A vitória do Syriza e a luta pelo Socialismo na Grécia
A vitória do Syrisa nas recentes eleições gregas se deu por conta da grande insatisfação existente entre os trabalhadores gregos com a situação de elevado desemprego, de perda de salários e direitos, do desmonte dos setores sociais públicos. A política de austeridade, adotada em função da submissão dos governos gregos ao jugo do capital financeiro que impera na Zona do Euro, vem deixando os países periféricos da Europa com suas economias extremamente fragilizadas e endividadas. Não são políticas que possam ser suavizadas. Sem mudanças estruturais e profundas, que rompam com o capitalismo, não haverá reversão da situação do país.
O Syriza é uma frente ampla, que inclui grupos e correntes que se reivindicam anarquistas, ecologistas, socialistas, inclusive alguns comunistas de orientação reformista. Porém, seu programa não aponta para um caminho de real superação do capitalismo e de construção do Socialismo. Ao se subordinar ao jogo dos interesses do imperialismo, assumindo o compromisso de que o país não sairá da Zona do Euro, o Syrisa define com clareza o seu papel na política grega, que é o de adequar as condições econômicas e sociais para a manutenção da governabilidade burguesa e a continuidade do capitalismo, ainda que algumas de suas promessas de campanha não agradem a segmentos localizados da burguesia grega e aos governos de países como Alemanha e França, peças centrais do política do Euro, assim como a grandes bancos europeus, com destaque para o Deutsche Bank.
Os votos dados ao Syriza se deveram às propostas apresentadas na campanha, de reversão do desemprego, de retomada de direitos sociais e trabalhistas, de promessas de mais investimentos com recursos provenientes da redução de pagamentos da dívida pública grega (que chega à casa dos 160% do PIB do país) com o cancelamento de parte significativa dela. São propostas impraticáveis se mantida a submissão ao sistema Euro/FMI, mas podem vir a desencadear grandes mobilizações populares de cobrança do cumprimento das promessas do novo governo, elevando o patamar da luta entre capital e trabalho, com o fortalecimento da organização dos trabalhadores. Dependendo da correlação de forças, isso poderá contribuir para mitigar as políticas de austeridade.
No primeiro dia de exercício do mandato, o novo primeiro-ministro, Tsipras, líder do Syrisa, anunciou a decisão de interromper o processo de privatizações. Por outro lado, já deu garantias de que pretende renegociar a dívida, mantendo a Grécia no âmbito da União Europeia, da mesma forma que assegurou a permanência do país na OTAN. Foi significativo também que, na reunião dos ministros de Negócios Estrangeiros, ocorrida em 29/01, o novo representante grego tenha votado a favor das sanções da EU contra a Rússia ditadas por Washington.
A aliança firmada entre o Syriza e o Partido dos Gregos Independentes, de corte nacionalista e direitista, tem como eixo central a rejeição ao acordo firmado entre o governo grego anterior e a União Europeia, mas, fundamentalmente, sinaliza para a burguesia local e o imperialismo os compromissos efetivos do novo governo com a administração da crise nos marcos do capitalismo. Já vimos este filme no Brasil. Para garantir a governabilidade institucional, o novo presidente, como Lula em 2002, já deve ter se comprometido a cumprir os contratos vigentes. O Syriza passa a ocupar o lugar que já foi do Pasok (Partido Socialista), como o lado esquerdo da bipolaridade da ordem, na disputa pela administração do capitalismo. O Pasok desmoralizou-se exatamente pelo não cumprimento de seu programa que, na época, era mais radical do que o do Syrisa.
O Partido Comunista da Grécia – KKE, que obteve expressiva votação e se mantém extremamente forte e organizado, decidiu não participar do novo governo e manter-se na oposição, pela esquerda. As razões para esse posicionamento devem-se não apenas ao caráter conciliador do programa do Syriza, mas, também, pela aliança firmada entre Syrisa e Gregos Independentes. No entanto, a direção do KKE anunciou que o partido não se furtará de apoiar, no Parlamento, as propostas e medidas do governo que apontem para a melhoria das condições de vida dos trabalhadores gregos, e que os comunistas se manterão na luta, nas ruas, nas greves e em todas as mobilizações, buscando fazer avançar o caminho da construção revolucionária do Socialismo.
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comissão Política Nacional