Honduras: a “democracia” da pobreza

imagemHedelberto López Blanch / Resumen Latinoamericano

Para os Estados Unidos, que sempre trataram a América Latina como seu quintal, ou, para dizê-lo melhor, como se fossem donos de suas riquezas materiais e humanas, Honduras é uma de suas semicolônias, onde deve imperar a “democracia”, com os graves problemas que padecem seus habitantes.

Há dez anos, os Estados Unidos, com o apoio da direita hondurenha, provocou um golpe de Estado contra Manuel Zelaya, o único presidente na história moderna dessa nação centroamericana (2006-2009) que trabalhou para levar a seu povo benefícios dos quais nunca havia desfrutado. Nesse curto período a nação centroamericana se integrou, em 2008, ao mecanismo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA).

Essa decisão pôs em tensão todas as forças da ultradireita e as transnacionais como a estadunidense Chiquita, antiga United Fruit, que exporta a partir dessa nação 8 milhões de caixas de abacaxi e 22 milhões de caixas de plátanos; assim como as farmacêuticas, que fornecem 80 % dos medicamentos comercializados no país.

O golpe de Estado com apoio militar não se fez esperar: Zelaya foi expulso do país e imediatamente começou a repressão contra as massas da população que apoiavam o presidente deposto, resultando em vários mortos e feridos. Após o golpe contra Zelaya, foram impostos no poder Roberto Micheletti e, em seguida, Porfirio Lobo, que eliminou cem por cento das leis que tinham sido aprovadas nesse curto período para beneficiar o povo.

Entre as medidas mais prejudiciais estavam o congelamento da Lei do Salário Mínimo, a perda de 300 000 postos de trabalho, a fragmentação das horas de trabalho, a revogação dos acordos com a ALBA, a restituição de privilégios para as empresas transnacionais, o impulso às privatizações, dentre as quais a da estatal Hondutel, em que Micheletti foi conselheiro.

Os hondurenhos, cansados de sofrer com a miséria e as repressões, primeiro optaram por deixar o país e tentar chegar aos Estados Unidos em busca do propagandeado “sonho americano”, o que foi impedido por políticas adotadas pela administração de Donald Trump, que até cortou o pequeno apoio financeiro que era dirigido a El Salvador, Guatemala e Honduras, com o argumento de que estes países não controlam a saída dos seus cidadãos.

Agora eles se voltam para promover protestos em massa que foram violentamente reprimidos pelo regime de Juan Orlando Hernández, reeleito em setembro 2018 com numerosas alegações de fraude eleitoral, pois, além disso, Hernández controlava o Tribunal Superior Eleitoral, responsável pela contagem dos votos.

Dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística de Honduras publicados pelo jornal La Prensa relatam que quase seis milhões (71%) dos 8,5 milhões de habitantes do país são pobres. Desse número, 4,2 milhões estão na extrema pobreza e tentam sobreviver com apenas um dólar por dia. Estima-se que, após o golpe de 2009, mais 500 mil pessoas passaram a fazer parte dessa categoria, especialmente em áreas urbanas, nas quais se atingem 77,8% de pobreza e indigência.

A desigualdade também vem crescendo em espiral devido às políticas neoliberais promovidas pelos regimes anteriores, que contribuíram para que 15 famílias controlem 80% da riqueza, enquanto 80% da população fica com menos de 10%. Em outubro do ano passado, as finanças públicas estavam em um estado deplorável, com um déficit fiscal de 8%, e a dívida pública alcançou mais de 8 bilhões de dólares, mais da metade do produto interno bruto (PIB). A tudo isto se somam dois outros gravíssimos problemas: a violência incontrolável que deixa mais de 30 mortos diariamente, com inúmeras gangues que aterrorizam as cidades, e um elevado nível de traficantes, porque cerca de 80% da cocaína que vai para os Estados Unidos da América do Sul passa pelo território hondurenho.

Nos recentes protestos, o presidente Hernandez autorizou a repressão contra estudantes que rechaçam a crise nacional nos setores de saúde e educação. Pela primeira vez, a Polícia Militar (PM) invadiu as instalações da Universidade Nacional Autônoma de Honduras (UNAH) em Tegucigalpa, lançando bombas de gás lacrimogêneo e disparando contra estudantes, deixando vários feridos.

Esta é a “democracia” da pobreza que os Estados Unidos desejam para a região, impulsionando-a com a ajuda de governos neoliberais afins, sem nenhuma política social preocupada em garantir a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, os quais continuarão os protestos e as constantes migrações.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte:

http://www.resumenlatinoamericano.org/2019/07/05/honduras-la-democracia-de-la-pobreza/