Resposta à carta do presidente do PEE e secretário-geral do PCF publicada no Morning Star

por KKE

É verdade que o desenvolvimento da crise capitalista na Grécia tem sido acompanhado por um assalto sem precedentes aos direitos da classe trabalhadora e dos extractos, assim como consequente aguçamento intenso da luta de classe, o que tem chamado a atenção dos trabalhadores em outros países. Dentro deste quadro, mesmo forças políticas burguesas, as quais arcam com enorme responsabilidade por esta ofensiva anti-povo, declaram que “simpatizam” com o povo grego, tomando todo o cuidado de esconder as causas dos problemas que o povo experimenta: a crise capitalista, o aprisionamento do país em uniões imperialistas como a OTAN e a UE, a exploração capitalista.

O representantes da “Nova Esquerda” estão a fazer declarações dentro deste contexto, como a carta do presidente do Partido de Esquerda Europeu (PEE) e secretário-geral do PCF, Pierre Laurent, sobre o caso da Grécia, as quais publicaram na secção de cartas (20/2/2012).

Na realidade o problema que a classe trabalhadora e os demais extractos populares estão a enfrentar na Grécia não é um problema de “democracia”, a imposição de medidas anti-povo a partir de fora, por “líderes europeus e o FMI”, como escreve P. Laurent. Nem a coligação governamental dos sociais democratas do PASOK e os liberais da Nova Democracia (ND) são “vítimas” de alguns “líderes europeus e do FMI”, como a situação está a ser apresentada através das lentes distorcidas do presidente do PEE.

A verdade é que estas medidas, as quais estão a ser tomadas sob o pretexto da grande dívida pública, têm como objectivo o fortalecimento da lucratividade do capital na Grécia, através da redução dramática do preço da força de trabalho. Não deveríamos esquecer que neste exacto momento 600 mil milhões de euros (quase o dobro da dívida publica da Grécia) estão depositados por capitalistas gregos só em bancos da Suíça!

Portanto, trata-se de medidas que correspondem plenamente aos interesses dos capitalistas a fim de impingir a crise para cima do povo de modo a que a Grécia possa entrar numa rota de desenvolvimento capitalista e que, assim, o capital acumulado no período anterior possa encontrar uma saída lucrativa. São medidas decididas em conjunto dentro do quadro da UE pelo governo grego e a classe burguesa a qual é servida por ambos os partidos governamentais e não foi imposta por alguns “líderes europeus e o FMI”. Todas estas medidas, em maior ou menos extensão, existiam nos programas do PASOK e da Nova Democracia, além de terem sido postas sobre a mesa pelos tratados da UE, a começar pelo Tratado de Maastricht. Esta é a razão por que as classes trabalhadores da Grécia e da Grã-Bretanha – e naturalmente outras – acumularam bastante experiências negativas em relação à UE e ao seu papel anti-povo. Ao mesmo tempo, o representante do PEE na Grécia, o Synaspismos, depois de votar pelo Tratado de Maastricht promoveu e continua sistematicamente a promover ilusões em relação à UE, apresentando a participação da Grécia na UE como o único caminho possível, em oposição ao KKE, que luta pelo desligamento do país da UE com poder popular.

O presidente do PEE fala acerca da “supervisão” da Troika na Grécia. Estará ele realmente inconsciente do facto de que a classe burguesa da Grécia desde há uma década preferiu conscientemente participar activamente nas uniões imperialistas da OTAN e da UE e que esta participação, dentro da estrutura das relações inter-dependentes que são criadas, provoca a cedência de direitos de soberania à UE e à OTAN? Não sabe ele que, por exemplo, a Política Agrícola Comum (PAC) não deixa qualquer espaço para o desenvolvimento da economia agrícola nos interesses do povo? Deveríamos lembrá-lo que a Grécia antes de aderir à CEE-UE tinha uma balança comercial excedentária em produtos agrícolas, enquanto hoje, devido à PAC, ela importa mesmo aqueles produtos agrícolas que são cultivados na Grécia, enquanto centenas de milhares de pequenos e médios agricultores foram somando ao “exército” dos desempregados.

O acesso da Grécia à UE, que o presidente do PEE evita mencionar – culpando ao invés alguns “líderes europeus” em termos gerais – bem como os exorbitantes gastos militares com a OTAN, a política de isenções fiscais ao capital no contexto da “competitividade” da economia, a qual foi seguida no passado pelos governo PASOK-ND, constituem as “fontes” da dívida pública inflacionada e dos défices pelos quais o povo não arca com qualquer responsabilidade.

Naturalmente, esta “omissão” por parte do presidente do PEE não nos preocupa, pois sabemos que o PEE jurou lealdade à UE e é generosamente financiado por ela como um “partido europeu”, o que quer dizer como um partido que aceita os “princípios” da exploração capitalista que caracteriza a UE – a aliança predatória dos monopólios. Além disso, o PEE assumiu compromissos para isto nos seus estatutos e documentos fundadores!

As proposta do PEE respeitantes ao “desenvolvimento”, a um alegado “fundo social pró povo”, etc não põem de modo algum em causa o poder capitalista. Ao contrário, o PEE e o oportunismo internacional desempenham o papel principal na criação de ilusões ao embelezar organizações imperialistas tais como a UE e o BCE, isto é, de que elas podem alegadamente tornar-se pró povo, quando cada vez mais trabalhadores não só na Grécia entendem que o capitalismo não pode resolver os problemas básicos do povo.

O PEE, ao apoiar a UE e o sistema explorador, escolheu o seu lado. Por esta razão ele constitui uma ferramenta para a mutação dos PCs e a erradicação das suas características comunistas. Ele não desafia os oponentes da classe trabalhadora e dos extractos populares na Grécia, por muitos apelos que possa fazer.

No entanto, a experiência e o curso das lutas da classe trabalhadora na Grécia, na linha de frente da qual encontram-se comunistas e o movimento sindical com orientação de classe, o PAME, sublinha que cada vez mais trabalhadores estão a ser radicalizados quando ultrapassam os “sermões” dos burgueses e oportunistas pela “colaboração” de classe e “coesão social”, quando ignoram suas “lágrimas de crocodilo” a respeito dos fardos que os trabalhadores estão a suportar.

É neste caminho que a classe trabalhadora pode alcançar o objectivo final da sua luta: a abolição do poder capitalista e a construção do socialismo.

Secção de Relações Internacional do CC.

O original encontra-se publicado no Morning Star de 05/Março/2012 e em

http://inter.kke.gr/News/news2012/2012-03-07-morning-star/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .