Gigantesca marcha em Honduras no 1º de Maio em resposta à política de terror e miséria

É possível que somente a marcha em Havana, Cuba, tenha sido maior na América Latina e no Caribe. Porque a marcha em 1º de Maio na capital hondurenha ultrapassou todas as expectativas e deve ser vista pelo regime de Pepe Lobo como uma clara advertência para que não tente brincar com o povo trabalhador organizado – pois a resposta será contundente!

Calcula-se entre 500 e 700mil o número de pessoas que marcharam em Tegucigalpa. Em uma das pontes na Avenida das Forças Armadas pôde-se ver uma imensa faixa com o texto: Com Unidade e Popular até a Vitória Final.

UNIDADE CONTRA A POLÍTICA DE FOME E TERROR

E a unidade foi o que caracterizou este primeiro de maio em Honduras. As três centrais sindicais, organizações camponesas, estudantis, juvenis, de mulheres, organizações das regiões e bairros, encabeçadas pela Frente Nacional de Resistência Popular, marcaram a unidade popular como se houvesse um só punho erguido. E mais, as três centrais sindicais estão discutindo seriamente a possibilidade de unirem suas forças em uma única central.

A marcha desse primeiro de maio foi considerada pelos organizadores como talvez o mais importante acontecimento desde a grande greve geral de dois meses em 1954, dirigida por trabalhadores bananeros contra a exploração das empresas da Standard Fruit Co e de outras – movimento grevista este que trouxe consigo uma das legislações trabalhistas mais avançadas na América Central dessa época.

ESTAMOS MILITARIZADOS COM A BOTA MILITAR NO PESCOÇO”

Entre os manifestantes conversamos com Adriana Guevara, que em sua cadeira de rodas expressava a sua opinião na marcha, exigindo liberdade e justiça social para o povo hondurenho.

– Me dói ver a pobreza em meu país, Honduras. Se eu estou na rua é porque adquiri consciência plena da realidade que se vive em nosso país. Não é possível que até esta data estejamos militarizados com a bota militar no pescoço, disse a companheira, que reflete os anseios de todo um povo.

Quando a ponta da marcha chegou à Praça Isis Obed Murillo ainda não haviam saído os últimos manifestantes do espaço em frente à Universidade Pedagógica, onde teve início a marcha, vários quilômetros ao sul do aeroporto internacional Toncontin. Neste local foi assassinado Isis Obed Murillo por francoatiradores do exército no dia 5 de julho de 2009, uma semana após o golpe de estado militar, no momento em que o presidente derrubado Manuel Zelaya Rosales tentava aterrissar, o que foi obstaculizado por quatro caminhões militares que foram postos na pista de aterrissagem.

MASSIVA PARTICIPAÇÃO EM TODO O PAÍS

– Esta foi uma tremenda demonstração de força da Resistência e dos sindicatos de Tegucigalpa. E assim como foi em Tegucigalpa, foi em todo o país, com uma massiva participação do povo hondurenho, que despertou após o dia 28 de junho de 2009, o dia em que houve um golpe de estado que continua com as suas autoridades no poder. “O povo hondurenho está lutando por uma Constituinte”, afirma Guillermo Ponce, vicepresidente do combativo sindicato classista Stibys, que organiza os trabalhadores nas cervejarias do país.

As reivindicações no Dia Internacional da Classe Trabalhadora não faltaram. Ponce advertiu que os patrões tratam, por todos os meios, de terceirizar a organização do trabalho em cada empresa, e assim desarmar a organização de defesa dos trabalhadores – o sindicato –, e converter cada trabalhador em uma presa fácil. Também podemos observar uma penosa postergação das negociações do salário mínimo de 2010 por parte do regime direitista de Pepe Lobo que, com seu ministro do trabalho, Felícito Ávila, ex-secretário geral da central sindical CGT, oferece aos trabalhadores hondurenhos migalhas da mesa dos patrões, sustentou Ponce.

O SINDICALISTA QUE TROCOU A CAMISA

– Esta é a estratégia dos empresários que financiaram o golpe de estado. Têm o poder de adiar e adiar. Segundo: estão terceirizando as funções. Ou seja, estão transformando funções permanentes em funções temporárias e com isso evitam a contratação coletiva, o que elimina a participação dos sindicatos e é uma violação flagrante da lei.

– O ministro do Trabalho, Felícito Ávila, participou do processo eleitoral de 29 de novembro de 2009, que constituiu um apoio ao golpe de estado. Esse homem até poderia estar na marcha, mas ele não tem nada de trabalhador, é a pura realidade. Legitimaram o golpe de estado através destas eleições.

OFENSIVA NA BUSCA DE ASSINATURAS PARA UMA NOVA CONSTITUINTE

A Frente Nacional de Resistência Popular está em plena campanha para coletar mais de dois milhões de assinaturas, de modo a poder realizar o plebiscito sobre uma nova Constituinte no dia 27 de junho. Vejamos como Ponce avalia a situação desta campanha:

– Temos avançado bastante. Hoje, com toda a segurança, juntaremos mais de um milhão de assinaturas. A segunda tarefa que tem a Frente é trabalhar para que o presidente Zelaya regresse ao país, pois este é o seu país.

TRABALHADORES UNIVERSITÁRIOS EM GREVE DE FOME

Osman Ávila é fiscal do sindicato dos trabalhadores da Universidade Autônoma de Honduras, SITRAUNAH. Conta na entrevista que a universidade vive um conflito que vem desde o ano passado, pela intransigência e pela obsessão da reitora, Julieta Castellanos, de não firmar o 15º contrato coletivo com o Sitraunah.

Pelo contrário, Castellanos demitiu 186 trabalhadores, uma ação totalmente contrária a todas as normas e convenções da OIT. O sindicato respondeu, iniciando uma greve de fome com 11 trabalhadores. A reitora Castellano declarou que não lhe importa “um pepino – ou seja, ela não “dá a mínima” caso alguém morra de fome na greve.

– Foi dada a tarefa à reitora de difundir para o mundo, e isso é doloroso, que a vida de outra pessoa não lhe importa. Que a sua posição como reitora é uma posição de capataz, e de um capataz muito além do que poderia esperar uma pessoa normal. Entendemos que a atitude dela obedece a posições rígidas de dentro da oligarquia. A posição da reitora é mostrar uma espécie de nepotismo, um padrão de quem realmente não se interessa em verificar o trabalho que nossos companheiros estão fazendo.

– E muito mais terrível é que nós estamos diante de uma socióloga, uma estudiosa das sociedades, que sabe que esta postura é ilegal.

O incompreensível e contraditório nesse sentido é: como os estudantes da faculdade de direito vão interpretar as leis hondurenhas e as convenções internacionais que regulam os conflitos no mercado de trabalho se a reitora da sua universidade as viola flagrantemente?

A JUVENTUDE PRESENTE

O 1 º de Maio em Tegucigalpa foi uma grande festa do povo – e de um povo com uma impressionante participação da juventude, que vê diante de si um panorama político-econômico sombrio. As oportunidades em um mercado de trabalho em que os patrões têm todos os poderes para explorar a classe trabalhadora são ótimas.

Como canalizar o capital político que meio milhão de hondurenhos deram, somente na capital de Honduras, à liderança da Frente Nacional de Resistência Popular e aos líderes do movimento sindical? Pois as tarefas são múltiplas e o povo nas ruas de Honduras mostrou diante dos uniformizados que não lhes tem medo.

Assista ao VÍDEO de 42 minutos: 1º de Maio em Tegucigalpa: http://vimeo. com/11393056

Escute o ÁUDIO com Adriana Guevara: http://www.box. net/shared/ 02e8qgb11q , Guillermo Ponce, sindicato Stibys: http://www.box. net/shared/ tu1pcuagd1 ,

e Osman Ávila, sindicato Sitraunah: http://www.box. net/shared/ rij7401q21

(tradução de Rodrigo Oliveira Fonseca)