Da liberdade de expressão e da divulgação de mentiras

Tratada como um dogma, a liberdade de expressão tem sido usada com frequência para a divulgação de mentiras que beneficiam alguns grupos de interesse alinhados com alguns órgãos de imprensa.

Ontem mesmo (06/03/2013), tive o desprazer de ouvir em uma emissora de grande audiência e em cadeia nacional, um comentarista que tem uma voz extremamente desagradável (se é que se pode chamar um sujeito desses de comentarista) afirmar que a empresa estatal de petróleo venezuelana – a PDVSA – perdeu, por causa da intervenção do governo Chávez na empresa, 1 milhão de engenheiros e técnicos para empresas americanas, canadenses e árabes. Pouco depois, este mesmo sujeito disse que a PDVSA tem atualmente 100 mil empregados.

A afirmação desse sujeito é mentirosa porque nenhuma empresa de petróleo do mundo pode perder 1 milhão de empregados na sua área técnica e continuar operando;

A afirmação desse sujeito é mentirosa porque, embora possa haver demanda por engenheiros e técnicos, não existe demanda por 1 milhão de empregados de uma empresa que opera em condições convencionais de produção e refino de petróleo;

A afirmação desse sujeito é mentirosa porque não é plausível que uma empresa perca 1 milhão de engenheiros e técnicos mais experientes e opere hoje em condições satisfatórias com um total de 100 mil empregados em todas as suas áreas.

A liberdade de expressão neste caso foi nociva à sociedade. Leigos ouviram estes números e assumiram as posições induzidas pelo “erro” do tal comentarista. Evidentemente, não se trata de um simples “erro”, tendo em vista o grotesco desvio da lógica e dos fatos.

Mais curioso ainda é que o tal comentarista da voz desagradável saiu-se com esta mentira no meio de outros participantes que o ouviam no estúdio. Nenhum destes “percebeu” o erro. A produção do programa sequer entrou em ação para esclarecer os ouvintes. Enfim, a mentira virou “verdade” por omissão de toda essa gente.

Este fato permite a pergunta: quantas mentiras como esta são transformadas em verdade diariamente no rádio, na televisão e na imprensa escrita?

Este e muitos outros exemplos de mentira justificam que o tal dogma da liberdade de expressão mereça uma reavaliação. Há que haver liberdade, mas há também que haver responsabilidade. Esse tal comentarista da voz desagradável deveria, no mínimo, perder seu emprego por fraudar abertamente a boa-fé da população e para servir de exemplo. Estes procedimentos iriam progressivamente limpando os meios de comunicação das mentiras e seus efeitos nocivos.

Conselho de quem está cansado de ver mentiras como essa na imprensa: Não se considere informado por ouvir rádio, assistir televisão ou ler jornais e revistas. Todos esses defendem interesses.