A imprensa revolucionária tem o ‘que fazer’
Caro leitor, desde o Brasil saudamos os 65 anos de circulação do Tribuna Popular – fonte de informações tanto para os trabalhadores venezuelanos quanto para todos nós que, ao redor do planeta, buscamos informações verdadeiras sobre o que realmente ocorre na Venezuela e em seu processo bolivariano com vistas à transição ao socialismo e ao fim da propriedade privada dos meios de produção.
Em nossa opinião, Tribuna Popular é uma ilha de verdade cercada por oceanos de desinformação e manipulação quando se trata da cobertura jornalística mundial sobre a Venezuela – e das realidades política, econômica, cultural e social que se desenvolvem em seu país. Além de enfrentar a mídia burguesa e dos interesses da direita, seu noticiário também cumpre importante papel para a classe operária venezuelana ao não ceder ao mero oficialismo governista de outros veículos de comunicação que não se pronunciam contra os equívocos do Governo Chávez, quando estes ocorrem.
Isso acontece porque falamos de um veículo que, ao completar 65 anos, mantém firmes os alicerces do que conhecemos por imprensa revolucionária – aquela fundamental para a organização e conscientização da classe operária, dos trabalhadores, e para o desenvolvimento do processo de transformação social para o socialismo e o comunismo. Um periódico que não apenas faz a denúncia da opressão e das mazelas da burguesia como, nas palavras de Lênin em Que fazer? “empreende ativamente a educação política da classe operária; trabalha para desenvolver sua consciência política” e assim contribui decisivamente com sua organização.
Consideramos estar, aqui no Brasil, na mesma trincheira desse jornal que você tem em suas mãos, enfrentando os mesmos desafios e desempenhando o mesmo papel nas suas duas vertentes básicas: a agitação e a propaganda.
Em nenhum local, sob circunstância nenhuma, os ataques da burguesia aos trabalhadores, à classe operária, às diversas categorias profissionais e a seus direitos trabalhistas, previdenciários, econômicos, organizativos etc. devem ser tolerados sem uma ampla denúncia política, concreta, objetiva, que denuncie o caráter de classe da ação; ao mesmo tempo em que é necessário dizer a verdade: apenas com o poder popular e o socialismo, com o fim da propriedade privada e dos valores burgueses na cultura, na obtenção dos bens de consumo, na organização da família, das escolas e do ambiente de trabalho seremos capazes de banir tais ações.
O papel da imprensa revolucionária também é unir os trabalhadores do campo, da cidade, da indústria em torno do processo de transformação, colaborar na construção da unidade entre esses trabalhadores e os demais segmentos populares e progressistas da sociedade em prol da derrocada completa da burguesia. Não pode haver uma única investida do inimigo sem a contrapartida de uma ampla denúncia. Não pode haver uma única vitória dos trabalhadores e do movimento revolucionário sem a devida comemoração e a discussão com a sociedade dos seus benefícios, da amplitude que a todos atinge.
Usar todos os espaços possíveis
Toda essa denúncia e organização que fazemos ocorre sob forte poder e hegemonia de nossos adversários, devido à massificação de objetos como TV, o radio, a Internet, os jornais e revistas – e a quase monopolização desses instrumentos nas mãos de poucos grupos privados.
A realidade um pouco mais democrática que você vivencia na Venezuela, infelizmente, não se verifica para a maioria esmagadora da população mundial. A burguesia aproveita muito bem o avanço tecnológico para, através dos meios de comunicação, transmitir seus valores e interesses: através das agências de publicidade, investe apenas em veículos pró-capital; através de um número cada vez menor de agências de notícias (Reuters, AP,etc), transmitem para redações de todo o planeta as informações que interessam à reprodução do capital.
Junto a isso há a sistemática demissão de jornalistas nas redações e o desejo de ser o primeiro a dar a informação, o que cria o seguinte cenário: a maioria dos veículos de comunicação publica o mesmo assunto, ouvida a mesma fonte, com as mesmas conclusões. Simplesmente não há espaço para vozes alternativas!
A televisão se tornou seu principal instrumento de divulgação, pois alcança quase toda a população mundial. Para estabelecer um canal, é necessário ter uma enorme soma de recursos financeiros e a autorização dos governos. Por tais razões, é dificílimo conseguirmos atuar com esse instrumento.
Não à toa, saudamos as iniciativas dos governos Chávez, Rafael Correa e Cristina Kirchner de enfrentar com firmeza os grandes grupos privados da mídia e o estabelecimento da Telesur, que mesmo sem bater de frente com a sociedade burguesa e a ordem do capital, democratiza as informações, apresenta pautas fora do mainstream e está aberta ao diálogo com os interesses táticos, e alguns até estratégicos, dos comunistas. Ocupemos cada espaço que conseguirmos nesse canal, seja como profissionais ou entrevistados dele.
Por isso, criticamos a não participação do Brasil na iniciativa da Telesur. Em nosso país, os governos do PT (Lula e Dilma) preferiram manter o status quo e rios de dinheiro estatal financiam grupos privados de TV através da publicidade de empresas e campanhas estatais.
Além disso, o governo concede para esses grupos privados empréstimos a juros subsidiados através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – o caso mais famoso foi o recente empréstimo para a Rede Globo de TV, espécie de monopólio das telecomunicações no Brasil e defensora ferrenha dos interesses da direita. Não custa lembrar que esta rede de TV foi criada e estimulada pela Ditadura Militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, e que hoje demoniza governos como os de Chávez, Rafael Correa e Evo Morales.
De nossa parte, lutamos pelos chamados “canais comunitários”, que só têm autorização governamental para funcionar nas chamadas TVs fechadas ou a cabo, e que não recebem nenhum apoio logístico, financeiro ou jurídico por parte do governo. Pelo contrário, são deixados de lado pela justiça brasileira quando tentam se estabelecer e precisam se confrontar com as TVs abertas – que têm a obrigação legal dereceber a programação das comunitárias e colocar “no ar”.
Não podemos desprezar o alcance das emissoras – em especial as comunitárias – de rádio, veículo ainda muito utilizado e que possibilita contato direto com os ouvintes. Sempre que possível (elas são sistematicamente perseguidas pela Anatel, um órgão do estado brasileiro), as aproveitamos porque elas possuem alguma inserção junto às comunidades, possibilitando a promoção do debate político a partir da realidade e dos problemas cotidianos dessas pessoas.
A Internet, sem dúvida alguma, é a grande novidade para nós – inclusive as chamadas “redes sociais”. Eventos ocorridos em países tão díspares, como o Egito e os EUA, por exemplo, são uma clara demonstração de seu poder de comunicação e de interação. Devido ao baixo custo em comparação com outras formas de mídia, a sua proliferação é cada vez maior, principalmente entre os jovens. Estamos fortemente inclinados a utilizar esses instrumentos, furando inclusive as barreiras impostas no meio audiovisual (TV e cinema). Por isso o PCB criou seu “canal de TV online”, através do qual se pronuncia sobre as conjunturas internacional e nacional, o movimento de massas e o mundo do trabalho – sem deixar de lado a divulgação da cultura revolucionária, através de filmes, documentários e músicas. São exitosas, inclusive, nossas publicações de vídeos das “rodas de prensa del Galo Rojo” e entrevistas e pronunciamentos do camarada Oscar Figuera.
O Twitter e o Facebook também têm permitido que nossos pronunciamentos cheguem de forma mais rápida a um número crescente de pessoas, colaborando para a realização de nossas atividades políticas – sejam elas um seminário e/ou debate teórico, uma manifestação de rua e um evento de confraternização.
Entretanto, não nos deixamos levar pelo otimismo nem esquecemos que de forma geral as populações de menor renda, em sua quase absoluta maioria os trabalhadores com os quais precisamos nos comunicar, têm dificuldade de acesso a essa tecnologia – seja pelo preço médio dos computadores e do acesso à Internet, seja pela qualidade do tráfego na rede (a chamada “banda larga”).
Também estamos atentos ao fato de que seu controle em nível internacional pertence aos interesses privados, que o governo dos EUA tem imenso poder sobre sua regulamentação jurídica, que as agências de inteligência monitoram as informações e que, ao desligar de um servidor no Vale do Silício (Califórnia, EUA), podemos perder tais canais de comunicação.
O jornal de papel
Entre todos esses meios de comunicação, entretanto, continua sendo fundamental o jornal, por permitir o maior aprofundamento das discussões políticas, por permitir a distribuição “na porta da fábrica” ou na “sala de aula”, havendo contato entre o militante que o vende e o proletário que o compra.
Lênin foi o revolucionário que mais aprofundou o debate da importância do jornal para os revolucionários, a partir do texto de Marx ‘Sobre a Imprensa’. O líder do Partido Bolchevique dizia, novamente em Que Fazer?: “Não se pode começar o trabalho político vivo senão através de uma agitação política viva, o que é impossível sem um jornal … que apreça frequentemente e seja difundido de forma regular… A elaboração de um jornal político … deve ser o fio condutor: seguindo-o poderemos desenvolver ininterruptamente essa organização, aprofundá-la e alargá-la”.
Em outra passagem afirma: “O jornal não é apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo: é também um organizador coletivo. A esse respeito, pode-se compará-lo aos andaimes que se levantam ao redor de um edifício em construção; constitui o esboço dos contornos do edifício, facilita a comunicação entre os diferentes construtores, permitindo-lhes que repartam a tarefa e atinjam o conjunto dos resultados obtidos pelo trabalho organizado. É preciso que encorajemos todos aqueles que nos comuniquem os fatos, mesmo os mais corriqueiros, na esperança de que isso aumente o número de nossos colaboradores nesse campo, e que nos ensine a todos, a escolher, afinal, os fatos verdadeiramente relevantes”.
É com essa convicção que produzimos no Brasil o Imprensa Popular, são esses os princípios e táticas que verificamos nas edições que nos chegam às mãos do Tribuna Popular. Reconhecemos no periódico comunista venezuelano um “filho” direto de publicações como o Iskra e posteriormente o Pravda.
Da mesma forma, em busca de constante atualização e sem deixar de lado mais de um século de tradição marxista, estudamos as experiências positivas – buscando o que pode se adequar à atual realidade brasileira e às condições materiais objetivas de nosso partido, o PCB – em publicações como o Granma (Cuba), o Rizospastis (Grécia); o L’Humanité (França), o L’Unità (Itália), entre outros, com décadas de trajetória e que passaram por momentos realmente “históricos” na trajetória da luta de classes.
O Imprensa Popular brasileiro – e seus ‘irmãos’
No Brasil, em parte pela ferrenha perseguição pela qual o PCB passou, em parte pela traição de alguns dirigentes que eram responsáveis pela edição do órgão oficial do Partido, não logramos manter o mesmo nome de nosso jornal ao longo das décadas.
Tivemos, entre os principais títulos, A Classe Operária, Tribuna Popular, Voz Operária e Voz da Unidade.
Ao longo de nossos recém-completados 90 anos, tivemos mais de 85 jornais, como dizia o camarada Raimundo Alves de Sousa, o “Raimundão”, operário gráfico que por décadas foi o responsável pela impressão de nossos periódicos.
Foram jornais diários, semanários, mensais, revistas políticas, jornais de setores (juventude, mulheres, etc) que se espalhavam pelos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do território brasileiro.
A partir de nossa reconstrução revolucionária, iniciada em 1992, trabalhamos com a certeza de que um movimento revolucionário precisa de uma imprensa revolucionária forte, presente e atuante, capaz de levar adiante a construção de uma Frente Anti-imperialista e Anticapitalista.
É com esse princípio que publicamos o Imprensa Popular, nossa principal publicação, que resgata um título oriundo da década de 1940 e que fez história na imprensa brasileira. Ao redor dele editamos ainda a revista teórica Novos Temas, o site do Partido (www.pcb.org.br), nosso canal de TV online (www.youtube.com.br/tvpcb), nosso Twitter (www.twitter.com/partidao) e nossa página no Facebook (www.facebook.com/partidocomunistabrasileiropcboficial).
Também não deixamos de lado as pautas específicas dos movimentos sindical, juvenil e feminino, além dos 90 anos de trajetória do PCB. Por isso produzimos ainda os sites da União da Juventude Comunista (www.ujc.org.br) e da Fundação Dinarco Reis (www.pcb.org.br/fdr), além dos blogs de nossa corrente sindical Unidade Classista (csunidadeclassista.blogspot.com.br) e de nosso Coletivo de Mulheres Ana Montenegro (coletivomulheranamonenegro.blogspot.com.br).
Através desses instrumentos lutamos contra a exploração dos trabalhadores e pela emancipação da classe operária através da revolução socialista. É nossa modesta contribuição para a imprensa revolucionária, ao lado de publicações irmãs como a Tribuna Popular, com a qual há de chegar o dia em que publicaremos a manchete, com uma bela ilustração:
“Proletários de todos os países, unidos, chegam enfim ao comunismo”.