PCM: emigrantes e classe operária do México integram a mesma luta
ODIARIO.INFO
Comissão Política do Comitê Central do Partido Comunista do México
Várias caravanas de migrantes oriundas de vários países da América Central estão atravessando o México. As classes dominantes têm uma posição dúplice em relação a elas: por um lado incentivam o nacionalismo e a xenofobia; por outro lado, vêm nesta onda um acréscimo ao seu exército de reserva, ainda mais desprotegido e sem direitos.
As políticas capitalistas favorecem a emigração. Milhares de trabalhadores e suas famílias ver-se-ão atraídos pelos projetos imobiliários no noroeste e outros pontos do México, pelos chamados megaprojetos que se promovem a partir dos monopólios e do governo entrante em toda a franja sul do território nacional, pelas Zonas Econômicas Especiais que tanto na fronteira sul como na norte já estão consideradas. Em relação a este último ponto deve ter-se em conta que a burguesia favorece o tráfico ilegal de pessoas mediante organizações ad hoc e um constante fluxo de força de trabalho abundante que lhes permita esmagar as condições gerais de trabalho de toda a classe operária, favorecer maiores margens de lucro e fortalecer as pressões sociais que ameacem os trabalhadores ativos. O desenvolvimento desigual do capitalismo concentra a riqueza em determinados polos e numa determinada classe. Ao mesmo tempo que concentra os mais incríveis exemplos de miséria em outros tantos polos e outra classe e setores sociais.
A burguesia, os monopólios e seus partidos, desde os chamados neoliberais até aos de recorte social-democrata não podem oferecer aos trabalhadores migrantes outra coisa que não seja precariedade, extorsão, marginalização, miséria, licenças temporárias de residência sem direitos trabalhistas efetivos, racismo, xenofobia, doenças, hostilidade, tráfico, sequestros, ultraje ou engano. Denunciamos a verborreia anti-imigrante e a criminalização dos trabalhadores obrigados a deixar os seus países de origem. Denunciamos todas aquelas vozes e ações que pretendem impor os interesses dos capitalistas através das suas exigências de que a caravana se submeta à legalidade e à ordem. Não deixamos sem reparo que nas câmaras legislativas o futuro governo de unidade nacional, mediante aliança das bancadas parlamentares de Morena-PRI, deixou sem consequência os apelos ao respeito dos direitos humanos dos migrantes em meio a um criminoso coro contra eles.
Morena e Andrés Manuel López Obrador contribuíram sobremaneira para esta situação de ataque anti-imigrante. Durante 12 anos insistiram e acirraram um discurso supostamente em defesa da soberania nacional, pródigo em nacionalismo e no qual o que conta é o país, a pátria, a nação. Fazem crer aos operários e trabalhadores que falam do seu interesse, mas na realidade falam sempre da grande nação burguesa, do interesse dos grandes empresários mexicanos, etc. No seio deste discurso burguês alimentam-se e confluem agora todos os tipos de expressões, incluídas as de tom fascista. Como aquelas diatribes e expressões criminosas que qualificam de invasão e ataque à soberania nacional a caravana centro-americana; que apelam à civilidade para não afetar “a nação” contrariando os acordos com os representantes dos monopólios nos EUA e especificamente os latidos de Trump sobre não permitir que os migrantes toquem a terra norte-americana; e todos aqueles que lançam ataques racistas justificados pela defesa do interesse nacional mexicano. Os monopólios falam pela voz de todos eles. E na velha e nova social-democracia cozinham-se elementos fascistas, com ou sem linguagem de “esquerda”.
Todas as acusações, linchamento moral e atropelos contra os migrantes não têm como fim evitar o seu ingresso nos países em que possam encontrar oportunidades de trabalho ou solicitar asilo. Os propósitos deste coro nacionalista ensurdecedor são fazer ajoelhar os migrantes; atiçar os instintos mais baixos da classe operária nos países receptores; dividir os operários e trabalhadores em função de nacionalidades e calúnias; colocar todos os migrantes em condições de maior tormento, ilegalidade, insegurança, clandestinidade e isolamento; favorecer medidas de maior exploração e precarização por parte dos capitalistas; incrementar a sua vulnerabilidade em relação a toda a classe patronal; desviar a atenção das verdadeiras causas da crise capitalista e do agravamento sistemático na situação de vida das massas e dos setores populares.
A suposta benevolência e solidariedade proclamadas pelo presidente eleito, Andrés Manuel López Obrador, e pela futura Secretária de Governo, Olga Sánchez, não são alheias a este último aspecto que referimos. Os seus apelos a que sejam recebidos de braços abertos, as iniciativas com o objetivo de os resguardar e apoiar ao mesmo tempo em que lhes oferecem um posto na construção do Trem Maya, na ferrovia e corredor trans-ístmico, nas projetadas novas refinarias, nos complexos empresariais nas Zonas Econômicas Especiais, no capitalismo imobiliário na fronteira norte, decorrem do interesse de lavar as mãos em detrimento dos migrantes, escondendo, por trás de gestos de humanidade burguesa, que em todos esses âmbitos, projetos e circunstâncias os operários migrantes serão explorados até ao osso. Sem direito a sindicalização, sem direito a uma estadia estável, mas apenas a meras autorizações de trabalho temporárias e com autoridade do Estado para os suspender quando o desejar, com precarização, com salários ainda mais baixos. A política migratória do novo governo não se distingue nem distinguirá no fundo da política burguesa do governo de Enrique Peña Nieto contra ondas passadas de migrantes centro-americanos e o fluxo migratório haitiano de 2016. As expressões classistas de representantes morenistas, que agradecem à caravana migrante que não atravesse os “seus estados de origem” não são diferentes das opiniões liberais do PAN. Parecem diferentes, mas no fundo não o são.
Nos Estados Unidos sucede o mesmo. Embora o discurso dos republicanos e de Trump pareça diferenciar-se muito do discurso pro-Santuários dos democratas (discurso que gostosamente acolhe agora a social-democracia governante na Cidade de México), as leis norte-americanas e os usos e costumes da burguesia norte-americana estão tenazmente consolidadas no sentido de fazer com que, à chegada dos migrantes, estes possam ser explorados ao custo mínimo a ser pago pelos monopólios. Diga-se o que se disser, todo o operário, operária, trabalhador migrante pode solicitar asilo. Tem direito a um número de segurança social, a trabalhar, a comprar. Não tem direito, como nenhuma outra classe operária também não tem, é à certeza no seu futuro. Pode não ser autorizada a sua estadia nos EUA, mas os capitalistas irão espremê-lo na sua condição de força de trabalho indocumentada. Mais tarde espera-o a deportação, a ruína, o resto são exceções. Quantos casos existem de trabalhadoras ou trabalhadores com 30 ou 40 anos de trabalho nos EUA que um belo dia são expulsos do seu país de acolhimento, perdendo tudo de um dia para o outro? Repetimos, a burguesia é criminosa e moralmente tem duas caras. Agita, reprime, criminaliza, agride, assalta, mas para colocar toda a classe operária cada vez mais à sua mercê, ao seu gosto e conveniência.
Por outro lado, dirigimos aos migrantes de passagem pelo México a mais sincera solidariedade proletária, que deve sobretudo manifestar-se na prática nos pontos geográficos onde o Partido tenha presença, para as diversas caravanas centro-americanas de migrantes, incluindo a de mães com filhas e filhos desaparecidos, no seu trajeto e estadia entre México e Estados Unidos. Sabemos que é uma circunstância de décadas. Milhares de jovens ou idosos sacrificados em benefício de determinada atividade produtiva ou associada ao lucro capitalista, assassinados em segredo, obrigadas a trabalhar em campos agrícolas ou no tráfego de mercadorias, explorados ou exploradas no campo do turismo ou da oferta sexual. Os capitalistas e seus governos negam ou omitem tais fatos. Nós nos opomos – tal como perante os casos de milhares de desaparições internas e forçadas em Sinaloa, Chihuahua, Baixa Califórnia, Estado do México, Guerrero, Michoacán, Veracruz, entre outros – tanto à política manifestamente criminosa dos monopólios durante o governo de Enrique Peña Nieto como à política de unidade nacional do novo governo social-democrata, o da ‘quarta transformação’ liberal, manifesta também no criminoso propósito de dar continuidade à impunidade mediante o eufemismo do ‘perdão mas não esquecimento’. Exigimos e acompanharemos a luta pelo esclarecimento, busca, apresentação e reparação tanto por parte do Estado mexicano como do norte-americano relativamente aos progenitores e seus familiares desaparecidos. Neste ponto a comunidade de interesses entre a classe operária e os setores populares de todos os países envolvidos é evidente e a possibilidade de estreitar laços com este propósito é mais que necessária.
Por onde transitem os trabalhadores irmãos da América Central é necessário mostrar a nossa maior solidariedade, apreço e compreensão. Sem que isso se reduza ao catálogo humanista da burguesia: donativos de roupa e abrigo, cortes de cabelo, alimentos por 1 ou 2 dias, etc. Mas sim que inclua todo o melhor que possamos oferecer como operários, trabalhadores e comunistas, mas que também considere sempre a conversa, a denúncia, a agitação e o desnudar dos capitalistas de corpo inteiro. Aos deste país, aos da América Central, EUA, etc. O interesse dos migrantes é o nosso interesse como classe: albergues confortáveis, banhos públicos a baixo custo ou gratuitos, rede de cantinas populares com comida nutritiva, transporte digno para o deslocamento, hospitais que atendam a todos sem requisitos burocráticos, planejamento e construção de novos conjuntos hospitalares públicos, cuidados prioritários e diferenciados para as crianças e as pessoas de terceira idade, direito efetivo de asilo, direito efetivo a sair de qualquer país, incluindo o seu próprio, com as garantias que todo Estado deve observar, direito à naturalização e não apenas a vantajosos mecanismos para empresários e monopólios, direito de domicílio permanente, sindicalização efetiva, exigência de direitos trabalhistas, organização como classe, independentemente da nacionalidade de origem. Nada disso virá de nenhum governo capitalista, mesmo um que se presuma herdeiro “das glórias” do liberalismo do século XIX e da social-democracia internacional. É uma tarefa que também une um conjunto de propósitos compartilhados por toda a classe operária. E marca o rumo em direção à liberdade definitiva de toda a classe operária.
Proletários de todos os países, uni-vos!
Fonte:http://www.comunistas-