Liberdade para Hussam Abu Safiya!

Manifestantes a favor da Palestina em Ontário, Canadá, exigem a libertação do médico Hussam Abu Safiya, em 5 de Janeiro de 2025
Créditos: Mert Alper Dervış / Anadolu

«A história é construída sobre as posições que tomamos»

AbrilAbril

Detido pela ocupação há mais de 70 dias, o diretor do Hospital Kamal Adwan voltou a estar com um advogado, que confirmou a sua «moral», mesmo com os longos interrogatórios, espancamentos e torturas.

O médico palestino, cuja libertação tem sido reivindicada em nível internacional, está há mais de dois meses encarcerado nas cadeias israelenses, na sequência do brutal cerco ao Hospital Kamal Adwan, em Beit Lahia (Faixa de Gaza), pelas forças do exército sionista, que culminou com a destruição da infraestrutura de saúde e a detenção do diretor hospitalar, em 27 de dezembro de 2024, juntamente com outros médicos e trabalhadores da saúde, pacientes e civis.

Na semana passada vieram a público novas informações sobre Hussam Abu Safiya, depois de a advogada palestina Ghaid Qassem ter conseguido estar com ele, confirmando que foi submetido a longos períodos de interrogatório e tortura, entre outros abusos, informa a agência Anadolu.

Apesar de alguma comunicação social ter indicado que o médico seria libertado no final de fevereiro, na etapa final da primeira fase da troca de prisioneiros entre a resistência palestina e Israel, tal fato não se verificou.

Longos períodos na solitária
Antes deste encontro, em 6 de março, Abu Safiya só tinha estado com um advogado uma vez, em fevereiro último, e então soube-se que passara duas semanas na solitária no centro de detenção de Sde Teiman, que descreveu como um «matadouro».

Denunciou que, ali, teve de enfrentar maus tratos e abusos idênticos aos que foram revelados por outros presos palestinos sob custódia das forças de ocupação, nomeadamente passar horas algemado, ser obrigado a se ajoelhar e sentar horas seguidas sobre pedras.

«Foi também sujeito a abusos físicos severos», incluindo espancamentos com bastões, choques elétricos e golpes repetidos no peito.

Dali foi transferido para a cadeia de Ofer, na Margem Ocidental ocupada, onde passou 25 dias na solitária, antes de passar à seção 24, juntamente com outros detidos em Gaza.

Ghaid Qassem explicou que a seção 24, tal como a 23, se destina a prisioneiros provenientes do enclave costeiro e visa mantê-los isolados de outros prisioneiros palestinos – tanto da Cisjordânia como dos territórios ocupados por Israel em 1948.

O «matadouro» de Sde Teiman
Tendo por base o testemunho de Abu Safiya e o de outros presos que encontrou, Qassem referiu-se às condições no interior do campo de detenção de Sde Teiman afirmando: «Se falarmos sobre esta prisão, é um matadouro no verdadeiro sentido da palavra. A tortura, as violações e a fome não têm precedentes.»

Sobre as atrocidades praticadas aos prisioneiros palestinos no centro de detenção sionista, a advogada forneceu mais detalhes, em que se incluem acorrentar prisioneiros dez meses seguidos, negar cuidados médicos a amputados, amarrar detidos idosos e vendá-los.

Além disso, os prisioneiros contaram que têm de aguentar temperaturas gélidas em celas ao ar livre, onde são constantemente expostos ao vento e à chuva, obrigados a sentar-se no chão, impedidos de falar, rezar ou até de ler o Corão.

Em termos de tortura psicológica, Qassem foi informada de que «a inteligência israelense diz frequentemente aos prisioneiros em Sde Teiman que todas as suas famílias foram mortas, quer seja verdade ou não». «Tais táticas deixam cicatrizes psicológicas profundas», disse.

Estatuto de «combatente ilegal»
No dia 12 de fevereiro, um militar israelense emitiu uma ordem de detenção para Abu Safiya ao abrigo da «lei do combatente ilegal», revelou o Centro Al Mezan para os Direitos Humanos.

A advogada explicou que as autoridades israelenses decidiram classificar Abu Safiya como «combatente ilegal» por não terem conseguido alinhavar um processo contra ele, uma vez que, após 45 dias de interrogatórios, não encontraram qualquer prova que o incriminasse.

Com esta classificação, despojaram Abu Safiya dos seus direitos legais básicos, incluindo a representação ou a acusação formal, e justificaram o prolongamento repetido da sua detenção sem acusação.

Tortura e longas sessões de interrogatório consecutivas
A advogada palestina revelou que o médico foi sujeito a longas sessões de interrogatório ao longo de 13 dias consecutivos, e que cada sessão durou cerca de oito a dez horas. Abu Safiya sofreu ainda torturas e espancamentos, além de abusos verbais e psicológicos.

Ghaid Qassem referiu-se também à aparição forçada de Hussam Abu Safiya numa reportagem gravada pelo Canal 13 israelense, no final de fevereiro, como mostra do abuso psicológico sofrido pelo médico.

Sobre a reportagem, a advogada destacou que Abu Safiya não sabia que a entrevista fora gravada. «Foi apanhado de surpresa pelas filmagens. Não foi informado e, após a entrevista, foi isolado, humilhado, espancado e torturado», disse.

O objetivo da ocupação israelense seria o de desmoralizar Abu Safiya e os seus apoiantes em todo o mundo, filmando-o exausto e acorrentado. No entanto, Qassem confirmou a firmeza demonstrada pelo médico.

Inabalado pelo tratamento desumano e pela tortura que sofreu, o médico palestino disse à advogada: «Uma pessoa cria uma história, e a história é construída sobre as posições que ela toma.»