Os 65 anos da vitória soviética sobre o fascismo

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Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves

No dia 9 de maio de 2010 comemoram-se os 65 anos da vitória soviética sobre o nazismo. De lá para cá muitos mitos foram criados: que Hitler pegou de surpresa os soviéticos ou que a vitória se deve ao império estadunidense. Quem assistiu o filme “A vida é bela”, de Roberto Benigni, deve lembrar da criança judia recebendo uma “dádiva” – um chocolate fabricado nos EUA. Talvez o mito mais absurdo seja o que é disseminado no Japão: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) é que teriam jogado as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki! Sabe-se que foram os Estados Unidos. Toda esta ideologia anticomunista só pode ser entendida quando vemos as coisas historicamente, conforme ensinam Marx e Engels.

O fascismo ascendeu na Europa durante os anos 1920 e 1930. Seus dois principais pólos foram na Itália, quando Mussolini subiu ao poder em 1922, e na Alemanha, com os nazistas em 1933. O fascismo nasceu como uma ferramenta política da burguesia para conter o movimento operário, que reivindicava melhores condições de vida à classe trabalhadora e o socialismo. O fascismo foi um instrumento político da contra-revolução. Mas os governos fascistas, enquanto existiram, tiveram um poderoso opositor que nunca se rendeu: a URSS – o primeiro Estado socialista da história.

Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939), a URSS foi o único país a prestar ajuda aquele governo eleito democraticamente e derrubado por um golpe fascista. O filme “Terra e liberdade”, dirigido por Ken Loach, busca criar o mito de que teriam sido os comunistas que derrubaram os republicanos. Na verdade, comunistas do mundo inteiro lutaram contra os fascistas na Espanha; brasileiros como Dinarco Reis e Caio Prado Jr., militantes do PCB, estiveram lá lutando pelo povo espanhol.

Em 1938, somente a URSS se opôs à anexação dos Sudetos (pertencentes a então Tchecoslováquia) pelo imperialismo alemão. As potências capitalistas, como a França e a Inglaterra abaixaram a cabeça para a sanha fascista.

Em 1939, ano em que se iniciou a II Guerra Mundial, os soviéticos já sabiam desde pelo menos 1933 que seriam atacados pelo imperialismo. Sabiam que deveriam se preparar para a guerra. O marechal soviético Gueorgui Jukov disse que se não fosse a ocupação de parte do território polonês pelos soviéticos, talvez a Wehrmacht (as forças armadas nazistas) poderia não ter sido derrotada. Assim, o pacto de não agressão tratado com a Alemanha nazista foi uma grande jogada da diplomacia soviética.

Em 1941, começou a ofensiva nazista contra a URSS. Os soviéticos recuaram para que a linha de suprimentos da Wehrmacht ficasse bastante longa; uma vez cortada, as forças nazistas se viram isoladas e muito distantes da Alemanha. As forças alemãs não puderam impor a tática da blitzkrieg (a guerra relâmpago). Já a URSS lhes impôs a tática da guerra de desgaste.

A partir de 1943 veio o golpe fatal com a contraofensiva soviética. Mais de 2/3 das forças nazistas se concentravam na URSS. Mas não foram suficientes. O Exército Vermelho era mais numeroso, tinha mais e melhores armas e contava com amplo apoio popular.

Na batalha de Stalingrado, os nazistas encontraram a mais ferrenha resistência dos soviéticos, que lutaram com dignidade para defender seu lar, suas crianças, sua pátria. Um oficial nazista da 24ª Divisão Panzer relatou que, para tomar uma única casa, tiveram de lutar por 15 dias. Os cômodos da casa eram o front de batalha. Dos escombros de Stalingrado nunca cessaram de emergir soldados soviéticos que “presenteavam” os nazistas com seus “limões” (assim chamavam as suas granadas).

O socialismo foi a ferramenta que permitiu à humanidade derrotar da maneira mais implacável a barbárie nazista. Apesar de toda destruição causada pela guerra, 10 anos após seu fim, os soviéticos já gozavam de grandes conquistas sociais, de estabilidade e conforto material. Graças ao socialismo.

A URSS deixou uma lição para todos os povos do mundo, principalmente para classe trabalhadora de todos os países. Deixaram o ensinamento de que a sanha capitalista pode e deve ser derrotada. Lição imortalizada nos versos de Carlos Drummond Andrade. Até hoje colhemos os frutos desta vitória; graças a ela, aqueles que queriam nos escravizar foram derrotados. Os 20 milhões de soviéticos mortos pelos nazistas repousam vigilantes e esperam que humanidade tenha aprendido a lição. O 9 de maio, tão próximo do nosso 1º de maio, é uma data que deve ser comemorada pela classe trabalhadora de todos os países.

ABAIXO O IMPERIALISMO E A SANHA CAPITALISTA!

VIVA OS 65 DA VITÓRIA SOVIÉTICA!

VIVA STALINGRADO!

“Stalingrado…
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro
oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu
a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos
pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.

Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto
resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não
profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues
sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.

Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem
trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços
negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!

A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços
sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura
combate,
e vence.

As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma
fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão
contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.”

 

Carta a Stalingrado, de Carlos Drummond de Andrade.

* Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves é militante do PCB no Paraná