Copa do Mundo: os comunistas brasileiros (PCB) na rua… contra um ministro dos Esportes que se diz “comunista” (PcdoB)!

Artigo proveniente de: http://solidarite-internationale-pcf.over-blog.net/

(*) site de tendência do PCF sob o lema “Coloquemos o PCF nos trilhos da luta de classes”,

Às vésperas da Copa do Mundo de futebol, os poderes públicos brasileiros, os patrocinadores / multinacionais, a FIFA de Blatter e Platini, estão inquietos: e se a primavera de lutas brasileira vier contestar esta festa cada vez menos popular e cada vez mais mercantil ?

A greve do metrô de São Paulo fez subir a pressão a um nível superior: na maior cidade do país, seu pulmão econômico, a cidade onde se joga a partida inaugural, na Arena Corinthians.

Greves e manifestações em todo o Brasil: a maioria dos brasileiros contra o Mundial

O Brasil está em ebulição social. Não há uma semana sem que estoure uma greve. Nós havíamos anunciado no último abril: 16 sindicatos representando 4 milhões de trabalhadores estavam prontos a mobilizar antes e durante o Mundial para exigir aumentos salariais.

Foi este o caso não somente dos trabalhadores dos transportes, mas também dos policiais em greve, assim como o dos professores no Rio e em São Paulo.

Do lado dos movimentos sociais, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto tocou manifestações pelas ruas das cidades-sede do país, reunindo milhares de manifestantes.

Seria reducionista afirmar que esta ira é a expressão unicamente de movimentos de categorias, isolados, na contra-corrente. A maioria dos brasileiros está insatisfeita com a organização do Mundial, mais de 54% de acordo com a última sondagem, algo muito significativo no país do futebol.

Mas há mesmo de que se queixar: a conta de 10 bilhões de euros faz desta Copa a mais cara da história (três vezes mais do que a da Alemanha, em 2006).

Uma conta, aliás, paga 85% pelo Estado… para benefícios exclusivamente privados, considerando que a integralidade dos 12 estádios será explorada por operadores privados.

Passa-se o mesmo quanto aos aeroportos e portos, massivamente cedidos a operadores privados brasileiros e internacionais. Uma política suicida para o orçamento do Estado brasileiro, já enormemente comprometido pelo pagamento de juros da dívida (48%): 230 bilhões de euros por ano!

E, entretanto, não faltam problemas urgentes num país como o Brasil onde 3 milhões de crianças e adolescentes são excluídos do sistema escolar, onde a saúde privatizada se revela incapaz de assegurar o tratamento adequado em regiões inteiras do país… forçando a 6a economia do mundo a pedir socorro aos médicos cubanos!

O Partido Comunista Brasileiro ao lado das lutas contra esta “Copa das elites capitalistas”…

Mas então, de que lado estão os comunistas brasileiros?

Para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), herdeiro do Partido histórico, não houve jamais a menor dúvida: está ao lado dos movimentos sociais, dos trabalhadores em luta, das 250.000 pessoas removidas de seus domicílios, contra uma Copa do Mundo “elitista, privatista e anti-popular”.

Em todas as iniciativas, geralmente organizadas pelos movimentos sociais, que ocorreram no Rio e em São Paulo, mas também em Goiânia, Brasília, encontramos as bandeiras do PCB, entre cartazes onde se podia ler entre outras a palavra de ordem: “FIFA go home”!

O PCB declarou recentemente seu apoio à greve dos trabalhadores do metrô de São Paulo, combinado com o chamado à solidariedade feito por sua corrente sindical, a “Unidade Classista”.

O Partido também esteve associado ao chamado feito por 10 movimentos sociais e populares (entre os quais o dos Sem-Teto) para organizar as manifestações em torno de 6 eixos:

– moradia (contra a especulação imobiliária), justiça (contra as leis anti-manifestação), saúde (mais dinheiro para a saúde pública), educação, transporte (contra o aumento de tarifas), soberania (“FIFA go home”!).

À questão “Copa pra quem?”, o PCB responde sem vacilar: para as elites capitalistas do país!

contra um ministro dos Esportes (PcdoB) que condena a “demagogia das ruas”!

Ora, a posição de princípio que apresentamos acima não é compartilhada por todos. Dentre os que discordam, a presença mais notável é a do Partido rival do PCB, o PCdoB.

O PCdoB vem de uma cisão pró-chinesa de 1964 do PCB [na verdade, esta cisão se consumou em 1962, N. do T.]. Originariamente sustentando posições à esquerda, o PCdoB deslizou a partir dos anos 1990 em direção a posições de apoio ao desenvolvimento capitalista brasileiro.

Enquanto os dois partidos comunistas deram seu apoio ao início da experiência Lula, o PCB rapidamente se distanciou tendo em vista a continuidade da política de liberalização-privatização, de apoio ao patronato local, de imperialismo regional, que foi seguida pelo PT.

O PCdoB, ao contrário, reforçou sua aliança com o PT, obtendo em troca posições no aparelho de Estado. Uma destas posições, hoje de grande importância, é justamente o Ministério dos Esportes a partir de 2003.

O ministro atual, Aldo Rebelo, está no centro das atenções desde o início do ano. Ele se destaca por sua descrição idílica da Copa do Mundo, suas denúncias das manifestações, assim como sua fé nas virtudes econômicas do Mundial.

Seria vão detalhar todas as últimas declarações de Rebelo. A última: ele se declara “confiante no fim da greve dos trabalhadores do metrô”, saudando “a decisão da justiça federal, qualificando a greve de abusiva e demandando seu fim”.

Uma boa manchete para o governo Dilma… num tom surpreendente para alguém que reivindica o título de comunista.

De fato, há um mês, dia após dia, ele participava da emissão televisiva “Bom dia, ministro”, onde predizia um Mundial “que será o da festa e da confraternização”, onde “as manifestações serão atos isolados” porque “não creio que as pessoas queiram que a Copa seja perturbada por manifestações violentas”.

Recordando as manifestações do ano passado por ocasião da Copa das Confederações, ele chamava a atenção para o fato de que elas não impediram que o evento ocorresse: e aqui nós ouvimos uma voz familiar, aquela que diz que “agora quando há uma greve no Brasil, ninguém nota”!

Mas sim, o sr. Rebelo tem fé nas… forças policiais: “acredito que as forças de segurança farão seu trabalho e protegerão a integridade dos jogadores e dos torcedores”.

Ele também tem fé na lei que “disciplina abusos quanto a manifestações”. Abusos como a greve dos trabalhadores do metrô?

Recentemente, Aldo Rebelo declarou ao jornal Folha de São Paulo que as manifestações seriam a “demagogia das ruas” e falou contra o corporativismo dos professores que ousaram perturbar um treinamenteo da santa Seleção. Um verdadeiro discurso de direita!

Tudo bem, a situação é complicada, as manifestações não estão isentas de manobras políticas da direita tradicional nem de movimentos bem calculados da parte de certos sindicatos pertencentes à tradição corporativista muito enraizada no Brasil.

O fim da greve dos policiais a alguns dias da Copa, depois o da greve dos professores e enfim o dos trabalhadores do metrô aponta para a prudência sobre o vigor da “primavera brasileira”.

Mas como apoiar com tanto zelo uma Copa do Mundo tão impopular, tão manifestamente ligada aos interesses dos grandes grupos capitalistas brasileiros, tão abertamente manchada por malversação de fundos públlicos?

Nossos camaradas diziam: “Não vai ter Copa”. Entretanto, certamente haverá a Copa. Afinal, não há outra coisa a esperar em um país onde tudo vai tão bem para os adeptos… da corrupção e das privatizações!

Tradução: Partido Comunista Brasileiro

Nota: texto de tendência organizada do PCFrancês, nos termos do estatuto, que se apresenta em sua página, nos termos abaixo:

(*) QUEM SOMOS NÓS?

Este site é um espaço de informações e de intercâmbio para todos aqueles que acreditam que é mais necessário do que nunca fazer viver o Partido Comunista Francês como um partido anticapitalista, de massas e de classe, assumindo a sua história.

É animado pelos iniciadores do texto alternativo “Coloquemos o PCF nos trilhos da luta de classes”, submetido ao 33º Congresso do PCF. Uma dupla urgência nos motiva: combater os novos meios de que o capital internacional se utiliza na França contra os trabalhadores; ao mesmo tempo, recusar a diluição do PCF, sua mutação-liquidacionista na “esquerda” do consenso que a direção do PCF colocou na ordem do dia.