Vereador preso na ditadura militar ficou mais de 30 dias em ‘navio prisão’ de MS

O administrador aposentado Waldemar Dias de Rosas de 78 anos, que foi vereador em Corumbá na década de 60 ficou preso por mais de 30 dias no que ficou conhecido como ‘navio prisão’ na cidade na época da ditadura militar.

Esse foi um dos relatos dados nessa manhã no DCE (Diretório Central dos Estudantes) na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul durante a formação do Comitê Estadual pela Memória, Verdade e Justiça de MS que tem o objetivo de levantar informações da época do militarismo e repassar a Comissão Nacional da Verdade formada em Brasília (DF).

As atribuições do comitê serão a de auxiliar e esclarecer fatos relacionados a casos de violação de direitos humanos, como torturas e desaparecimentos, além de localizar locais ou instituições relacionados à prática de violência, recomendando assim a adoção de medidas e políticas públicas.

Um exemplo dessa violação foi esse navio usado como prisão onde mais de 40 presos políticos foram detidos em um navio do Serviço de Navegação da Bacia do Prata que era responsável pela navegação no Rio Paraná e Rio Paraguai e tinha sede na cidade de Corumbá.

“Não chegava a ser uma violência física mais era psicológica”, diz Waldemar, preso por perseguição política.

Outro relato é o do presidente do Central de Movimentos Populares (CMP) Cleutu Soares sobre o pai, Waldemar Soares, integrante na época do Partido Comunista Brasileiro, que morreu com 64 anos em 1981.

Cleutu conversou com a reportagem em julho do ano passado durante a visita do ex-primeiro ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos no governo Lula, Nilmário Miranda que esteve na Assembleia de MS representando a Comissão Nacional da Verdade.

Waldemar foi um dos líderes em Campo Grande de movimentos em prol de melhorias trabalhistas para funcionários quilombolas de uma pedreira e de cortadores de lenha na Capital, entre os períodos de 1961 a 1964.

Cleutu se emociona ao lembrar quando soldados do exército incendiaram a sua casa no bairro Cabreúva em 1964 quando tinha 5 anos. Por conta do incêndio, ele perdeu a irmã mais velha, Eunice Soares, na época com 6 anos, que morreu dois anos após o episódio, por conta de queimaduras.

“No dia a minha mãe foi com um irmão, avisar o meu pai que fazia “bicos” à noite, que ele estava sendo perseguido”. Na casa ficaram Cleuto e mais dois irmão pequenos que foram surpreendidos pelas chamas.

“Depois disso, para sobrevivermos, a minha mãe plantava mandioca e milho que eu vendia nas casas. Mas como o governo da época conseguia fazer toda uma propaganda, as pessoas fechavam as portas”, conta emocionado.

O Comitê Metropolitano que é constituído por órgãos públicos, entidades não governamentais, instituições, grupos e movimentos sociais se reunirá na próxima quarta-feira (30) para definir o rumo das ações em busca de esclarecimentos de fatos ocorridos na época em Mato Grosso do Sul.