanques e carros blindados, para Sierra Maestra. A ofensiva durou dois meses, com os rebeldes de Fidel resistindo bravamente até que chegassem reforços de outras frentes. Apesar da vantagem numérica e do maior poderio bélico, os soldados de Batista não estavam preparados para enfrentar o terreno irregular e a selva fechada, que os obrigava a moverem-se lentamente.

A REVOLUÇÃO VITORIOSA

As colunas planejadas por Fidel foram tomando as principais cidades e guarnições militares do país: Oriente, Las Villas, Guisa de Miranda, Santa Clara. Só quando Che e seus homens tomaram Santa Clara, reduto final de Batista, foi que o general-ditador percebeu que tudo estava perdido. Na madrugada de 1959, Fulgêncio Batista fugiu de avião para a República Dominicana.

Quando, no dia 1º de janeiro de 1959, correu a notícia da vitória dos revolucionários capitaneados por Fidel e a fuga de Fulgêncio Batista, a população ocupou ruas e praças, gritando o jargão: “Se fué” (Ele partiu). Nos apartamentos, nas casas, nos logradouros comerciais, era uma única festa. Os revolucionários entraram triunfantes em Havana, sem qualquer resistência militar.

Em 8 de janeiro de 1959, em Ciudad Libertad, Fidel pronunciava um vibrante discurso para uma imensa multidão: “A tirania foi derrotada. A alegria é imensa. Contudo, há muito por fazer. Não nos enganemos que adiante tudo será fácil; possivelmente adiante tudo será mais difícil”. E dizia: “Quando vou falar das colunas, quando vou falar das frentes de combate, quando vou falar de tropas mais ou menos numerosas, eu sempre penso: tenho aqui nossa mais firme coluna, nossa melhor tropa, a única tropa que é capaz de ganhar a guerra. Essa tropa é o povo”.

O novo governo passou a executar o programa do Movimento 26 de Julho, promovendo aumento de salários e redução das tarifas de energia elétrica e telefone. A reforma agrária, proclamada em maio de 1959, expropriou os latifúndios e inúmeras propriedades de empresas estadunidenses para beneficiar os trabalhadores rurais sem-terra.

A Revolução trouxe enormes conquistas para a maioria da população. O investimento constante na educação garantiu que a média da população tivesse um grau elevado de escolaridade e praticamente não há analfabetos em Cuba. Na saúde, desenvolveu-se o atendimento público universal de qualidade, com a implantação do sistema de saúde familiar e comunitária.

A tenacidade e o enorme humanismo do revolucionário povo cubano, postos à prova muitas vezes (como no chamado período especial, durante os anos 1990, após o fim da URSS), são os principais insumos para a renovação do imaginário revolucionário cubano, na longa transição cubana ao socialismo.

A solidariedade do governo e do povo cubano foi um combustível a mais nas lutas de libertação nacional no continente africano e na exportação de seus modelos de educação e saúde públicas. A experiência do socialismo cubano constituiu a principal trincheira de resistência nos tempos atuais, servindo de exemplo e farol para milhões de trabalhadores em todo o mundo. Até a vitória! Sempre!

(Resumo do texto inserido na Agenda 2019 da Fundação Dinarco Reis, baseado no artigo de Zuleide Faria de Mello, disponível na íntegra em https://fdinarcoreis.org.br/fdr/2012/03/23/a-revolucao-cubana/)

Foto: Ricardo López Hevia – Granma

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