Candidatura própria foi plano B, diz Ivan Pinheiro

Em passagem por Londrina, candidato do PCB à presidência da República admite que preferia frente de esquerda junto com PSol, PSTU e PCO

Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fazem uma falsa polarização. E Marina Silva (PV) é candidata a ser ministra de quem ganhar a eleição. A avaliação é do candidato à presidência da República pelo PCB, Ivan Pinheiro, que desembarcou ontem em Londrina para fazer campanha, acompanhado por militantes, candidatos a deputado pelo partido e por Amadeu Felipe, que disputa o governo do Estado pela legenda. “É uma polarização falsa, artificial, superficial. O Lula é o melhor presidente que pode funcionar como bombeiro para a luta de classes, fez um governo do capital. E os Verdes querem conciliar o inconciliável: o capitalismo e o meio ambiente”, disparou o candidato, que é secretário geral do PCB, cargo que equivale ao de presidente do partido.

Para ele, o governo Lula é “social liberal”, mas pondera que por ser “democrático”, traria “menos risco de retrocesso do que se fosse a direita [que estivesse no governo]”. O candidato comunista avalia que existem grandes possibilidades de Dilma ser eleita, possivelmente em primeiro turno, e acredita que a petista pode fazer um governo à direita do de Lula.

Nesse contexto, a avaliação é de que a candidatura do PCB é para marcar posição. Pinheiro admite que lançar candidato próprio foi “o plano B” para o partido, que preferia formar uma frente de esquerda à qual se juntariam o PSol – dissidência mais recente do PT, ocorrida ainda no primeiro mandato de Lula – e os trotskistas do PSTU e do PCO (Partido da Causa Operária). Questionado sobre a dificuldade histórica do PCB se aliar aos trotskistas – a resistência é mais dos trotskistas que dos comunistas –, Pinheiro afirmou que eles “já não são os mesmos no Brasil”. “Temos grande unidade com relação à luta nacional, contra o Estado mais privatizado e algumas divergências internacionais”, declarou o candidato. Ainda assim, ele acredita que é possível retomar a discussão da frente ampla de esquerda depois do processo eleitoral.

Trajetória

Resistência é a palavra chave da trajetória política de Pinheiro. Militante desde os 14 anos de idade, no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, o hoje candidato à presidência da República militou no MR-8, uma das organizações que resistiram à ditadura militar, instaurada com o golpe de 1964. Ele entrou para o PCB em 1976 e é membro da direção nacional do partido desde 1981. “Fomos líderes da resistência em 1992, quando o Bob Freire quis liquidar o partido”, lembra Pinheiro, referindo-se ao ex-presidente do PCB, Roberto Freire, que liderou o grupo que mudou o nome do partido para PPS e hoje se aproxima do Democratas e do PSDB.


Codinome “Fábio”, no clandestino MR-8

O candidato à presidência da República pelo PCB, Ivan Pinheiro, comentou que já usou o codinome “Fábio”, na década de 1970, durante a ditadura militar. Militante do então clandestino MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro, referência à data da morte de Ernesto Che Guevara), Pinheiro não chegou a cair na clandestinidade, mas tinha codinome. Ele comentou que por ser casado, funcionário de carreira do Banco do Brasil, cumpria um papel mais importante como “o pequeno burguês normal” e ajudava em tarefas para as quais era preciso não estar na clandestinidade.

O carioca, torcedor do Flamengo, contou que ainda como militante do MR-8, cumpriu tarefas periféricas em ações armadas do grupo, fazendo levantamento de locais onde seriam feitas as ações. “Eu não fui dirigente, eu fui motorista da luta armada”, brinca o candidato, que diz que não vai aumentar o tamanho do seu papel nos anos de chumbo.

Segundo Pinheiro, as condições de segurança do MR-8 eram tão boas que a sua ficha no Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e no falecido SNI (Serviço Nacional de Informações), só começou em 1979, depois da anistia e da sua entrada no Sindicato dos Bancários.

Ele obteve a ficha nos chamados “órgãos de segurança” por meio de um habeas data, dispositivo legal que consta da Constituição de 1988.