A “paz” genocida não nos serve
Por Adelmo Felipe, Militante do PCB e do CNMO em Pernambuco
Página do Coletivo Negro Minervino de Oliveira
No último sábado (07/10), fomos “surpreendidos” pela contraofensiva do Hamas a Israel. Como se fosse uma novidade, a mídia burguesa, seus aliados pela direita e uma certa “esquerda” presa a conciliações sentiram-se na obrigação de declarar repúdio completo à resistência dos palestinos ou afirmar que esse assunto é muito complexo para tomar lados. Em momentos como esse podemos vislumbrar ao vivo e a cores o quanto a resistência do oprimido é deslegitimada por conta da suposta “violência desnecessária” levada a cabo por grupos “terroristas”.
Felizmente, quase todas as organizações autodeclaradas marxistas se colocaram de maneira incondicional ao lado dos palestinos (algo que infelizmente não acontece quando se trata de defender Cuba e a Coreia Popular). Nesse turbilhão de emoções, intepretações, falsas narrativas midiáticas e covardias, como lidar com essa questão sob uma perspectiva comunista e antirracista?
Muitos declaram que a complexidade da questão impede uma tomada de posição clara sem cair em “extremismos” e “clubismos”. Em outras palavras, aqueles e aquelas que se posicionam ao lado dos oprimidos, como nós, são necessariamente cegos às violências praticadas pelo Hamas e outros grupos tratados como terroristas.Seríamos enviesados e limitados? Ora, vamos refletir sobre isso.
Até onde me consta, a maioria das pessoas razoáveis é contrária ao Apartheid na África do Sul (1948-1994) e à Segregação Racial nos EUA (1877-1965), assim como devem ter em alta conta líderes famosos como Martin Luther King, Malcolm X e Nelson Mandela. Para se opor ao racismo, à segregação e à discriminação não é preciso participar de uma série de debates sobre o tema, muito menos ter lido pelo menos 10 artigos acadêmicos para entender a complexidade desses fenômenos. Basta você entender que há um Estado dominado por brancos que submete negros, sejam a maioria ou a minoria da população, a um sistema cruel. É fácil se posicionar.
Mas e se eu dissesse que a resistência contra esses sistemas racistas não foi pacífica? E se eu te contasse a história de um guerrilheiro que foi chamado de terrorista e aprisionado por décadas? E se eu te contasse a trajetória de um homem negro muçulmano que andava armado para sua própria segurança? Será que as “pessoas razoáveis” iriam mudar de lado? Provável que não. Talvez reconheçam que era necessário usar a força contra um regime opressor. Mas isso não deveria valer para os palestinos também? Sim, deveria.
Israel se esforça para propagandear a si mesmo como o “único país democrático do Oriente Médio”, ou seja, “todos os outros países árabes e/ou mulçumanos são liderados por selvagens que não entendem as benesses da Democracia Burguesa aos moldes ocidentais (com eleições regulares, diversos partidos e transição de governos). Rejeitam a modernidade e a civilização, são bárbaros. Israel é diferente, lá os LGBTs possuem liberdade de expressão (Paradas LGBT) e os veganos nas forças armadas têm suas preferências respeitadas”. Como não amar um país desses?
É muito fácil apresentar uma imagem bonita de um país, basta esconder todos os elementos de barbárie que fizeram e fazem aquela nação se manter de pé. Israel foi fundada como um Estado Étnico excludente com apoio do Imperialismo num território já ocupado, expulsando centenas de milhares de árabes palestinos e segregando os que sobraram, anexou regiões além dos acordos da ONU, provocou guerras, colaborou com forças reacionárias em todo o mundo e mantém um sistema político que suprime qualquer possibilidade de questionamento da sua existência. Não faltam relatos, evidências e notícias de ocupação de áreas na Cisjordânia, bloqueio econômico à Faixa de Gaza e destruição física e cultural do povo palestino. Isso que eu chamo de Democracia Burguesa. Sem ironia.
Nós, comunistas e antirracistas, não podemos vacilar quanto à denúncia da Democracia Burguesa. Ela é e sempre foi uma ferramenta de opressão da nossa classe, apesar das liberdades democráticas conquistadas antes ou durante sua vigência. Afinal, a Ditadura da Burguesia deixa de ser uma Ditadura de Classe só porque mudou de Militar para Civil? Para nós, marxistas, de jeito nenhum. A ilusão de “paz social” não passa de uma acomodação que o sistema precisa promover para evitar a revolta constante das massas.
Pensemos no Brasil, tratado como uma Democracia de mais de 30 anos: chacinas nas favelas, encarceramento em massa (com presídios sendo leiloados), transporte público de péssima qualidade (e sendo leiloado), precarização de serviços públicos, ataque permanente às aposentadorias e à CLT, assassinato de camponeses, elites agrárias e financeiras hiper-representadas nas casas legislativas, aumento dos preços dos itens de primeira necessidade…
Eu poderia citar muito, muito mais aspectos extremamente normais do nosso dia a dia e que não impedem os analistas políticos de descreverem o Brasil como uma Democracia. A burguesia nunca precisou de uma ditadura aberta para agir com crueldade contra os trabalhadores. Como uma democracia pode fazer tamanhas barbaridades? Quer mais exemplos? Basta lembrar das maiores democracias do mundo capitalista nos últimos 200 anos: Estados Unidos e Reino Unido. Nunca foram tratados como ditaduras, mas isso não os impediu de escravizar e colonizar boa parte do mundo, inclusive até hoje através de suas multinacionais escravocratas e instituições financeiras chantagistas.
Tudo bem, apesar de toda essa barbaridade que o “Estado Democrático de Direito” é capaz de fazer, a reação não passou dos limites? Não, pois, como diria Mao, “A revolução não é como um banquete”. Todas as mudanças sociais significativas foram banhadas a sangue. As classes dominantes não entregam seu poder gratuitamente. Isso precisa ser arrancado à força. E nós, trabalhadores comunistas e antirracistas, temos as mais elevadas motivações de todos os movimentos que nos precederam. Queremos construir um mundo em que a fome seja algo do passado, que a falta de moradia seja apenas um contratempo, que as opressões sejam apenas objetos de estudo de outra sociedade que há muito não mais existe. Queremos construir um mundo melhor para todos os trabalhadores, das cidades e dos campos, em toda sua diversidade e particularidades. Nesse novo mundo não são bem-vindos os colonialistas, racistas, imperialistas e capitalistas.
Não podemos ser tomados pela covardia. Devemos declarar apoio completo aos palestinos em luta (e isso não quer dizer apoiar o programa político do Hamas na íntegra ou corroborar com os regimes políticos ao redor), denunciar qualquer vacilação, colocar a nu a Democracia Burguesa e não temer o levante das massas. Nosso papel é colaborar com a organização e conscientização da classe. Esse é o papel dos comunistas no Brasil, na Palestina e em todos os cantos do mundo, pois quando chegar a nossa vez, espero eu, não vamos economizar no “terror”!
Viva a resistência palestina!
Pelo fim do genocídio!
Pela criação de um Estado Palestino Laico, Democrático, Multiétnico e Socialista!
Pelo fim do Estado Sionista de Israel!
Viva o internacionalismo Proletário!
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