Índia: a necessária reunificação do movimento comunista

imagemSudhakar Reddy – Partido Comunista da Índia

A reunificação do movimento comunista na Índia é essencial para deter a marcha do fascista RSS-BJP (aliança de direita, unindo o Rashtriya Swayamsevak Sangh – Partido Patriótico Nacional – e o Bharatiya Janata Party – Partido do Povo Indiano) e a ofensiva direitista em todos os aspectos da vida humana em nosso país. Isso pode aumentar a unidade das forças democráticas seculares no país que, juntamente com a esquerda unificada, podem desempenhar um papel decisivo nos próximos dias, com Narendra Modi e o BJP de volta ao poder com maioria ampliada. A convocação nesse sentido foi dada na reunião de dois dias da Executiva Nacional do Partido realizada na sua sede central, Ajoy Bhavan, Nova Delhi, em 27 e 28 de maio de 2019.

A reunião que discutiu em detalhes os resultados da Eleição Geral de 2019 e o desempenho do partido chegou à conclusão de que a derrota da esquerda na eleição é um revés muito grande e resultou em um desafio sem precedentes para o nosso partido. Nosso partido só conseguiu obter a representação de Tamil Nadu em entendimento com o DMK (Dravida Munnetra Kazhagam, partido existente no Estado de Tamil Nadu, nascido a partir de uma dissidência do antigo Partido da Justiça), sob a liderança de M K Stalin. O Partido Comunista Indiano (Maoísta) também teve a seu crédito um número igual de dois assentos de Tamil Nadu e um assento de Kerala. Toda a esquerda está reduzida a cinco assentos no novo Parlamento, que é a menor representação da esquerda desde a independência.

O quadro e as fileiras de esquerda estão naturalmente desapontados e infelizes. Embora a vitória e a derrota sejam normais nas eleições, a perda de votos em grande parte abalou não só o partido inteiro, mas até mesmo nossos apoiadores e simpatizantes. É motivo de grande preocupação que a erosão da votação tradicional da esquerda seja muito alta em Bengala Ocidental e uma grande parte dela tenha ido para o BJP. É muito alarmante. O voto da esquerda foi reduzido de 25% para 7% em Bengala. Em Kerala, enquanto a UDF (United Democratic Front – Frente de União Democrática) obteve 39%, a LDF (Left Democratic Front – Frente Democrática de esquerda) obteve 27%, o que também é uma grande derrota. O aspecto mais perturbador é o fato de estarmos perdendo representação em estado após estado, exceto em Kerala e Bengala. No total, o PCI obteve 35,76184 votos, o que é inferior aos 42,00,000 votos de 2014.

A Executiva Nacional do PCI também alertou que a marginalização da esquerda terá consequências muito negativas no país. É verdade que as organizações de massa da esquerda têm grande adesão com ampla participação e atividades regulares. O partido e as organizações de massa são ativos e estão organizando muitas agitações e lutas mobilizando milhões de pessoas. Mas estas não são politizadas o suficiente e seus votos não são automaticamente transferidos para os candidatos da esquerda. A situação política é adversa com o movimento de esquerda encolhendo. Isso enfraquecerá a voz da classe trabalhadora, dos agricultores e dos oprimidos dentro do Parlamento. O recrutamento da geração mais jovem para a liderança e as fileiras do partido precisa de atenção especial. Temos que fazer uma tentativa séria de reorganizar o partido com rostos novos e mais jovens, juntamente com atividades massivas e militantes.

Há críticas à liderança por seu fracasso em revitalizar o partido. Aceitando a justa crítica, a reunião decidiu rever cuidadosamente o que deu errado com o partido. Decidiu também convocar uma reunião do Conselho Nacional do Partido em 19, 20 e 21 de julho de 2019 em Nova Delhi e ordenou que todos os conselhos estaduais tivessem reuniões de balanço detalhadas.

Também foi apontado na reunião que havia discrepâncias no grande número de distritos eleitorais em Uttar Pradesh, Haryana e Bihar nos votos pesquisados nas EVMs (urnas eleitorais eletrônicas) e os votos contados indicando a adição de milhares de votos fantasmas. Isso aconteceu também no distrito eleitoral de Begusarai. A diferença de votos é maior do que a margem de vitória numa jurisdição. A reunião aprovou que se exija da Comissão Eleitoral explicação de como tal discrepância ocorreu. Três ex-comissários eleitorais solicitaram à ECI (Comissão Eleitoral) que respondesse a esse contratempo. Certamente isso faz com que as EVMs sejam controversas.

Nosso Partido disputou 49 cadeiras em todo o país, exceto Delhi, Pondicherry, Goa, Himachal Pradesh, Meghalaya, Uttarakhand e Andaman e Nicobar, embora existam unidades do partido nesses locais. Houve um erro técnico na nomeação do nosso candidato em Meghalaya, que teve de retirar a indicação. Delhi, Goa, Himachal Pradesh, Uttarakhand manifestaram incapacidade de participar das eleições. Deveriam ter disputado as eleições para fazer propaganda política do partido. Participar das eleições é também uma forma de atuação política.

Há um ano ou mais temos apelado a todas as forças e partidos seculares e democráticos para se unirem a fim de derrotar o BJP. Embora muitos partidos também tenham expressado esse desejo, na prática esses entendimentos fracassaram miseravelmente devido a pequenos interesses mesquinhos de líderes e grupos. Apesar das tentativas amplas de entendimento entre partidos seculares e de esquerda, elas não tiveram sucesso em muitos estados. Nos bastidores da derrota do BJP em Rajasthan, Madhya Pradesh e Chhattisgarh nas eleições para a assembleia e nas eleições para o parlamento, o fracasso da união causou uma grande decepção. Houve confusão, pois não havia um método uniforme de entendimento entre os partidos seculares, exceto em Taamil Nadu, que produziu bons resultados. Houve um entendimento entre o PCI, o PCI (Maoísta) e o PCI (Marxista-Leninista) em geral, exceto em Assam e Punjab. Com exceção de uma cadeira em Assam, não houve disputa entre os partidos de esquerda. Parabenizamos o conselho estadual de Tamil Nadu e nossos dois deputados Subbarayan e Selvaraj.

A reunião apontou que a decisão de Rahul Gandhi de disputar Wayanad contra o candidato do PCI foi um grande erro político. Ele enviou um sinal errado. A esquerda deve promover a unidade democrática secular para lutar contra a frente do NDA (National Democratic Alliance – Aliança Democrática Nacional, coalizão de direita). As pessoas estavam confusas e não apreciavam a disputa de Rahul contra a esquerda. Todos estes votaram a favor do BJP, que estava enfrentando anti-incumbência aliada à impopularidade, devido ao seu fracasso na implementação de suas promessas sobre emprego, preços e por ter trazido dinheiro sujo. O BJP subitamente se beneficiou com o ataque de Pulwama contra soldados indianos por terroristas. A greve cirúrgica nos campos de terror no Paquistão não apenas salvou o governo do BJP de seu fracasso em Pulwama, mas também ajudou a angariar o pseudonacionalismo. Isso os ajudou sobremaneira nos estados do norte, leste e oeste.

Como o governo NDA liderado por Narendra Modi está pronto para assumir seu segundo mandato com uma sensação de arrogância, o pior sofredor será a nossa economia, que já está em crise. As duras realidades que levarão a uma turbulência econômica nos próximos dias serão o crescimento do desemprego, o investimento cada vez menor, a queda do poder de compra do consumidor, o agravamento da crise agrícola, o crescimento dos NPAs etc. Se a experiência dos últimos cinco anos de RSS -BJP controlado pelo regime Modi, todas as tentativas serão feitas para empurrar a economia ainda mais para a direita. Não é necessário esperar reformas do governo que favoreçam o povo, o que deve ficar evidente no orçamento geral que será apresentado em breve. Há todos os motivos para acreditar que eles tentarão derrubar governos democráticos nos estados e atacar a Constituição.

Duplicar a renda dos agricultores até 2022 – a meta declarada de Modi – parece indescritível. O setor de micros, pequenas e médias empresas (MPME) ainda não se recuperou totalmente da desmonetarização e implementação do Imposto sobre Bens e Serviços (GST). Também não estamos nem perto do crescimento de dois dígitos que um país desse tamanho e a população precisam. Para o ano financeiro de 2018-19 como um todo, o crescimento do Índice de Produção Industrial ficou em 3,6%, muito abaixo dos 4,4% registrados no exercício anterior.

A esquerda tem que se unir e construir um movimento de resistência. A derrota nas eleições não é a derrota de tudo. As lutas fora do Parlamento têm que continuar massivas e militantes. As forças democráticas, de esquerda e seculares devem se unir para continuar a luta. Marchemos em frente!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: https://www.solidnet.org/article/CP-of-India-Re-unification-of-Communist-Movement-Is-Need-of-the-Hour/

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