A ESTRATÉGIA DO NENÚFAR

A primeira coisa que vi no mês passado quando entrei no avião de carga C-17 cinza escuro da Força Aérea foi um vazio, como se algo faltasse. Faltava um braço esquerdo, para ser exato, cortado na altura do ombro, temporalmente arrancado. Carne gordurosa, pálida, manchada de um vermelho brilhante nas bordas. Parecia carne cortada em pedaços. O rosto e o que sobrava do resto do homem estavam ocultos por mantas, um edredom com a bandeira dos EUA e, em torno, vários tubos e cintas, pequenos alambrados, bolsas de soro e monitores médicos.

Esse homem e outros dois soldados gravemente feridos – um com dois tocos onde antes haviam pernas, o outro lhe faltava uma perna – estavam entubados, inconscientes e encostados em macas afixadas nas paredes do avião que acabava de aterrissar na Base Aérea Ramstein, da Alemanha. Uma tatuagem no braço restante do soldado dizia: “A morte é melhor do que a desonra”.

Perguntei a um membro da equipe médica da Força Aérea se sempre recebia vítimas semelhantes a essas. Muitas, como neste voo, provenientes do Afeganistão, me disse. “Muitas do Chifre da África”, agregou. “Na realidade os meios de informação oficiais falam muito pouco disso”.

De onde na África?, perguntei. Disse que não sabia exatamente, mas principalmente do Chifre, frequentemente com feridas graves. “Muitos de Yibuti”, agregou, referindo-se a Camp Lemonnier, a principal base militar dos EUA na África, mas também de “outros lugares” da região.

Desde as mortes de Black Hawk derrubado [título na Espanha; na América Latina hispânica, La caída del halcón negro] na Somália há quase 20 anos, temos ouvido pouco, se é que falam algo sobre as vítimas militares dos Estados Unidos na África (fora uma estranha informação na semana passada sobre três comandos de operações especiais mortos, junto com três mulheres identificadas por fontes militares dos EUA como “prostitutas marroquinas”, em um misterioso acidente automobilístico em Mali). A crescente quantidade de pacientes que chegam a Ramstein desde a África decorre daocultação de uma significativa transformação na estratégia militar dos EUA para o século XXI.

É provável que essas vítimas sejam as primeiras da quantidade crescente de soldados feridos provenientes de lugares muito distantes do Afeganistão e Iraque. Refletem o crescente uso de bases relativamente pequenas, como Camp Lemonnier, que os planificadores militares veem como um modelo para futuras bases dos EUA “espalhadas”, como explica um acadêmico, “por regiões nas quais os EUA não têm mantido anteriormente uma presença militar”.

Estão ficando para trás os dias quando Ramstein era a base simbólica dos EUA, um colosso do tamanho de uma cidade repleta de milhares de estadunidenses, com supermercados, Pizza Huts, e outras comodidades. Porém, não pensem nem por um segundo que o Pentágono esteja fazendo as malas, reduzindo sua missão global e voltando para casa. De fato, com base nos eventos dos últimos anos, é possível que seja exatamente o contrário. Enquanto diminui a coleção de bases gigantes da era da Guerra Fria, a infraestrutura de bases ultramarinas explodiu em tamanho e alcance.

Sem que a maioria dos estadunidenses saiba, a criação de bases em todo o planeta está aumentando, graças a uma nova geração de bases que os militares chamam “nenúfares” (como quando uma rã salta a partir de uma flor aquática até sua presa). São pequenas instalações secretas e inacessíveis, com uma quantidade restrita de soldados, comodidades limitadas e armamento e provisões previamente asseguradas.

Em todo o mundo, de Yibuti às selvas de Honduras, dos desertos da Mauritânia às pequenas Ilhas Cocos da Austrália, o Pentágono tem buscado tantos nenúfares quanto pode, em tantos países quantopode, o más rápido possível. Ainda que custe fazer estatísticas em vista da natureza frequentemente secreta dessas bases, é provável que o Pentágono tenha construído mais de 50 nenúfares e outras pequenas bases desde o ano 2000, enquanto explora a construção de dezenas mais.

Como explica Mark Gillem, autor de America Town: Building the Outposts of Empire, o novo objetivo é “evitar” as populações locais, a publicidade e a possível oposição. “Para projetar seu poder”, diz, os EUA querem “postos avançados isolados e independentes, estrategicamente” localizados em todo o mundo. Segundo alguns dos mais fortes defensores da estratégia no Instituto da Empresa Estadunidense???, o objetivo deve ser “criar uma rede mundial de bases fronteiriças”, com os militares estadunidenses, “a ‘cavalaria global’ do Século XXI”.

Semelhantes bases nenúfares se converteram em uma parte crítica de uma estratégia militar em desenvolvimento de Washington, que aponta para a manutenção da dominação global dos EUA, fazendo muito mais com menos em um mundo cada vez mais competitivo, cada vez mais multipolar. É bastante notável, sem dúvidas, que essa política de ajuste das bases globais não tenha recebido quase nenhuma atenção pública, nem uma supervisão significativa do Congresso. Enquanto isso, como demonstra a chegada das primeiras vítimas da África, os militares dos EUA estão se envolvendo em novas áreas do mundo e em novos conflitos, com consequências potencialmente desastrosas.

Transformação do império de bases

Poderíamos pensar que os militares dos EUA se encontram em um processo de redução, em lugar de expansão, da sua pouco percebida, mas enorme coleção de bases no exterior. Depois de tudo, foram obrigados a fechar toda a coleção de 505 bases, de megas a micros, que construíram no Iraque, e agora estão iniciando o processo de redução de suas forças no Afeganistão. Na Europa, oPentágono segue fechando a grande quantidade de bases que tem na Alemanha e retirarão imediatamente duas brigadas de combate desse país. Planeja-se que a quantidade de tropas globais sejareduzida a aproximadamente 100 mil soldados.

Sem dúvida, os EUA continuam mantendo sua maior coleção de bases de toda a história: mais de mil instalações militares fora dos 50 Estados e de Washington-DC. Inclusive desde bases com décadas de existência na Alemanha e no Japão a bases totalmente novas de drones na Etiópia e nas ilhas Seychelles, no Oceano Índico, e inclusive balneários para veraneios militares na Itália e naCoréia do Sul.

No Afeganistão, a força internacional dirigida pelos EUA ocupa mais de 450 bases. No total, os militares dos EUA mantêm alguma forma de presença de suas tropas em aproximadamente 150 países estrangeiros, para não mencionar 11 forças tarefas de porta-aviões – essencialmente bases flutuantes – e uma presença militar significativa, e crescente, no espaço. Os EUA gastam atualmente cerca de 250 bilhões de dólares por ano para manter suas bases e tropas no exterior.

Algumas bases, como a da Baía de Guantánamo, em Cuba, datam de finais do século XIX. A maioria foi construída ou foi ocupada durante a Segunda Guerra Mundial, ou logo depois, em todos os continentes, inclusive na Antártica. Ainda que os militares dos EUA desocupassem cerca de 60% de suas bases no exterior depois do colapso da União Soviética, a base de infraestrutura da Guerra Fria permaneceu relativamente intacta, com 60 mil soldados estadunidenses que permaneceram apenas na Alemanha, apesar da ausência de uma superpotência inimiga.

Sem dúvida, nos primeiros meses de 2001, inclusive antes dos ataques de 11 de setembro, o governo Bush lançou uma importante reestruturação das bases e tropas, que continua agora com o “giro para a Ásia” de Obama. O plano original de Bush era fechar mais de um terço das bases da nação no exterior e transladar tropas até o leste e o sul, mais perto das zonas de conflito previstas no Oriente Médio, Ásia, África, e América Latina. O Pentágono começou a concentrar-se na criação de “bases operativas avançadas” menores e flexíveis, inclusive “lugares de cooperação” ainda menores, ou seja, “nenúfares”. As grandes concentrações de tropas se restringiriam a uma quantidade reduzida de “bases operativas principais” (MOBs, sigla em inglês), – como Ramstein e Guam, no Pacífico, e Diego García, no Oceano Índico –, que deveriam ser expandidas.

Apesar da retórica de consolidação e fechamento que acompanhou esse plano, na era posterior ao 11-S, na realidade, o Pentágono está expandindo drasticamente sua infraestrutura básica, incluindo dezenas de importantes bases em cada país do Golfo Pérsico, com exceção do Irã, e em vários países centro-asiáticos críticos para a guerra no Afeganistão.

Reinicia-se a expansão das bases

O “giro para a Ásia”, anunciado recentemente por Obama, assinala que a Ásia oriental estará no centro da explosão das bases nenúfares e em eventos relacionados. Na Austrália, estão posicionandofuzileiros navais dos EUA em uma base compartilhada em Darwin. Em outros lugares, o Pentágono se dedica a planos para uma base de drones e vigilância nas ilhas Cocos, da Austrália, com desdobramentos em Brisbane e Perth. Na Tailândia, o Pentágono negociou direitos de novas visitas da Marinha e um “centro de ajuda para desastres” em U-Tapao.

Nas Filipinas, de onde o governo expulsou os EUA da grande Base Aérea Clark e da Base Naval Subic Bay em princípios dos anos de 1990, até 600 soldados das forças especiais estão operando silenciosamente no sul do país desde janeiro de 2002. No mês passado, os dois governos chegaram a um acordo sobre o uso futuro por parte dos EUA de Clark e Subic, assim como de outros centros de reparação de suprimentos da era da Guerra do Vietnã. Como sinal de mudança dos tempos, os funcionários estadunidenses inclusive assinaram em 2011 um acordo de defesa com seu antigo inimigo, o Vietnã, e iniciaram negociações para o crescente uso de portos vietnamitas pela Marinha.

Em outros lugares da Ásia, o Pentágono reconstruiu uma pista de aterrissagem na pequena ilha Titian, perto de Guam, e considera futuras bases na Indonésia, Malásia e Brunei, enquanto impulsiona vínculos militares mais estreitos com a Índia. Suas forças armadas realizam a cada ano 170 exercícios militares e 250 visitas a portos na região. Na ilha Jeju, da Coréia do Sul, os militares coreanos constroem uma base que formará parte do sistema de defesa de mísseis dos EUA, à qual as forças estadunidenses terão acesso regularmente.

“Simplesmente não podemos estar em um só lugar para fazer tudo que necessitamos”, disse o comandante do Comando Pacífico, o almirante Samuel Locklear III. Para os planejadores militares, “fazer tudo que necessitamos” se define claramente como o isolamento e (na terminologia da Guerra Fria) “contenção” da China, a nova potência da região. Isso significa evidentemente disseminar novas bases por toda a região, agregando-as às mais de 200 bases estadunidenses, que têm cercado a China por décadas, no Japão, Coréia do Sul, Guam e Havaí.

E a Ásia é apenas o começo. Na África, o Pentágono criou silenciosamente “cerca de uma dezena de bases aéreas” para drones e vigilância desde 2007. Fora o Camp Lemonnier, sabemos que os militares criaram ou criarão imediatamente instalações em Burkina Faso, Burundi, na República Centro-africana, na Etiópia, Quênia, Mauritânia, São Tomé y Príncipe, Senegal, Seychelles, Sudão do Sul e Uganda. O Pentágono também estuda a construção de bases na Argélia, Gabão, Gana, Mali e Nigéria, entre outros lugares.

No próximo ano, uma força do tamanho de uma brigada de 3 mil soldados, e “possivelmente mais”, chegará para realizar exercícios e missões de treinamento em todo o continente. No Golfo Pérsico, a Marinha está desenvolvendo uma “base avançada flutuante”, ou “navio-mãe”, para que sirva de “nenúfar” flutuante para helicópteros e barcos patrulheiros, e está envolvida em um grande aumento das forças na região.

Na América Latina, depois da expulsão dos militares do Panamá, em 1999, e do Equador, em 2009, o Pentágono criou ou atualizou novas bases em Aruba y Curaçao, Chile, Colômbia, El Salvador e Peru. Em outros lugares, o Pentágono financia a criação de bases militares e policiais capazes de abrigar forças estadunidenses em Belize, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Costa Rica e,inclusive, no Equador. Em 2008, a Marinha reativou sua Quarta Frota, inativa desde 1950, para patrulhar a região. Os militares podem desejar uma base no Brasil e buscaram infrutiferamente criar bases, supostamente para ajuda humanitária e de emergência, no Paraguai e na Argentina.

Finalmente, na Europa, depois de chegar aos Bálcãs durante as intervenções dos anos de 1990, as bases estadunidenses se deslocaram para alguns Estados do bloco oriental da ex-União Soviética. O Pentágono desenvolve atualmente instalações capazes de apoiar deslocamentos rotativos, do tamanho de brigadas, na Romênia e Bulgária, e uma base de defesa de mísseis e instalações aéreas na Polônia. Previamente, o governo de Bush manteve duas instalações ocultas (prisões secretas) da CIA na Lituânia e na Polônia. Cidadãos da República Checa rechaçaram uma base de radar planejada para o sistema de defesa de mísseis do Pentágono, que ainda não foi aprovada, e agora a Romênia receberá mísseis baseados em terra.

Um novo modo de guerra dos EUA

Um nenúfar em uma das ilhas no Golfo de Guiné, de São Tomé y Príncipe, frente à costa ocidental, rica em petróleo, da África, ajuda a explicar o que está sucedendo. Um funcionário estadunidense descreveu a base como “outra Diego Garcia” referindo-se a base do Oceano Índico que ajuda a assegurar por décadas a dominação dos EUA sobre os insumos de energia do Oriente Médio. Sem a liberdade de criar novas grandes bases na África, o Pentágono está utilizando São Tomé e una crescente coleção de outros nenúfares no continente com a intenção de controlar outra região crucial rica em petróleo.

Muito além da África Ocidental, a competição do “Grande Jogo” do século XIX pela Ásia Central voltou com força, e desta vez de modo global. Estende-se a terras ricas em matérias-primas da África, Ásia e América do Sul, enquanto os EUA, China, Rússia e membros da União Europeia se enfrentam em uma competição cada vez mais intensa pela supremacia econômica e geopolítica.

Enquanto Pequim, em particular, tem participado dessa competição de uma maneira sobretudo econômica, marcando o globo com investimentos estratégicos, Washington está se concentrado implacavelmente na força militar como seu trunfo global, marcando o planeta com novas bases e outras formas de poder militar. “Esquecemos os investimentos em grande escala e as amplas ocupações no continente euro-asiático”, escreveu Nick Turse sobre essa nova estratégia militar do Século XXI. “Em vez disso, pensa-se em forças de operações especiais… exércitos “testa de ferro”… militarização da espionagem e da inteligência… aviões drones sem tripulação… ataques cibernéticos e operações conjuntas do Pentágono com agências governamentais ‘civis’ cada vez mais militarizadas”.

A essa incomparável potência aérea e naval de longo alcance há que agregar as vendas de armas que superam qualquer nação da Terra; missões humanitárias e de ajuda em desastres que servem claramente a fins de inteligência militar, a patrulhas e a funções de “corações e mentes”; o deslocamento rotativo de forças regulares dos EUA em todo o globo; visitas a portos e o desdobramento expansivo de exercícios militares conjuntos e missões de treinamento que dão aos militares dos EUA uma “presença” de fato em todo o mundo e que ajudam a converter os militares estrangeiros em forças “testa de ferro”.

E cada vez mais bases nenúfares.

Os planajadores militares preveem um futuro de intermináveis intervenções em pequena escala nas quais uma grande coleção de bases, geograficamente dispersas, sempre estarão preparadas para um aceso operativo instantâneo. Com bases na maior quantidade de lugares possíveis, os planejadores militares querem estar em condições de se voltarem para outro país convenientemente próximo, caso os EUA não possam utilizar uma certa base, como foi o caso na Turquia antes da invasão do Iraque. Em outras palavras, os funcionários do Pentágono sonham com uma flexibilidade quase ilimitada, a capacidade de reagir com notável rapidez diante de eventos em qualquer parte do mundo, e que, portanto, conceda os EUA o controle militar total do planeta.

Para além da utilidade militar, as bases nenúfares e outras formas de projeção do poder são também instrumentos políticos e econômicos utilizados para construir e manter alianças e assegurar um aceso privilegiado dos EUA a mercados, recursos e oportunidades de investimentos nos países estrangeiros. Washington planeja utilizar bases nenúfares e outros projetos militares para sujeitar países na Europa Oriental, África, Ásia e América Latina o mais estreitamente possível aos militares dos EUA, e assim a contínua hegemonia política e econômica dos EUA. Em conclusão, os funcionários estadunidenses esperam que o poderio militar estabeleça sua influência e mantenha a maior quantidade possível de países dentro da órbita estadunidense em uma época em que alguns estão afirmando sua independência, ainda com mais força, e gravitam até a China e outras potências ascendentes.

Esses perigosos nenúfares

Ainda que a dependência de pequenas bases possa soar mais inteligente e mais econômica que manter imensas bases que sempre criaram problemas em lugares como Okinawa e Coréia do Sul, os nenúfares ameaçam a segurança global e dos EUA de várias maneiras.

Primeiro, o termo “nenúfar” pode ser enganoso e intencionalmente, ou de outra forma, essas instalações podem crescer rapidamente até se converterem em imensas bestas.

Segundo, apesar da retórica sobre a extensão da democracia que persiste em Washington, a construção de mais nenúfares garante na realidade a colaboração com um número crescente de regimes despóticos, corruptos e assassinos.

Terceiro, existe um modelo bem documentado do dano que as instalações militares de diversos tamanhos infligem às comunidades. Ainda que os nenúfares pareçam prometer isolamento de uma oposição local, com o tempo acontece frequentemente que inclusive as pequenas bases causam o repúdio dos movimentos de protesto.

Finalmente, uma proliferação de nenúfares significa a militarização progressiva de grandes áreas do globo. Como os verdadeiros nenúfares – que na realidade são parasitas aquáticas –, as bases tendem a crescer e a se reproduzir incontrolavelmente. Por certo, as bases tendem a engendrar outras bases, criando “raças de bases” com outras nações, aumentando as tensões militares e desestimulando as soluções diplomáticas de conflitos. Depois de tudo isso, como reagiriam os EUA se a China, Rússia, ou Irã construísse ainda que fosse uma só base nenúfar própria no México ou no Caribe?

Para a China e a Rússia em particular, mais bases estadunidenses próximas de suas fronteiras ameaçam provocar novas guerras frias. Mais inquietante ainda, a criação de novas bases para se proteger contra uma suposta futura ameaça militar chinesa pode chegar a se converter em uma profecia que se autorrealize: semelhantes bases na Ásia criarão provavelmente a ameaça contra a qual supostamente se devem proteger, fazendo com que uma catastrófica guerra contra a China seja mais provável – não menos.

É alentador, no entanto, que as bases no estrangeiro tenham começado a gerar uma investigação crítica através do espectro político, desde a senadora republicana Kay Bailey Hutchison e o candidato presidencial republicano Ron Paul, ao senador democrata Jon Tester e o colunista do New York Times, Nicholas Kristof. Enquanto todos buscam meios para reduzir o deficit, o fechamento de bases no estrangeiro possibilita economias fáceis. Por certo, cada vez mais personagens influentes reconhecem que o país simplesmente não se pode permitir mais de mil bases no exterior.

A Grã-Bretanha, como outros impérios anteriores, teve que fechar a maior parte de suas bases restantes no exterior em meio de uma crise econômica nos anos de 1960-1970. Os EUA se moverãoindubitavelmente nessa direção cedo ou tarde. A única pergunta é se o país renunciará a suas bases e reduzirá sua missão global voluntariamente ou se seguirá o caminho da Grã-Bretanha como potência em decadência obrigada a renunciar a suas bases desde uma posição de debilidade.

Por certo, as consequências de não eleger outro caminho vá mais além dos motivos econômicos. Se continuar a proliferação dos nenúfares, das forças de operações especiais e a guerras de drones, é provável que os EUA enfrente novos conflitos e novas guerras, gerando formas desconhecidas de reação e inegável morte e destruição. Nesse caso, mais vale que nos preparemos para a chegada de muitos mais voos – desde o Chifre da África até Honduras – não transportando apenas amputados, mas caixões.

David Vine é professor-assistente de Antropologia na American University em Washington DC. É autor de Island of Shame: The Secret History of the U.S. Military Base on Diego Garcia(Princeton University Press, 2009). Escreveu para o New York Times, Washington Post, The Guardian, e Mother Jones, entre outros. Atualmente termina um livro sobre as mais de milbases militares estadunidenses localizadas fora dos EUA.

Fonte (em inglês): http://www.tomdispatch.com/post/175568/tomgram%3A_david_vine%2C_u.s._empire_of_bases_grows/#more

Fonte em espanhol: http://www.rebelion.org/noticias/ee.uu./2012/7/la-estrategia-del-nenufar-153172

Tradução: PCB – PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO