Índia: milhões de trabalhadores em greve
Mobilização em Khammam, no estado de Telangana, no contexto da greve geral de 26 de Novembro Créditos / AIKS
AbrilAbril
Mais de 250 milhões de trabalhadores participaram da greve geral convocada em protesto contra as políticas do governo de Modi, em que se incluem pesados ataques à legislação trabalhista e a privatização do setor público.
A jornada de protesto da última quinta-feira (26/11), convocada por diversos sindicatos, teve uma «resposta imensa» em todo o país, com forte adesão à greve geral dos trabalhadores portuários e mineiros, das telecomunicações e energia, dos transportes, construção e produção de aço, bem como dos funcionários públicos, dos trabalhadores dos bancos, dos seguros e do setor informal, segundo revelou o Partido Comunista da Índia (Marxista) numa nota de imprensa.
Também o fizeram, em grande escala, os trabalhadores agrícolas, que, representados por mais de 300 organizações, prolongam o protesto na sexta-feira (27/11), em coordenação com as centrais sindicais.
Num comunicado em que saudou as centenas de milhões de trabalhadores e agricultores indianos, por terem erguido de forma unitária a sua voz, a Central de Sindicatos Indianos (CITU, na sigla em inglês) afirmou que «a atmosfera em vários estados, incluindo Kerala, Bengala Ocidental, Tripura, entre outros, era de paralisação total, com os transportes parados e as fábricas, as lojas, os escritórios e outros estabelecimentos comerciais apresentando um ar deserto».
A greve geral foi também um êxito nos estados de Assam, Karnataka, Bihar, entre outros.
Repressão e tentativa de intimidação
Tanto o PCI (M) quanto a CITU, que lhe é associada, denunciaram com veemência a forte repressão exercida sobre os trabalhadores pelo governo central e em nível local, sobretudo nos estados governados pelo Partido do Povo Indiano (BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi).
Em Déli, a Polícia ergueu barreiras nas autoestradas para impedir a marcha dos agricultores e, conforme acusa a CITU, prendeu centenas de agricultores e dirigentes sindicais, como forma de intimidação. No estado de Tripura, a polícia e seus «brutamontes», com o apoio tácito do governo local, tentaram forçar lojas a abrir e atacaram escritórios de sindicatos e partidos de esquerda.
Ainda de acordo com a CITU, em todo o país foram presos cerca de 700 trabalhadores da construção e vários dirigentes sindicais foram «detidos preventivamente» no estado de Andhra Pradesh. Vários ativistas e dirigentes sindicais foram presos em todo o país.
O PCI (M), que «condena fortemente a repressão» verificada, afirma que Modi e o seu governo devem pensar duas vezes, tendo em conta a dimensão do protesto em nível nacional contra as políticas que «estão destruindo a vida de milhões de pessoas e impondo mais miséria ao país».
Em defesa dos direitos e de melhores condições de vida
Na greve geral desta quinta-feira, os trabalhadores denunciam as medidas deletérias aprovadas pelo governo de Narendra Modi que permitem ao patronato aumentar a carga de trabalho e diminuir os salários, facilitam as demissões e a precariedade, entre outros aspectos. A pandemia de Covid-19 serviu de pretexto para agravar a exploração.
Os trabalhadores, que exigem um salário mínimo, incluem nas suas reivindicações a revogação dos retrocessos aprovados contra a classe trabalhadora, bem como a supressão de três leis agrícolas que abrem o setor ao agronegócio, a atribuição de dez quilos de alimentos às famílias necessitadas e o reforço do sistema de distribuição pública.
Exigem ainda que 5% do PIB seja destinado à Educação e 6% à Saúde (e que a lei garanta cuidados de saúde para todos), bem como o fim do desinvestimento nas empresas públicas e da política de privatizações e de saque aos recursos nacionais.
https://www.abrilabril.pt/internacional/milhoes-de-trabalhadores-indianos-dizem-nao-politicas-de-modi