93 anos da UJC: uma legenda na luta de classes

imagemMilton Pinheiro

CONTRAPODER

Em 1927, o Brasil vivia numa conjuntura de avanço das lutas políticas. No final do ano anterior, por exaustão, o decreto do estado de sítio havia caducado. O PCB crescia e apresentava-se para o debate político com mais militantes e aprofundava uma resolução que construiria o Bloco Operário, posteriormente articulado como Bloco Operário e Camponês (BOC). Essa política organizativa de Frente Única permitia que o partido abrisse um conjunto forte de articulações políticas, inclusive aproximando-se do então deputado Azevedo Lima, que viria depois a ser novamente deputado pelo Bloco.

Nesse mesmo ano, o partido manteve entendimentos com o professor de direito Leônidas Rezende, que era dono do recém fundado jornal diário A Nação, para ocupar um espaço na comunicação com os trabalhadores e anunciar sua linha política e perspectiva teórica.

No começo de 1927, seguindo o planejamento estratégico interno, Astrojildo Pereira convida o jovem pernambucano, estudante de medicina no Rio de Janeiro, militante do partido, Leôncio Basbaum, que ao sair do Recife havia passado por Salvador e tinha conhecimento da vida partidária nessas cidades, para debater a situação do partido no Nordeste. Apesar da parca idade, a partir daí o jovem estudante estaria sempre presente nas reuniões da Comissão Central Executiva (CCE).

Em uma dessas reuniões, decidiu-se que o estudante seria o encarregado do setor juvenil, com a tarefa de organizar a Juventude Comunista. Com essa tarefa e função, Leôncio Basbaum foi incorporado à Comissão Central Executiva e se dedicou à formação da juventude. Logo de início, foi criada uma seção de correspondências que se tornou o canal de articulação da juventude no jornal A Nação. Essa correspondência era respondida por Leôncio Basbaum e possibilitou uma grande aproximação de jovens trabalhadores de várias partes do Brasil com o setor juvenil e com o partido.

No primeiro de maio de 1927, jovens do partido apresentaram-se com faixas e bandeiras específicas, tendo, inclusive, um orador no ato político do dia dos trabalhadores que foi Schecheter. Essa manifestação consta nos estudos históricos como uma ação que marcou a necessidade de se organizar, de forma mais rápida, a Juventude Comunista. Sendo assim, foi marcado o ato público de fundação da UJC.

No dia primeiro de agosto de 1927, na sede da UTG (União dos Trabalhadores Gráficos), na cidade do Rio de Janeiro, na Rua Frei Caneca que fica na esquina da Praça da República, foi lançada a Juventude Comunista. Muitos jovens estavam presentes e a direção do partido. Foi um ato político e festivo no qual quem mais se destacou foi o jovem metalúrgico de 17 anos, Jaime Ferreira, que foi um dos oradores. No dia 2 de agosto, era eleita a primeira direção da Juventude Comunista. Era composta por 03 estudantes (Leôncio Basbaum, Artur e Manuel) e 05 operários (Pedro Magalhães, Elísio, Jaime Ferreira, Altamiro e Brasilino). Basbaum foi eleito secretário-geral, e no decorrer de 1928 passou a integrar, também, a direção da juventude o jovem Arlindo Pinho.

A Juventude Comunista tinha uma composição social marcada por mais de 90% de jovens operários, sempre entre 15 e 19 anos. Na época, o estatuto do partido indicava que quem completasse 21 anos seria transferido para o partido. A juventude começou suas atividades com ações de recrutamento de jovens nas fábricas, no comércio e na universidade, desenvolvendo atividades esportivas, fazendo festinhas, desenvolvendo propaganda das ideias marxistas e preparando a juventude para o partido. A UJC referenciava-se na forma organizativa do partido, com células e Comitês Regionais. Ainda em 1928, a juventude estava organizada em vários estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Espírito Santo e Pernambuco.

Após a formação da juventude, foi lançado um jornal, O Jovem Proletário. O trabalho do partido na base dos trabalhadores avançava, existia uma presença importante nos principais sindicatos do Rio de Janeiro e a UJC era um braço importante nessa ação. Em 1927, por convite da KIM (Internacional Comunista da Juventude), a juventude brasileira teve direito a uma bolsa para a Escola de Quadros, em Moscou. Após discussão na direção da juventude, optou-se por enviar o jovem alfaiate Heitor Ferreira Lima.

O debate sobre um chamamento a Luiz Carlos Prestes para dialogar com o partido, em 1927, gerou uma polêmica muito intensa na direção do partido e, também, na direção da juventude. Esse fato provocou saídas no partido e na juventude. Nesse episódio, por discordar da proposta aprovada, de conversar com Prestes, desligaram-se do partido o fundador Joaquim Barbosa e o jornalista, Rodolfo Coutinho.

Em 1928, em virtude do VI Congresso da Internacional Comunista, em Moscou, a juventude recebeu um convite, também, para participar do V Congresso da KIM (Internacional Comunista da Juventude). Foi destacado como representante da juventude o Leôncio Basbaum que viajou para a URSS com o Paulo Lacerda que comandaria a delegação brasileira.

No entanto, ainda em 1928 e 1929, em virtude da nova orientação da Internacional Comunista, que abandonava a política de Frente Única para construir a nova orientação de “Classe contra Classe”, surgiram problemas internos e defecções ocorreram no partido e na juventude. O partido estava, novamente, na ilegalidade.

Basbaum havia sido preso por uma semana no começo de 1928 juntamente com outros jovens comunistas. Ele dirigiria a juventude até 1929, quando do I Congresso e do seu retorno ao partido. A juventude enfrentaria muitos problemas na conjuntura do governo Vargas, foi preservada pelo partido em alguns momentos e retornou apenas em 1946, agora, composta basicamente por estudantes.

A UJC operou na defesa dos interesses da juventude e da linha política do partido durante toda sua história. Em algumas conjunturas, o partido considerou mais correto encerrar as suas atividades para defendê-la da exceção conjuntural, em outras, serviu como braço político para o enfrentamento na luta de classes. Ela foi importante nas lutas pelas liberdades democráticas e em diversas campanhas que o PCB esteve organizando. Esteve presente na formação da UNE, no entanto, em virtude da conjuntura, foi desarticulada nos anos 1960, embora existisse um setor encarregado desse trabalho. Retornou em 1985, novamente foi desarticulada durante a luta interna que ocorreu a partir do IX Congresso do PCB, contudo, em 1994 ela foi reconstruída e exerceu importante função na rearticulação internacional do partido nos anos 1990. Passou por um período de desarticulação no começo dos anos 2000 e ressurge, Finalmente, como forma histórica, em 2005, e hoje está presente de forma organizada em todo o Brasil.

Ao regatar a memória histórica de seu fundador, Leôncio Basbaum, nascido em Recife no dia 06 de novembro de 1907 e falecido em São Paulo, em 07 de março de 1969, ressaltamos o extraordinário pensador, médico, historiador e dirigente comunista: um militante da revolução brasileira. Podemos afirmar, nos 93 anos da UJC, que essa legenda comunista está mais do que nunca presente na história das lutas em defesa da nossa classe, como operador político na história do tempo presente quando construiu um legado vivo na saga pela revolução brasileira.

Viva Leôncio Basbaum!

Viva a UJC!

Milton Pinheiro
Cientista Político, professor de história política da UNEB, integra os conselhos editoriais de várias revistas marxistas, é pesquisador na USP. Autor/organizador de oito livros, entre eles: “Ditadura: o que resta da transição”. É membro do Comitê Central do PCB.

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