Solidariedade ao povo palestino!
Em entrevista ao Brasil de Fato, Samah Jabr fala sobre a violência psicológica à qual os palestinos são submetidos há décadas – Foto: Abbas Momani/AFP
Ofensiva de Israel contra palestinos nunca parou
Chefe da pasta de Saúde Mental do Ministério da Saúde palestino explica trauma coletivo causado por investida israelense
Lu Sudré
Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Em repúdio à histórica violência do Estado de Israel contra a população palestina, a comunidade internacional celebra, neste domingo (29), o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino.
Foi em 29 de novembro de 1947, há exatos 73 anos, que a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o plano de partilha da Palestina, o que daria origem ao Estado de Israel, um ano depois. O Dia de Solidariedade, criado em 1977 pela própria ONU, é um marco na defesa da soberania nacional do povo palestino, que tem sido expulso sistematicamente de suas terras.
Um exemplo dessa política de ocupação é o chamado “Acordo do Século”, apresentado pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao lado do presidente dos EUA, Donald Trump, no primeiro semestre deste ano. O plano prevê a apropriação por parte de Israel de 30% das colônias e territórios palestinos no Vale do Jordão, localizado a 50 km de Gaza, assim como a criação de um Estado Palestino restrito às áreas restantes.
Em entrevista ao Brasil de Fato, a ativista palestina Samah Jabr afirma que a presença das forças israelenses em territórios como a Cisjordânia, alvo da anexação, é perpetuada a partir de ataques e repressões permanentes que submetem o povo palestino a violações cotidianas.
“A ofensiva de Israel contra os palestinos nunca parou. O Dia Internacional de Solidariedade aos Palestinos é um dia importante, mas a solidariedade deve continuar ao longo de todo o ano. Deve ser um processo acumulativo, requer um trabalho forte e contínuo, de formiguinha, e não acontecer de uma forma reativa ou ocasional. A solidariedade deve continuar enquanto a Palestina estiver ocupada”, defende.
Jabr é psiquiatra e chefe da Unidade de Saúde Mental do Ministério da Saúde da Palestina. Ela ressalta que, para além da dominação territorial, a repressão israelense traz grandes impactos psicológicos para a população, o que torna a atuação internacional em solidariedade ainda mais urgente.
“O trauma dos palestinos não é individualizado, é coletivo, é histórico. Alcança todas as pessoas. A solidariedade provê um efeito terapêutico porque reconhece os danos à população, valida a experiência histórica dos palestinos, diz aos palestinos que eles são ouvidos e que o sofrimento é reconhecido”, afirma Samah.
Além de ataques militares e detenções arbitrárias, há também o controle da vida cotidiana. Até mesmo regulações sobre a vida privada e íntima dos palestinos, como regras para casamento ou para a existência de movimentos e organizações, integram o projeto colonizador de Israel.
“Todas essas coisas trazem um dano imenso aos palestinos. Cria uma futura geração incapaz de resistir e se levantar contra a ocupação de Israel. O fato de saber que há um terceiro ator que fala contra os horrores e os condena é um apoio, um suporte psicológico, mas ainda assim há muito o que fazer em termos políticos”, diz a fundadora da Rede de Saúde Mental Palestina Global.
Ainda que áreas como a Cisjordânia e a Faixa de Gaza sejam reconhecidas pela lei internacional como terras palestinas e que haja demonstrações de solidariedade por parte de organizações da sociedade civil e articulações populares em todo o mundo, Samah Jabr critica a omissão de muitos países.
Para ela, governos próximos a Israel, a exemplo dos Estados Unidos e do Brasil, se interessam apenas pelo poder e pelo controle de uma ordem mundial injusta. “É o que explica a limitada ação contra a situação da Palestina e a completa falta de apoio por parte dos governos”.
No entanto, segundo a ativista, a esperança do povo palestino reside na colaboração e solidariedade dos países democráticos.
“É importante um trabalho de educação da comunidade internacional para que estejam mais alertas sobre a situação da Palestina, para que haja mais visibilidade para a realidade palestina. Ela é tratada com completa negação, desvalorização e falta de reconhecimento”, critica Jabr.
Edição: Vivian Fernandes