Sobre a situação do Amapá
Nota política da Coordenação Estadual da UJC Amapá (@ujc.ap)
No dia 03 de novembro, terça-feira, em meio a uma tempestade, um incêndio nos transformadores da Subestação Macapá, sob a responsabilidade da empresa espanhola Isolux, causou um blackout em 13 dos 16 municípios do estado. A subestação, privatizada no âmbito dos projetos do “Linhão de Tucuruí” que interligou o Amapá ao Sistema Integrado Nacional (SIN), sofreu perda total, danificando seus 3 transformadores, provavelmente após a queda de uma descarga atmosférica no local.
Apesar de as causas ainda estarem sendo investigadas, há grandes indícios de responsabilidade direta da empresa espanhola, o que pode ser consequência desde o projeto que venceu a licitação ou até da própria manutenção da subestação. Caso se confirme que o incêndio foi causado pela descarga atmosférica, por que os para-raios não funcionaram? Como confiar num projeto que venceu uma licitação, inclusive da estatal Eletronorte, no qual o critério para tal foi o fato de ter sido mais barato?
Seja como for, a atual situação tem sido didática quanto aos efeitos da privatização do setor energético, que vem sofrendo tentativas constantes de avanço privatista por parte do governo de Jair Bolsonaro e de Davi Alcolumbre, com o último lançando constantes ataques sobre a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA). O problema causado pela Isolux não encontrou resposta por parte da própria empresa, que não tinha um transformador reserva e a resposta precisou vir em grande medida da Eletronorte, que enviou técnicos e material de estados do norte e nordeste visando resolver o apagão.
As consequências do apagão para o povo amapaense têm sido devastadoras. Nesses dias de apagão intermitente a comida do mês estragou, padarias fecharam ou racionaram a venda de pão, faltou água potável e para higiene pessoal – isso durante a pior pandemia deste século -, não havia possibilidade de saque de dinheiro para fazer novas compras, pequenos comerciantes amargaram prejuízos enormes e houve filas gigantescas para qualquer serviço básico ou compra dos insumos que estavam disponíveis. Aquilo que as “autoridades”, como o senhor presidente Jair Bolsonaro tem posto como a recuperação da energia de 60% a 75% do estado, desde sábado (7), é um racionamento de energia em que a classe trabalhadora das cidades tem acesso à energia em 12h do dia, às vezes menos pela instabilidade do fornecimento, enquanto condomínios fechados de alto padrão estão com energia a 24h por dia. Há relatos que dão conta de que até hoje as áreas rurais dos municípios, como os quilombos de Macapá, sequer estão participando do revezamento em questão.
A demora e o abandono, por parte do poder público e até da mídia na cobertura da situação, notados por qualquer pessoa atenta, segue o padrão que nos tem sido imposto há anos: temos os maiores índices de desemprego do país, os maiores índices de morte por violência policial, os menores índices de saneamento básico e acesso à água tratada. Somos um estado onde o abandono da classe trabalhadora reflete com crueza a dominação burguesa, o saque dos nossos recursos naturais, a degradação ambiental e a exploração do nosso povo e de nossa terra.
Como não poderia deixar de acontecer, o povo vem se revoltando e indo às ruas. Apenas entre a noite de sábado (7) e a madrugada de domingo (8), a Polícia Militar do Amapá (PM-AP) registrou 22 manifestações populares nos bairros de Macapá e Santana. A classe trabalhadora amapaense tem se manifestado e lutado por respostas do poder público, respostas que chegam por meio de balas de borracha e gás lacrimogêneo da PM.
Assim, à já tão conhecida crise estrutural do capitalismo se soma também uma crise energética local que aprofundou ainda mais as condições de carestia do povo amapaense e, em meio a isso, hordas fascistas já começaram a se mobilizar para cooptar a indignação popular. Neste domingo à tarde, no centro da capital, houve uma manifestação do movimento que se intitula “Energiza Amapá”, organizado pelas bases do partido bolsonarista Aliança pelo Brasil e que facilmente viralizou uma chamada para um ato sem “bandeiras ideológicas e partidárias”, ato este que contou com presenças ilustres de políticos locais e contou com a segurança armada da PM.
Assim, além das crises já citadas, se aproxima a possibilidade de uma crise política local que, a poucos dias das eleições municipais, tende a abalar a reputação do presidente do Senado e de seu irmão, líder nas pesquisas de intenções votos em Macapá. Apesar de, tal como o irmão, ser um grileiro de terras no estado e representar uma política profundamente privatista e anti-povo, o fato de ser apoiado pelo atual prefeito Clécio Luís tem provocado reações da base bolsonarista do estado que pretende eleger, em cima da indignação popular, um fascista de “puro sangue”.
Enquanto isso, as forças de esquerda parecem atônitas frente à conjuntura: as ações de solidariedade, desde o início da pandemia vêm sendo feitas majoritariamente por organizações filantrópicas e forças liberais, como a Rede Sustentabilidade, que organizou a rede Amapá Solidário. As tentativas de mobilizar atos também não têm surtido tanto efeito e as únicas mobilizações levadas a cabo foram por parte do Fórum Estadual em Defesa do Serviço Público, que conseguiu organizar mobilizações contra a Reforma da Previdência estadual e agora contra a Reforma Administrativa.
Seja como for e a despeito da correlação desfavorável de forças e deficiências organizativas, a mobilização das esquerdas e, principalmente, dos comunistas no Amapá é necessária e urgente. É necessária a disputa dos rumos da indignação popular, o seu fortalecimento e sua radicalização consequente, visando a auto-organização no rumo da construção do Poder Popular. Abre-se assim, uma conjuntura de difícil resposta e mobilização, mas que, se soubermos atuar de maneira séria e consequente, mesmo que possamos sofrer perdas e derrotas, sairemos fortalecidos a nível de organização e influência sobre a classe trabalhadora.
Assim, a hora é de fazer um chamado para que nossa classe se organize nos seus locais de estudo, moradia e lazer. É hora de mostrar que são os comunistas que apresentam uma política contra a carestia, a miséria e o abandono que o fascismo tenta perpetuar e aprofundar, e que, principalmente, é a força das massas, da classe trabalhadora organizada na luta que vai construir a superação dessa sociedade e construir uma alternativa radicalmente superior: o Socialismo.
POR ÁGUA, COMIDA, SAÚDE E ENERGIA!
CONTRA AS PRIVATIZAÇÕES! ESTATIZAÇÃO DO LINHÃO DO TUCURUÍ SOB CONTROLE DOS TRABALHADORES!
PELO PODER POPULAR, NO RUMO DO SOCIALISMO!