7 anos de agressões paramilitares à Venezuela
– A lista de todos os planos desmantelados
por Thierry Deronne [*]
Após a morte do presidente Hugo Chávez e a eleição em 2013 de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, num cenário de queda global do preço do petróleo, os Estados Unidos acreditaram que tinha chegado o momento de aniquilar a revolução bolivariana e acabar com a sua influência na América Latina. Começou uma era sem precedentes de desestabilização violenta, cujo objetivo ainda é mudar o regime através do assassinato do governante eleito e de seus apoiantes, num cenário de terror ao estilo colombiano. Lembremos como as ações da extrema direita foram transformadas pelos meios de comunicação internacionais em “revoltas populares” e a reação das forças de segurança em “repressão pela ditadura”. As agências de notícias e fotos, que se tornaram atualmente na única fonte para a maior parte dos jornalistas, foram mesmo ao ponto de transformar terroristas em “heróis da luta pela democracia”, ignorando a maioria social, popular e pacifica que rejeitava a violência e desejava a realização de eleições. [1] Muitas correntes e ativistas de esquerda caíram na armadilha desta propaganda. Foi o momento em que o slogan “nem Trump nem Maduro” apareceu.
Escondendo as causas, substituindo-as pelos efeitos, procuram desacreditar uma experiência de esquerda participativa e soberana, com um recorde de eleições e processos comunais. Os principais meios de comunicação ocidentais responsabilizam essencialmente o governo bolivariano pela guerra econômica decretada por Barack Obama e reforçada por Donald Trump. A cumplicidade da mídia consiste em escamotear as consequências das mais de 300 “sanções” dos EUA – medidas de coação unilaterais, violando o direito internacional – como ameaças a bancos de todo o mundo para que congelem 30 bilhões de dólares, que o país não pode utilizar para comprar alimentos ou material médico. Mas também ocultam, questionam ou desvalorizam os inúmeros ataques – sabotagem de infraestruturas, ataques terroristas e incursões armadas – financiados na ordem de centenas de milhões de dólares pelos Estados Unidos e realizados a partir do território de seu principal fornecedor de droga a Colômbia paramilitar.
Eis, por ordem cronológica os numerosos episódios desta guerra de baixa intensidade que visa derrubar um governo de esquerda legitimamente eleito (Jimmy Carter, o Conselho dos Juristas Latino-americanos, Rodriguez Zapatero, Lula, Rafael Correa, entre tantos outros observadores internacionais e mediadores entre governo e oposição democrática insistiram na transparência, na legitimidade e no número recorde de eleições).
10 de junho de 2013
Nove paramilitares foram capturados em Coloncito (Táchira) e Guanare (Portuguesa), membros de Los Rastrojos, ligados ao líder paramilitar colombiano José María Barrera, também conhecido como “Chepe Barrera”, armados com espingardas de assalto, granadas e pistolas. As autoridades encontraram uma caixa preta pronta para ser usada para um falso acidente de avião. Os paramilitares capturados disseram que um terceiro grupo já estava na capital com armas de atirador furtivo (sniper). Eles planeavam ir para a capital do Estado, onde receberiam a missão de em Caracas realizar o assassinato do presidente Maduro.
25 de março de 2014
Um grupo de generais da força aérea que tinha ligações diretas com os setores de direita foi capturado. Eles mesmos declararam que “esta semana era decisiva”. Estavam preparando um plano de revolta militar, denunciado por oficiais de nível inferior. Eram o brigadeiro-general (AV) José Daniel Machillanda Díaz, o general da divisão (AV) Oswaldo Hernández Sánchez e o brigadeiro-general Carlos Alberto Millán Yaguaracuto. Posteriormente, no início de abril, foi capturado por funcionários da Dirección General de Inteligencia Militar (DGCIM) o capitão Juan Carlos Nieto Quintero (r) da Guarda Nacional Bolivariana GNB, (reapareceu com Jordan Goudreau num vídeo no domingo 3 de maio de 2020, quando da “Operação Gédeon”).
12 de fevereiro de 2015
As autoridades venezuelanas procederam ao desmantelamento de uma tentativa de golpe, conhecido como “Golpe Azul” ou “Operação Jericó”. O plano era equipar com artilharia um avião Tucano e atacar o Palácio Miraflores, ou qualquer outro lugar em que o presidente participasse das “Jornadas da Juventude”. A tentativa foi planeada por um grupo de militares venezuelanos e funcionários do governo dos EUA.
12 e 13 de fevereiro de 2016
Foi desmantelado um plano no qual cinco militares e três civis estavam envolvidos operacionalmente: José Gregorio Delgado, Ruperto Chiquinquirá Sánchez, Juan Carlos Nieto Quintero, César Orta Santamaría, Víctor José Ascanio, Nery Adolfo Córdoba, Andrés Thompson Martínez, Salazar Laided e José Acacio Moreno, respectivamente. A ideia era atacar pontos estratégicos das instituições estatais por meio aéreo; isso também incluía operações contra civis. Tratou-se de uma tentativa de golpe de Estado militar, baseada na doutrina do choque. A captura de Antonio Ledezma foi derivada deste plano, graças ao acompanhamento pelos serviços de informações militares.
Primeiro trimestre de 2017
A operação “Espada de Deus” foi liderada por Angel Vivas e Raul Baduel, respectivamente ex-brigadeiro-general e ex-general das Forças Armadas Bolivarianas, que recrutaram oficiais subalternos para realizar o assassinato do presidente Maduro. O Estado conseguiu capturar vários membros da operação, todos acusados de subversão; no entanto, no final daquele ano, alguns deles fugiram da prisão de Ramo Verde (Miranda). O acompanhamento da operação por parte de um agente secreto foi a chave para desmontar o plano.
Abril 2017
Operação “Escudo de Zamora”: Eduardo Ventacourt e Johan Peña, ex-oficiais da DISIP (serviços de informações), bem como o coronel Zomacal Hernández (r), deveriam realizar a “Operação Escudo de Zamora”. A este último foram-lhe confiscados 32 kg de explosivos c4 e outras armas que seriam usadas num plano golpista. Entre os planificadores da operação estavam os políticos Roberto Enriquez, Oswaldo Alvarez Paz (ambos da COPEI, Democracia Cristã) e Julio Borges (Primero Justicia, extrema direita), diretamente envolvidos na insurreição com certos líderes das Forças Armadas.
27 de junho de 2017
O antigo policial Oscar Perez – do Corpo Científico de Investigações Penais e Criminais (CICPC) – sequestrou um helicóptero, sobrevoou vários locais em Caracas, metralhou e tentou atacar várias instituições do Estado venezuelano, incluindo a construção da Supremo Tribunal de Justiça. O fanático da Nova Ordem, declarando-se “enviado de Deus”, tentou matar pessoas nos prédios das instituições que atacou, incluindo crianças, antes de fugir.
6 de agosto de 2017
Neste dia, ocorreu uma escaramuça militar em Fuerte Paramacay (Carabobo): a chamada “Operação David”, na qual houve um roubo de armas e apelos à insurreição com outros operadores não militares, liderados por Juan Caguaripano da 41ª Brigada Blindada de Valência, que foi neutralizado pelas Forças Armadas que capturaram a maioria dos membros. Os poucos envolvidos na tentativa e que conseguiram escapar, levaram as seguintes armas: 500 espingardas AK-103 e 500 carregadores deste tipo de arma; 50 lançadores de granadas múltiplos de 40mm; 140 granadas de 40 mm; 80 baionetas, 60 pistolas. Este material de guerra foi colocado num veículo Toyota com placa militar e roubado da instalação militar correspondente.
18 de dezembro de 2017
Durante a Operação “Genesis”, um grupo de mercenários, paramilitares e ex-oficiais da Segurança do Estado, liderados por Oscar Perez, atacou um posto da Guarda National Bolivariana (GNB) em Laguneta de la Montaña (Miranda), de onde roubaram 26 espingardas de assalto e munições. Num vídeo, Perez aparece durante a operação com um punhado de indivíduos com os uniformes do serviço militar de contrainformações (DGCIM). Durante a operação, os falsos agentes do DGCIM também roubaram 26 espingardas AK-103 da marca Kalashnikov; 3 pistolas de 9 mm; 108 carregadores AK-103; 3 carregadores de pistola; 3 240 munições de espingarda AK-103 e 67 munições de 9 mm, de acordo com relatos da imprensa.
15 de janeiro de 2018
A DGCIM localizou a célula terrorista de Oscar Pérez em El Junquito (Caracas). Após o trabalho do corpo de segurança e de informações, com o destacamento de várias brigadas e funcionários do CONAS, SEBIN, DGCIM, GNB, FAES, PNB e Policaracas, a “Opéração Gedeon” foi realizada, e cujo nome presta homenagem a instituições policiais militares. Nesta operação, vários membros da “Operação Gênesis” foram mortos, incluindo o altamente divulgado “herói” Oscar Perez.
Maio 2018
Desde o início do mês, um plano golpista foi detetado dentro da FANB, chamado “Movimento de transição para a dignidade do povo”, no qual o ex-general Miguel Rodríguez Torres esteve envolvido. Entre os seus membros estavam o tenente-coronel Iver Marín Chaparro, o tenente-coronel Henry Medina Gutiérrez, o tenente-coronel Deivis Mota Marrero, o tenente-coronel Eric Peña Romero, o tenente-coronel Victoriano Soto Méndez, o tenente-coronel Juan Carlos Peña Palmatieri, primeiro tenente Yeiber Ariza, sargento Julio Carlos Gutiérrez e sargento Yuleima Medina. Em meados do mês, o plano foi desmontado pelo DGCIM.
Abril 2018
A operação “Gédeon II” das autoridades estatais, relatada pelo ministro Néstor Reverol em 18 de abril, conseguiu desmantelar uma célula terrorista envolvida em atos desestabilizadores destinados a causar ansiedade entre a população e impedir as eleições de 20 de maio. A operação foi a continuação de uma investigação abrangente que levou ao desmantelamento da célula terrorista de Oscar Pérez. Dez pessoas foram presas, incluindo Alonso José Mora, Erick Anderson Villaba e Stephanie Madelein, membros ativos de um grupo de confronto armado que participou nas rebeliões da extrema direita de 2017. Também estava na célula Carlos Miguel Aristimuño , que pertencia à DISIP e era piloto de helicóptero, contratado para treino de instrutores.
Maio 2018
Outra tentativa de golpe liderada pelo general (r) Oswaldo Garcia Palomo da Colômbia, no contexto das eleições presidenciais, denominada “Opéração Constituição”. Os serviços de informações e contrainformações do Estado derrotaram o plano e desmantelaram o grupo. Garcia Palomo também esteve envolvido noutro plano de golpe no início de 2019. Foi preso no final de janeiro de 2019 pelas autoridades venezuelanas.
Maio 2018
Juntamente com a “Operação Constituição a “,Opéração Armagedão” foi levada a cabo por militares e civis e liderada pelo capitão Luis Humberto de la Sotta Quiroga. Nove membros das forças armadas foram acusados de traição contra o país, incitação à rebelião militar e ao motim. Desta vez, a tentativa de golpe militar teve como objetivo frustrar as eleições presidenciais. A operação estava em andamento desde 2017 e envolvia a captura da base aérea de La Carlota (Caracas) e até o assassinato do presidente Maduro. O plano foi desmantelado pela DGCIM. A investigação mostrou que estavam envolvidos Oswaldo Alvarez Paz (do partido COPEI) e militares, com financiamento dos Estados Unidos e da Colômbia.
4 de agosto de 2018
Neste dia, foi feita uma tentativa de assassinato contra o presidente (“Operação David contra Golias”), alguns ministros e membros do alto comando militar em Caracas durante um evento que marcou o 81º aniversário do GNB. Foram detonados explosivos, levados por drones, para assassinar o presidente Maduro. O trabalho de civis, militares e policias como um todo fez a operação falhar.
As autoridades prenderam Argenis Ruiz, piloto do drone e Juan Carlos Monasterio, coordenador do ataque e antigo membro da GNB. Mais tarde, em janeiro de 2019, o general (r) Oswaldo García Palomo admitiu que o tenente-coronel Ovidio Carrasco, que fazia parte da Guarda Presidencial de Honra, havia sido captado por Julio Borges em 2013 e participado do planeamento. do assassinato. Além de Julio Borges, outros políticos venezuelanos também estiveram envolvidos: Fernando Albán e o deputado de extrema-direita Juan Requesens.
30 de abril de 2019
A “fase final” da “Operação Liberdade” ocorreu com Juan Guaidó, Leopoldo López, Cristopher Figuera e militares, incluindo Ilich Sánchez e Juvenal Sequea.
O movimento tentava remover o presidente Nicolas Maduro do poder, começando com a tomada da base aérea de La Carlota, que nunca foi tomada. A operação durou apenas algumas horas pela manhã e foi desmontada pelo DGCIM.
Junho 2019
Após 14 meses de trabalho de contrainformação do DGCIM, a operação “Vuelvan caras” foi desmantelada. Entre os seus membros estavam o general aposentado Ramón Lozada Saavedra, o general Miguel Sisco Mora, o coronel Miguel Castillo Cedeño, o major aposentado Pedro Caraballo, o primeiro tenente Carlos Eduardo Lozada Saavedra e os comissários José Valladares Mejías e Miguel Ibarreto.
Foi um golpe militar destinado a assassinar o presidente e a dominar o Palácio de Miraflores, a base aérea de La Carlota e o Banco Central da Venezuela, no qual também estavam envolvidos Josnars Adolfo Baduel, filho de Raúl Baduel.
Agosto 2019
A operação terrorista “Força e liberdade” foi uma tentativa de atacar a sede da FAES (polícia) em Propatria e o Palácio da Justiça em Caracas. Foi desmontada pela DGCIM. Tratava-se de uma ação militar para tentar um golpe e um assassinato envolvendo o guarda do Palácio da Justiça, Ronnel Guevara, e Luis Ricardo Gómez Peñaranda, cidadão colombiano-venezuelano que foi preso quando carregava explosivos.
Na ocasião, o ministro Jorge Rodríguez denunciou que Clíver Alcalá estava na Colômbia para coordenar o treino de mais de 200 terroristas em três campos: em Maicao, Santa Marta e Riohacha.
Dezembro 2019
Na manhã de domingo, 29 de dezembro, foi divulgado um vídeo no qual um grupo de militares se sublevava, apelando à rebelião, a um golpe e um assassinato. Reivindicaram o roubo de armas durante um ataque a um destacamento da GNB em 22 de dezembro no município de Gran Sabana (Bolivar), como parte do que chamaram “Operação Aurora”.
Tratavam-se do tenente Joshua Abraham Hidalgo Azuaje, o atirador de elite José Angel Rodríguez Araña e o sargento Darwin Balaguera Rivas.
Diretamente envolvido na “Operação Aurora”, Gilber Caro, preso durante o ataque de 22 de dezembro, recebeu apoio público do ex-agente da contrainformação Ivan Simonovis, membro da equipa de Juan Guaidó nos Estados Unidos. e próximo de Donald Trump (fotos abaixo). Em janeiro de 2020, o Ministério Público acusou 18 pessoas por terem participado na operação.
Maio 2020
Uma incursão de mercenários armados (“Operação Gedeon”) em Macuto (La Guaira) e outras partes da costa venezuelana foi neutralizada pela união civil-militar (“Operação Negro Primero”) no domingo, 3 de maio. A DGCIM processou os dados relativos à operação, em particular a localização dos campos na Colômbia onde ocorreu o treino e a coordenação, dirigidos por Clíver Alcalá.
Juan Guaidó, J J Rendón, Sergio Vergara e o advogado Manuel Retureta assinaram um contrato com a empresa mercenária americana Silvercorp, de Jordan Goudreau, para realizar uma incursão armada, executar um plano para capturar e assassinar o presidente Maduro, e com a ajuda de armas muito sofisticadas, desencadear uma intervenção destinada a eliminar líderes chavistas, simpatizantes das bases populares e revogar de facto a Constituição da República Bolivariana.
Como se pode ler no contrato divulgado pelo Washington Post, o “objetivo principal” era “capturar/deter/eliminar Nicolás Maduro, derrubar o atual “regime” e instalar o fantoche Juan Guaidó como presidente. Em seguida, viria a participação da Silvercorp – prolongada – por um período de 450 dias para “restaurar a estabilidade no país”.
“Estabilizar o país” significava que o contratante militar participaria do ataque e perseguição a “elementos não militares de comando e controle do regime anterior”, repressão, detenção, aplicação de toque de recolher, controlo das fronteiras, com autorização para “usar a força, inclusive a força letal, para eliminar a ameaça”.
Tudo isto está escrito num apêndice de 41 páginas com detalhes sobre, por exemplo, quando e como usar minas antipessoal M18A1 claymore, cadeias de comando e formas de pagamento, em que, em caso de “insolvência monetária”, a Silvercorp faturaria “em barris de petróleo”.
[1] “Comment les médias blanchissent l’image du terrorisme au Venezuela”
[*] Cineasta, thierryderonne6@gmail.com, Twitter : @venezuelainfos
O original encontra-se em venezuelainfos.wordpress.com/…
Fonte: Mision Verdad
Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .