Reivindicamos o Comunismo como forma de organização superior da humanidade
Caracas, 14 de julho de 2010, Tribuna Popular TP. – O Partido Comunista da Venezuela (PCV), reivindicou ante o país, a Sociedade Comunista como forma superior de organização da humanidade, ao intervir no debate na Assembléia Nacional sobre ditos e manipulações da hierarquia da Igreja Católica, realizado na noite do dia 13 de julho, e denunciou que a atuação da cúpula da igreja está dirigida a favorecer os processos de desestabilização e agressão contra o povo venezuelano.
À continuação, transcrevemos a intervenção do deputado Oscar Figuera, secretário geral do PCV, que falou em nome da fração parlamentar e de todos comunistas venezuelanos.
Intervenção de Oscar Figuera na Plenária da Assembléia Nacional (terça, 13 de julho de 2010).
Boa noite, camaradas deputados e deputadas. Muito obrigado camarada, senhora presidenta. Pensei que já não teria o direito à palavra, foi longa a linha de debate.
O primeiro que queremos fazer em nossa condição de militante do Partido Comunista da Venezuela, o primeiro que queremos fazer é expressar nosso profundo respeito a toda a religiosidade do povo venezuelano, qualquer que sejam as expressões ou a forma que assuma, entendendo que a religião é um estado ou nível de consciência coletiva e, em conseqüência, nesse estado de consciência é necessário que os que atuamos na sociedade em função de sua transformação a tenhamos em conta e trabalhemos.
E no meu caso, na minha condição de militante do Partido Comunista, não sou religioso nem reivindico a religião, mas a respeito. É a primeira aclaração que queríamos fazer.
A segunda, é sinalizar que desde nossa perspectiva este é um debate fundamentalmente de natureza política e não religiosa.
Verdade que aqui ouvi falar da história da religião e de tudo isso, e respeito muito essas intervenções, do que fazem e que não fazem os sacerdotes, mas para nós no Partido Comunista este é um debate num contexto de ameaça aos processos revolucionários em todo mundo, num contexto de disseminação da força militar norte americana em nível mundial, de abertura de uma nova base militar na Costa Rica. Nesse contexto, a atuação dos superiores da igreja está dirigida a favorecer os processos de desestabilização e de agressão contra nosso povo. Essa é a pertinência política que tem para nós, no Partido Comunista, esse debate. O resto podemos utilizar, mas é dourar a pílula. Porque o resto implicaria, inclusive, começar a sinalizar o que é a religião e o que é a igreja? Esse é um debate muito mais profundo. Ou seja, a que sistema de pensamento se inscreve a igreja? Se o idealismo ou o materialismo e qual é que nós processamos desde uma perspectiva ou outra? Esse é o debate político, é ele que está colocado aqui hoje.
A pertinência, então, para esse debate desde a posição dos e das comunistas é que: sendo um processo revolucionário bolivariano que lidera Hugo Rafael Chávez Frias, comandante da revolução; sendo este processo uma experiência que se desenvolve com uma profunda unidade na diversidade, onde participamos e atuamos, em unidade revolucionária, cristãos e não cristãos, crentes e não crentes, civis e militares; a postura dos superiores da igreja está dirigida a dinamitar essa unidade popular revolucionária. Para nós é o centro fundamental do problema.
O que diz o cidadão que fala em nome da hierarquia eclesiástica é, por um lado, que estamos desrespeitando a Constituição quando tentamos impulsionar propostas de leis revolucionárias que expressam conteúdos da Constituição Bolivariana, quando tentamos e trabalhamos na Assembléia Nacional para que o Artigo 2 da Constituição se desenvolva e se expresse. Esse artigo 2 que fala de justiça, de solidariedade, de igualdade, obviamente não poderá desenvolver-se em uma sociedade capitalista. Tem que desenvolver-se em uma sociedade socialista. Porque a solidariedade, a igualdade, a justiça social, a participação, o protagonismo, a defesa da soberania, a liberdade do nosso povo, a constituição de um modo de produção onde não existam explorados nem exploradores, somente são possíveis em uma sociedade socialista. Obviamente, quando o cidadão representante da hierarquia eclesiástica sinaliza que estamos burlando a Constituição, como uma maneira de tentar dinamitar a legitimidade e a legalidade do que estamos fazendo, é necessário que esta Assembléia Nacional e todos os poderes públicos saiamos a confrontar um plano que tenta desqualificar o projeto revolucionário. Então o debate é fundamentalmente político. O povo venezuelano tem que saber que este debate é, então, fundamentalmente político, que não é religioso; que aqui não se está discutindo com a igreja, que aqui se está discutindo com os representantes da hierarquia da igreja que toda sua vida expressou, ao largo da história, os interesses da classe dominante. Então aí há que dar passeio rápido pela história.
A que setores sociais têm estado vinculados historicamente as hierarquias da igreja? Em que época da Idade Média, ao início da sociedade capitalista? Nas diferentes formas de desenvolvimento social em que predomina a exploração, a hierarquia da igreja esteve do lado dos poderosos, por uma razão muito simples, camaradas, que ontem dizia nosso camarada Yul Jabour como representante do Partido Comunista da Venezuela: porque também no seio da igreja se dá a luta de classes. Se dá a luta de idéias, se dá a luta de interesses.
Porque a Igreja não é nenhuma organização à margem da realidade social, das contradições existentes na sociedade venezuelana. A Igreja também está permeada pela confrontação dos diversos projetos políticos e sociais que se confrontam na sociedade. E a maioria da cultura dessa instituição, e ouçam o que disse, A MAIORIA, porque sempre existiram exceções, a maioria sempre se enquadra com os interesses dos poderosos.
Isso é parte do debate, entendemos nós que corresponde a esta Assembléia, porque é o que nos permite, em frente ao povo, desmascarar a essência e a natureza da conduta desses cidadãos.
É seu papel na sociedade dividida em classes, que com um discurso religioso o que fazem é tentar manipular e aprofundar a alienação da consciência coletiva para manter-la sujeita aos interesses dos blocos de dominação, do bloco capitalista, do bloco imperialista. Então, nessa perspectiva, é que nós intervimos nesse debate.
Há muitas coisas que se disseram que nós podíamos fazer referência. O deputado Saul Ortega deu resposta, de maneira muito pertinente, a algumas dessas sinalizações que não se correspondem com a história, muitas delas.
Isso que “a burguesia é o problema das mulheres e das crianças, que disse Lênin”, a referência histórica é que o que disse Marx, não Lênin, em primeiro lugar e que disse Marx, não para definir à burguesia, senão para sinalizar que era o melhor e mais resgatável desse modo de produção explorador, não para tratar de definir a burguesia.
Porque a burguesia se define, camaradas, como uma classe social, uma classe social possuidora dos meios de produção e, como proprietária desses meios de produção, compra a força de trabalho assalariada e explora e, ao final, se apropria da mais-valia que essa força de trabalho, aplicada a um objeto de trabalho, transforma e produz e converte ao trabalhador, então, essa força de trabalho em mercadoria.
Essa é a definição da burguesia, o outro é um comentário subsidiário que usou em seu momento Marx. É importante que para este debate, camarada, e eu me atrevo a sinalizar que nós voltemos aos clássicos, que tratemos de ler A Sagrada Família, A Família, a Propriedade Privada e o Estado, que nos dizem como surgiu a religião; como surgiu o pensamento religioso na humanidade, que surge como conseqüência da impossibilidade dos seres primitivos de explicar as razões do raio, da lua, da chuva, dos ciclos naturais. Mas repito, esse é outro debate que não é o que está colocado no dia de hoje, porque tem que ver com outras coisas.
Bom, camaradas, há muitas coisas que seriam importantes sinalizar…uma somente delas nesse minuto vou reivindicar. Vou reivindicar o comunismo.
O comunismo é a fase mais elevada do desenvolvimento da humanidade. O comunismo não é o mais atrasado, é o mais elevado.
Construir o comunismo significa construir uma sociedade sem classes sociais que explorem umas as outras. Construir o comunismo é eliminar o Estado como instrumento de dominação de uma classe frente a outra. Construir o comunismo significa construir uma sociedade em que o desenvolvimento das forças produtivas seja de tal nível, em que cada qual possa receber todo o que necessita independentemente de que possa produzir-lo – é a sociedade da mais alta justiça social. Por isso, nesta sala, reivindicamos, desde o Partido Comunista, o comunismo como forma de organização superior da humanidade.
Muito obrigado, camarada presidente.