O aposentado Joel Andrade, preso e torturado, relata, em entrevista, a experiência dos anos de chumbo no Brasil

O aposentado Joel Andrade, preso e torturado, relata, em entrevista, a experiência dos anos de chumbo no Brasil.

“No dia 12 de abril de 1975, eu estava na minha casa, dormindo, quando fui acordado às 6h da manhã e levado preso para o DOI-CODI, com capuz na cabeça. Lá, eu passei por momentos muito difíceis: fui colocado no pau de arara e na cadeira do dragão”.

O mês de abril foi marcado por várias manifestações que lembraram os 48 anos do golpe militar. O Sintrajud, em respeito à memória dos trabalhadores que também foram presos e torturados pelo regime, publica a entrevista com aposentado da Justiça Federal, Joel de Andrade Teixeira.

Jornal do judiciário – Como o senhor lembra o cenário brasileiro que culminou no golpe?

Joel – A Ditadura foi um ato de força utilizado e todos foram pegos de surpresa, apesar das movimentações dos militares para que o golpe avançasse. Estávamos “dormindo”, pensando que o golpe não iria acontecer e que não atacariam tão violentamente a população. Além das ações de repressão, eles ( militares ) tiveram o apoio do imperialismo norte-americano, inclusive com o reforço da esquadra norte-americana.

JJ – Qual a organização que o senhor militava e como foi a prisão?

Joel – Era militante do PCB e atuava nos movimentos populares. Estava na categoria de aeroviários. Éramos poucos. Fizemos a luta de massas dentro dos sindicatos e das organizações de base, mas, no dia 12 de abril, eu estava na minha casa dormindo, quando fui acordado às 6h da manhã e levado preso para o DOI-CODI, com capuz na cabeça. Lá, eu passei por momentos muito difíceis: fui colocado no pau de arara, na cadeira do dragão e tomei choque nos ouvidos. Hoje, tenho problema de audição.

JJ – O senhor ficou quanto tempo nas mãos dos torturadores?

Joel – Fiquei aproximadamente um mês e era torturado todos os dias. Trabalhava na Transbrasil e, quando eu voltei para o meu posto, fui mandado embora devido à prisão. Devido à demissão, hoje, recebo uma indenização. Desde a ditadura, sempre militei em prol do movimento social, como milito hoje no sindicato, para que a classe trabalhadora deixe de ser explorada e criarmos um novo sistema onde não haja a exploração do homem pelo homem.

JJ – Qual o sentimento do senhor com a comemoração dos militares nos 48 anos do Golpe?

Joel – Foi de repulsa, porque eles se fazem de “coisa morta” daquela barbaridade que cometeram. Eles devem ser punidos. Sabemos que o Brasil está sendo condenado pela OEA, por não ter condenado os torturadores do jornalista Vladimir Herzog e de muitos outros brasileiros que foram torturados nas mãos destes mesmos militares que hoje estão se dizendo inocentes.

JJ – Sobre a Comissão da verdade, qual é a avaliação do senhor?

Joel – Na Comissão, devem estar pessoas de valores e que realmente compreendam os direitos de quem foi torturado e precisa reparação. Eu tenho dúvidas quanto ao papel da Comissão da Verdade, mas vamos aguardar.

JJ – E a relação do governo Dilma Roussef com os torturadores da Ditadura?

Joel – Nos sistema capitalista, o governo é o administrador da burguesia e Dilma está administrando os interesses e a economia para fortalecer os mecanismos da burguesia. Por isso, ela está sendo um instrumento deste setor contra os trabalhadores.

Fonte: Jornal do Judiciário – 26 abr 2012 – Órgão Oficial do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário Federal no Estado de São Paulo.

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