Há 21 anos o Exército Zapatista reivindicou os direitos indígenas

31 de dezembro de 2014

O EZLN nasceu em 1983, quando foi criado o primeiro acampamento guerrilheiro na Selva Lacandona, em Chiapas.

No México, há 21 anos os direitos dos indígenas e dos camponeses foram defendidos mediante armas e palavras pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), que corajosamente enfrentaram um Estado mexicano repressivo e ditador, que ignorava as necessidades das minorias étnicas. Realidade que hoje não mudou de todo.

Para demandar democracia, liberdade, justiça e melhorias para os povos indígenas e camponeses de Chiapas e todo o México, há 21 anos, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) fez sua primeira aparição pública em 1° de janeiro de 1994.

Seu objetivo era claro: repudiar o sistema político neoliberal mexicano com suas promessas de modernização, que mantinha apática a comunidade indígena e camponesa, assim como estabelecer uma democracia participativa.

O EZLN exigia a reivindicação de propriedade sobre as terras tiradas das comunidades indígenas, uma melhor divisão da riqueza e a participação das diferentes etnias tanto na organização de seu estado (Chiapas) como do país.

Mas, talvez, as palavras do Subcomandante Marcos resumam melhor o objetivo deste grupo insurgente: “A tomada do poder? Não, apenas algo mais difícil: um novo mundo”, expressou em um comunicado em 2 de fevereiro de 1994.

Ainda que a EZLN tenha feito sua aparição pública em 1° de janeiro de 1994, na realidade, nasceu em 1983, quando foi criado o primeiro acampamento guerrilheiro na Selva Lacandona, em Chiapas. Seu nome é em homenagem ao herói e figura da Revolução Mexicana, Emiliano Zapata.

A primeira luta armada do EZLN, 1994

No dia de sua primeira aparição pública, o Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) surpreendeu o México e o mundo inteiro com uma insurreição armada imprevista no estado de Chiapas (sudeste), que passou para a história como o Levante Zapatista.

Um grupo de indígenas armados ocuparam sete cabeças municipais de Chiapas: San Cristóbal de Las Casas, Altamirano, Las Margaritas y Ocosingo, Oxchuc, Huixtán e Chanal.

A batalha foi implacável. A ocupação dos diversos municípios foi respondida com o envio de tropas federais, cujo número e brutal arremetida fez com que o objetivo dos zapatistas não se cumprisse em sua totalidade e tiveram que se retirar para a selva.

Os combates, que duraram 12 dias, ocasionaram dezenas de mortos, a grande maioria zapatistas. No entanto, a batalha serviu para que se abrisse um processo de diálogo sobre as reivindicações da insurgência, que reclamava o direito à terra, habitação, educação, saúde e emprego.

Em 16 de fevereiro, iniciam as primeiras conversas entre o EZLN e o governo federal, que terminaram com a assinatura, em 1996, dos acordos de San Andrés sobre o “Direito e Cultura Indígena”, que comprometiam o Estado a reconhecer os povos indígenas constitucionalmente e que estes gozariam de autonomia. Até a data, os acordos não haviam sido cumpridos pelo Estado mexicano.

Os diálogos também deram origem à fundação do Congresso Nacional Indígena (CNI), em outubro de 1996.

Declaração da Selva Lacandona, 1994

No dia de sua aparição pública, o EZLN também pronunciou a Primeira Declaração da Selva Lacandona, onde informaram as causas de seu levante: exigiam terra, trabalho, teto, alimentação, saúde, educação, liberdade, independência, democracia, justiça e paz.

Masaacre de Acteal, 1997

Apesar da disposição do Exército Zapatista em dialogar e entregar as armas, o Estado mexicano nunca deixou de assediá-los. Prova disto foi o massacre em 1997 da comunidade de Acteal, da etnia Tzotzil, em Chiapas, por parte de paramilitares militantes do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que assassinaram 45 pessoas e três por nascer.

Os funcionários dos governos local e federal acusados pelo EZLN e pelas organizações civis de propiciar o massacre, jamais foram julgados.

Marcha da Cor da Terra, 2001

A Marcha da Cor da Terra, realizada em dezembro de 2001, liderada pelo Exército Zapatista, é recordada como uma mobilização sem precedentes na história do México.

“37 dias caminhamos. 6000 quilômetros. Nesse caminho passamos por 13 estados da república mexicana e, depois, entramos na terra que cresce para cima, a Cidade do México”, assim a descreveu o Subcomandante Marcos.

Um milhão de pessoas deram as boas vindas aos zapatistas em sua chagada à Cidade do México, entre eles o escritor José Saramago; a ativista francesa, Danielle Miterrand; o porta-voz da organização internacional Via Campesina, José Bové; assim como outras personalidades.

2001 também foi o ano em que todos os partidos políticos do México aprovaram, por unanimidade, uma reforma constitucional que desconheceu os Acordos de San Andrés, tornando assim oficial o desconhecimento dos direitos e cultura indígena.

Nada voltaria a ser igual desde a aprovação dessa fatídica reforma. Para o Exército Zapatista, a autonomia e a autogestão seriam o passo seguinte.

Criação de Los Caracoles e das Juntas de Bom Governo, 2003

Após a traição do governo ao não cumprir os Acordos de San Andrés, o EZLN decidiu exercê-la unilateralmente mediante a criação, em 2003, de Los Caracoles e das Juntas de Bom Governo, que reforçara o princípio do “mandar obedecendo”.

Desde sua criação, foram formados professores e médicos zapatistas e se construíram escolas e clínicas. Além disso, se desenvolveu um sistema de justiça que congrega tanto zapatistas como outros membros da sociedade por ser mais eficaz que o institucional.

A Outra Campanha”: uma luta própria, 2006

Em 2006, durante as eleições presidenciais do México, os zapatistas embarcaram em uma viagem de seis meses por 32 estados, uma iniciativa chamada “A Outra Campanha”. O propósito era dizer aos partidos políticos que para construir um novo país não era necessário apoiar seus candidatos, mas que empreenderiam uma luta própria.

A intenção d’ “A outra Campanha” era escutar o povo mexicano que queria uma sociedade democrática e acabar com o capitalismo e o racismo.

Nas eleições presidenciais de 2006, foi vencedor o candidato do direitista Partido Ação Nacional, Felipe Calderón Hinojosa, lembrado por militarizar a guerra contra narcotraficantes e gerar uma onda de violência que assola o México te hoje.

O Subcomandante Marcos “desaparece” da cena pública, 2014

Na madrugada de 25 de maio de 2014, o Subcomandante Marcos, lendário líder do Exército Zapatista, anunciou seu “desaparecimento”. O anuncio foi feito do Caracol de La Realidad, sede do governo autônomo zapatista, nas profundezas da Selva Lacandona. Seu substituto seria o Subcomandante Moisés.

A intenção era que as mídias focassem mais sua atenção na EZLN e não no Subcomandante Marcos, cujas poéticas palavras tiveram forte repercussão no mundo, sobretudo na imprensa nacional e internacional.

Marcos não foi um de seus fundadores, mas sua chegada ao grupo foi nove meses depois da criação do mesmo. Seu verdadeiro nome era Rafael Sebastián Guillén Vicente e era um professor de comunicação da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), antes de encabeçar o EZLN.

Com a saída de Marcos, o EZLN começou a transformar-se e, hoje, continua vigente. Sua luta pelos direitos dos indígenas e camponeses não cessou. Mostra disto é seu apoio aos jovens normalistas desaparecidos de Ayotzinapa.

Apesar da invisibilidade dos meios de comunicação, o lendário Exército Zapatista de Libertação Nacional continua mudando a história do México a 21 anos de sua primeira aparição pública.

Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=OZ6MHrucXZQ

Fonte: http://www.telesurtv.net/telesuragenda/Ejercito-Zapatista-20141225-0008.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

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