PCM: Intervenção no 14° Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários

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Intervenção no 14° Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários

Domingo, 25 de novembro de 2012 10:30 Partido Comunista do México

http://www.comunistas-mexicanos.org , mailto:  comunista@prodigy.net.mx

Contribuição do Partido Comunista do México no 14° Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários

Tema: “Fortalecer as lutas contra a agressividade imperialista em crescimento, para a satisfação dos direitos e aspirações socioeconômicas dos povos, pelo socialismo”.

Beirute, Líbano

22 a 25 de Novembro de 2012

O Comitê Central do Partido Comunista do México expressa seu reconhecimento ao Partido Comunista do Líbano pelo esforço organizativo para o 14° Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários, por assumir a preparação do Encontro Internacional na região onde o imperialismo mais perigosamente mostra sua tendência à guerra, onde mais se desenvolve a pugna interimperialista. Assim, reconhecemos sua longa história de resistência.

Nos anos anteriores, como refletem as declarações finais e as inúmeras intervenções, o movimento comunista internacional se antecipou à inevitabilidade da crise, esclareceu o caráter da crise, sua natureza como uma crise de superprodução e superacumulação. Agora, o MCI observa a ofensiva generalizada do capital contra o trabalho em vários países, como uma tendência do imperialismo para estabilizar-se.

Ao mesmo tempo, contamos com a experiência conjunta das lutas maciças e militantes da classe operária, assim como a participação direta em múltiplas frentes de resistência dos povos às intervenções e agressões. Todo o anterior ajuda na busca de uma saída favorável aos povos, de uma saída que rume para a queda e derrota do capitalismo, do mercado, do imperialismo.

Isto forma parte do patrimônio do movimento comunista internacional. Os comunistas sempre foram à raiz dos problemas e jamais se contentaram em denunciar os sintomas das contradições, se diferenciando de outros movimentos. Somos herdeiros de Marx, Engels, Lenin. Somos portadores das ferramentas do socialismo científico. Somos responsáveis em levar isto a nossa classe ante a marcha para a barbárie do imperialismo.

No mundo inteiro o imperialismo, o poder dos monopólios, impõe que a classe operária pague pela crise, desvalorizando a força de trabalho, busca sobre esta base aumentar a extração da mais valia. Isto, mediante o prolongamento da jornada de trabalho, o saqueio das pensões e das aposentadorias, os cortes do fundo social, o cancelamento de direitos e conquistas trabalhistas, a liquidação dos contratos coletivos e os sindicatos, a limitação extrema do consumo popular, etc. Todos estes sacrifícios deixam claro que vivemos nos limites históricos do imperialismo, que mostra sinais de uma acelerada decomposição.

Frente a ele, observamos cheios de orgulho e alegria que a luta operária se põe de pé, se coloca de novo no centro da luta de classes e destrói na prática as teorias que falam sobre o fim da classe operária e de seus partidos de vanguarda. Pode mos citar como exemplo disso as mais de 30 greves gerais na Grécia desde que começou a crise, a potente greve em Portugal, as lutas maciças e militantes na Espanha, as mobilizações conjuntas na Europa, as sucessivas greves na Nigéria, no Sudão, etc. O planeta se comove com estas ações que dão mostra da nossa classe na luta para retomar o lugar que é seu por direito.

No México, as expressões de repúdio a estas agressões que recorrem à classe operária mexicana estão anuladas pela falta de independência de classe da esmagadora maioria dos sindicatos. A baixíssima taxa de sindicalização é outro fator grave e que traça diante de nós a tarefa principal.

Esta debilidade de resposta classista tem limites. Já com a recente reforma laboral, que é  o golpe mais devastador contra o valor da força de trabalho em quase um século, o descontentamento chegou a um ponto apenas controlável. Praticamente se perderam os direitos conquistados com as lutas de princípios do século XX até a década de 1930. Década onde eclodiria a última greve geral. Isto é, certamente, um ponto de inflexão, pois a classe operária perdeu sua independência e o histórico PCM se manietou quando se colocou na agenda a falar do governo progressista de Cárdenas, da Frente com a burguesia nacional, etc. Os comunistas do México têm pagado um preço cruelmente elevado por esses erros, têm que sofrer por pouco mais de 80 anos com o controle estatal dos sindicatos mais importantes. Podem estar certos que temos tomado medidas para desafiar esse controle e inserirmo-nos nos locais de trabalho. Não desejamos repetir erros e seria lamentável que algum Partido irmão tivesse que passar por um cenário similar.

Os direitos que foram cancelados são aqueles conquistados com duras lutas. Esta suspensão retrocede o cenário a esse momento. Já existem mobilizações e a luta se organiza de local em local de trabalho. Só que agora existe a possibilidade de não cometer os mesmos erros, de recompor o movimento operário com seu próprio caráter classista e ligando as lutas imediatas com a questão com a questão do poder. Temos feito absolutamente tudo o que está em nosso alcance para confrontar esta agressão. Dezenas de milhares de operários conheceram nossos chamados de alerta e pudemos desencadear ações em várias regiões de nosso país.

Sem renunciar ao trabalho entre os empregados dos serviços e outros setores de trabalhadores. Para nós, a frente de trabalho político mais importante é a dos operários industriais. Temos obtido êxitos parciais neste ano. Novos destacamentos se interaram com ações militares à luta. Novas frentes de massas se incorporam ao Partido. Começou-se a construção de sindicatos onde não existiam e de organizações partidárias por local de trabalho. Mas, neste mesmo período de êxitos, estivemos submetidos às manipulações e aos ataques. Assim, temos que assumir nas fábricas um trabalho contundente, com métodos adequados a responder à duríssima repressão existente. Porém, existem novos mecanismos dos quais se aproveitam nossos inimigos. Neste mesmo período, surgiu uma série de montagens virtuais que pretendem implantar confusões sobre o Partido Comunista em escala nacional e internacional. O periódico partidário “El Comunista”, que é a continuidade do órgão anterior, “Nuestro Tiempo”, e que acaba de organizar a celebração pelos 18 anos de fundação do Partido Comunista do México, também enfrentou o surgimento de outro periódico, que tenta sequestrar seu nome. Nosso Partido jamais se tornará obediente ao sistema, jamais se submeterá, jamais renunciar a lutar por levar sua política à classe operária. Confiamos em contar com o respaldo de nossos partidos irmãos deste Encontro Internacional para repudiar estes mecanismos de confusão.

A união das lutas classistas pela defesa das conquistas sindicais e trabalhistas é hoje dialeticamente inseparável da luta pela derrocada do capitalismo em sua fase imperialista e a construção do socialismo-comunismo. Tomamos medidas para que a relação do Partido Comunista com os sindicatos se fortaleça em escala nacional, com trabalho visível e fortaleça nessa direção a FSM.

Pensamos que é uma necessidade para os partidos comunistas especializar seus quadros no movimento operário e sindical, sobretudo, no período da crise.

Assim, pensamos e defendemos que, diante da crise e das medidas que se tomam, não devemos colocar como saída um caminho de gestão nos marcos do próprio capitalismo. Uma coisa é lutar pelas demandas populares, lutar pelo fim dos sacrifícios, por deter a barbárie, por defender o valor da força de trabalho, por reduzi-lo. Outra é semear entre a classe operária a confiança em que seus interesses podem salvaguardar-se por outra fração burguesa, por uma cogestão do capitalismo. Deve-se colocar a alternativa ao capitalismo, que é o socialismo. Certamente, em uma própria fase de transição, onde, desde o primeiro momento, o trabalhador luta pela abolição das relações mercantis, o trabalho adquire um caráter diretamente social, são expropriados os meios concentrados e centralizados de produção, etc.

Em breve, nós trabalhadores poderemos viver sem os patrões, poderemos resolver nossas necessidades sem eles e as fábricas nos pertencerão!

Sobre a América Latina, queremos apontar brevemente que nós desejamos também o sonho da união fraterna e da cooperação amistosa de nossos povos, que somos solidários com o processo bolivariano, que somos a organização política que, no México, mais mobilizou em solidariedade com Cuba nos últimos anos, como podem atestar os amigos da revolução cubana em nosso país. Porém, no entanto, a natureza com a qual se constrói a união de nossos povos, os resultados serão determinados pela natureza das relações sociais de produção no interior de cada país que se some. Nós advertimos que o imperialismo é uma categoria que alude não a um país, mas a um grau de desenvolvimento do capitalismo caracterizado pela existência de monopólios, da predominância da exportação de capital, da fusão do capital bancário e industrial, da repartição dos territórios e dos mercados, assim como a formação de associações imperialistas.

É um enfoque antidialético supor que o capital se desenvolve unilateralmente. A burguesia existente em nossos países, a burguesia que acumula em suas mãos a maior parte da riqueza social da maioria dos países latino-americanos, independentemente de sua cor ou nacionalidade, é uma burguesia plenamente imperialista.

Sabemos que manter as relações capitalistas é manter a acumulação capitalista, é manter a extração de mais valia. Sabemos da existência de poderosos monopólios com sede em nossa região. Falamos da TELMEX, da EMBRAER, da CEMEX, da VALE DO RIO, da BIMBO, etc, dos oligarcas latino-americanos que não sofrem a socialização dos meios de produção e da mudança que concentram e centralizam. Então, não vamos saber o papel que jogarão estes monopólios no meio das alianças regionais?

Hoje, todo mundo compreende o fracasso do projeto de uma Europa social. Essa promessa socialdemocrata se converteu no pesadelo bárbaro que tritura a classe operária e vai ao assalto de todos os direitos dos povos. Faz muito que Lenin, sobre a proposta de criação dos Estados Unidos da Europa, tinha advertido o caráter ou bem utópico ou bem reacionário de tal consigna.

Compreendemos a necessidade dos processos revolucionários abertos na América Latina para quebrar os monopólios com sede nos Estados Unidos. No México, os comunistas não podem assumir a posição de tentar convencer a grande burguesia de melhores condições no mercado. O que assumimos é buscar a cooperação amistosa com outros povos, tendo como base a derrocada dos monopólios, a destruição de seu poder econômico e político. Lutamos pelo socialismo porque somente no modo socialista de produção as leis econômicas estarão a serviço das necessidades modernas dos povos, fortalecendo os direitos e aspirações socioeconômicas dos povos.

Um último ponto que desejamos tratar é o que na declaração final anterior estabelecia: “As classes dominantes desenvolvem uma tentativa multifacetária para atrapalhar o descontentamento dos povos através de mudanças nos sistemas políticos, através da utilização de ONG’s pró-imperialistas e outras organizações, através de tentativa de canalizar o descontentamento dos povos em movimentos com características supostamente apolíticas ou, inclusive, reacionárias”.

Estes movimentos respondem a uma generalidade a escala internacional, o desenvolvimento da crise golpeia não só as posições da classe operária e impulsiona a agressividade do capital, mas que também levanta, mobiliza as camadas médias que assistem suas condições de vida se arruinarem, inclusive em muitas de suas seções se vem arrastadas a uma precipitada proletarização e precarização.

Sendo as camadas médias que confere sua natureza, o papel que este fenômeno joga em cada país é determinado por outras circunstâncias e não pelas que declara a si mesmo. Depende estritamente das condições da luta de classes no país dado, em primeiro lugar o nível de aprofundamento do conflito entre burguesia e proletariado, o confronto entre estas duas classes polares é a que coloca as camadas médias em um ou outro lugar. Outros fatores incluem o nível de organização do trabalho, as formas mais ou menos atrasadas mediante as quais a burguesia exerce sua dominação (ou seja, menos ou mais democráticas), a profundidade que tenha alcançado a crise, a funcionalidade dos espaços de mediação social, etc.

Assim, ocorre que, por exemplo, em um país com o máximo atraso nas formas de dominação (regimes personalistas e militares) e de mediação, com relativa dispersão da organização do trabalho este fenômeno obteve apoio de mais camada oprimidas da sociedade, desencadeando rebeliões e jogando um papel progressivo.

No entanto, imediatamente, as organizações imperialistas internacionais, especialmente a OTAN, aplicam sua experiência política e militar (as revoluções de veludo) para aproveitar a presença destes movimentos para desfazer-se de regimes que favorecem centros imperialistas rivais.

Em países avançados, onde a crise alcançou grande aprofundamento, onde a capacidade de manobra foi cortada e, daí, o peso dos partidos socialdemocratas tradicionais tenha diminuído, onde a burguesia encontra frente a si uma classe operária combativa, onde existem Partidos Comunistas fortes ou em rápida ascensão, estes movimentos não desencadearam rebeliões, a pequena burguesia retrocedeu atemorizada a posições reacionárias, a posições anticomunistas. Se refugiou em teses utópicas que falam de democratizar a vida social que é dominada pelos grandes monopólios nos marcos do próprio capitalismo. É o caso do movimento das praças na Grécia, etc.

Assim, decidimos não perder grandes esforços nem tempo com o trabalho conjuntural das camadas médias que emergem em protestos, mas submergimos na classe trabalhadora. A chamada Revolução 15M, o movimento #Yosoy132, Ocupy Wall Street, etc., expressam socialmente camadas médias afetadas pela crise, porém a última alternativa à crise virá dos locais de trabalho, afetando a geração de mais valia, confrontando os interesses dos monopólios, com greves setoriais e gerais. O dever dos partidos comunistas é organizar a classe operária, o proletariado. Prepará-lo para a derrocada, para a tomada do poder, trabalhar cotidianamente para este fim.

Um detalhe recorrente é que não podendo nuclear-se através de grandes centros de trabalho recorrem em grande medida para convocar-se a grupos de opinião no espaço das chamadas “redes sociais”. Não deixar-se guiar, nem absolutizar os meios eletrônicos. A Revolução 2.0 é um mito perverso, pois, na realidade, é instrumentada pelos mecanismos do imperialismo. Para os partidos comunistas é necessário contar com suas publicações impressas, com o periódico agitador organizador central, como vínculo com o trabalho de massas. É claro que podem ser utilizados meios eletrônicos como forma de propaganda, porém deve considerar-se que o importante é o conteúdo e a organicidade daqueles que estarão por trás das mensagens, que o material impresso é insubstituível como organizador, que nada substitui a agitação direta entre a classe.

Em concreto, sob o lema deste Encontro, propomos:

É preciso criar plataformas concretas do movimento operário e sindical, indicando que a solução é a ruptura e a derrocada do capitalismo e a edificação do poder operário e popular.

Consideramos que deve seguir fortalecendo-se a FSM, a FDIM e dar passos para reconstruir a União Internacional de Estudantes, e as outras instâncias de ação internacional.

Apoiamos o processo de paz na Colômbia, devemos, enquanto movimento comunista internacional, respaldar abertamente a iniciativa das FARC-EP.

Expressamos nossa total solidariedade com a Palestina. No México, foram os comunistas que organizaram o primeiro protesto contra a agressão selvagem do estado israelense e temos somado às demais jornadas de solidariedade.

Propomos impulsionar uma Jornada de luta internacional no Primeiro de Maio: Pelos direitos dos trabalhadores e do povo contra a exploração, contra o poder dos monopólios e pelo socialismo. Articulá-la através do Solidnet e do Grupo de Trabalho do Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)