“A Venezuela é alvo de agressão não tanto pelo petróleo, mas pelo papel que encabeça na integração latino-americana”

março de 2015

Por Mario Hernandez (especial para ARGENPRESS.info)

M.H.: Um dos temas que queria dialogar está relacionado com a presença do Primeiro Ministro israelense Benjamin Netanyahu no Congresso em Washington. Porém, antes ocorreu uma grave denúncia do governo norte-americano contra o país irmão da Venezuela e eu gostaria de conhecer sua análise a respeito.

J.P.: Em primeiro lugar, essa declaração é uma continuação da escalada de agressões norte-americanas. Um inventário rápido poderia comprovar o que digo. Em abril do ano de 2002, os Estados Unidos respaldaram um golpe civil-militar do grande capital norte-americano e venezuelano junto com um setor do Exército. Esse golpe foi derrotado, mas Washington continuou. Primeiro, a partir de um bloqueio protagonizado pelos gerentes da companhia de petróleo que tentaram paralisar o governo, custando bilhões de dólares, que porém também foi derrotado. Após o golpe e o boicote, veio o referendo em 2004 e, depois, seu fracasso de ganhar as eleições de Chávez. Posteriormente, existiram outras agressões ocorridas em 2004 e outro golpe após a perda das eleições, por parte da direita, em 2013.

O que acontece é que quando cada tentativa fracassa, os Estados Unidos perdem operativos. Por exemplo, no golpe anterior, em 2002, perderam um grupo de operativos militares e homens de negócios. Depois do bloqueio, perderam 15.000 afiliados ou sócios e, hoje, em 2014 e 2015, Washington outra vez perde com golpistas encarcerados. Porém, tem que seguir adiante. Então, agora tentam intervir diretamente, utilizando operativos para mobilizar forças internas.

Estão preparando o clima para um ataque, e isto é uma espécie de prova para saber como as forças dentro do chavismo vão reagir, para saber onde estão os elos mais fracos da cadeia e como os países da América Latina vão reagir. Porém, a tática é criar tensão, pânico, provocar maiores problemas econômicos e, uma vez que as coisas piorem, chamar os operativos internos para uma marcha com os lutadores de ruas, terroristas, e provocar uma confrontação onde se produzam mortes e usar a difícil situação econômica para completar uma soma de tensão. Assim, nesse momento, lançar um golpe, com a ideia de que poderia gerar uma brecha entre a polícia e o governo, entre as forças armadas e o governo.

Então, é um processo contínuo de agressão que caminha para um golpe e uma invasão. O governo está consciente disso e convidaram as Forças Armadas russas para fazer exercícios comuns, um dia de manobras de defesa em todas as províncias. Estamos na presença de um grande confronto, tanto econômico como político e, em última instância, militar.

M.H.: Estes fatos têm alguma vinculação com a mobilização produzida na Argentina, convocada em 18 de fevereiro pelos promotores públicos em torno da morte de Nisman, e ao impeachment com o qual se ameaça Dilma Rousseff?

J.P.: Sim, porém a Venezuela esta mais próxima de um confronto. Na Argentina, o caso Nisman teve seu início em protestos, acusações a partir das expressões golpistas. No entanto, na Venezuela as coisas estão muito mais avançadas. Eu a compararia com o final do ano de 1975 na Argentina depois do Rodrigazo, quando as Forças Armadas já estavam preparadas e as condições subjetivas estavam mais preparadas.

Na Venezuela sucede algo paralelo a isto. As condições na Argentina não estão dadas como um golpe, não existe tanta infiltração no Exército, as forças que apoiam o governo são muito fortes, os opositores não estão à altura de gerar um levante violento. Creio que é muito grave a campanha de desestabilização na Argentina, porém não tem acesso aos centros de poder. Então, ficam como oposição que pode montar complicações, ter uma ressonância na imprensa estrangeira, na BBC, na FOX, na CNN, porém as coisas marcham por outro lado.

Em geral, poderíamos dizer que a conexão é que os Estados Unidos buscam destruir as organizações regionais, a UNASUL, a ALBA, o MERCOSUL e querem voltar à OEA, onde a orientação está dirigida para a dominação norte-americana. Esse é o motivo pelo qual a Venezuela é um alvo de agressão, não é tanto pelo petróleo, mas pelo papel que encabeça na integração da América Latina.

Fonte:http://www.argenpress.info/2015/03/james-petras-venezuela-es-un-blanco-de.html

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)