“AS ELEIÇÕES BRASILEIRAS”
No Brasil, as eleições presidenciais de domingo 3 deram os resultados previsíveis. Os três candidatos sistémicos (Serra, Dilma & Marina) tiveram uma votação aparentemente esmagadora. Dispondo de recursos milionários e com o apoio de todos os media, fizeram uma campanha morna evitando cuidadosamente falar de tudo o que fosse importante. Nenhum deles sequer aflorou questões “polémicas” como a Reforma Agrária, a política económica e monetária neoliberal, a ruptura com o imperialismo, o modelo exportador baseado no agrobusiness, a defesa do petróleo brasileiro, etc. Palavras como “neoliberalismo” e “capitalismo” nunca foram ouvidas na boca de tais candidatos. Os media corporativos centraram-se sobre os casos habituais de pequena e média corrupção, explorando o moralismo das camadas médias. Os marqueteiros e as agências de publicidade ganharam dinheiro com estes candidatos. Aquela apoiada por Lula teve mesmo de fazer contorsionismos para dar o dito por não dito (acabou por capitular na questão da despenalização do aborto, renegando declarações anteriores).
Os quatro candidatos progressistas foram praticamente “invisibilizados” nestas eleições. Fizeram campanhas pobres em recursos mas ricas em ideias. Foram os únicos que realmente levantaram problemas sérios e utilizaram as suas campanhas para fazer esclarecimento e romper o bloqueio hegemónico imposto pelos media das classes dominantes. Apesar disso, mesmo com todas as limitações, estes quatro candidatos (Plínio de Arruda Sampaio, Ivan Pinheiro, Zé Maria e Rui Pimenta) conseguiram uma votação somada de 1.022.767 votos . Em termos quantitativos parece pouco. Mas em termos qualitativos estes votos mostram que há mais de um milhão de brasileiros que não se deixam enganar pela demagogia eleitoralista e pela burla do voto dito “útil” que acaba por ser inútil. Este milhão de cidadãos conscientes poderá vir a constituir a base para a frente anti-capitalista e anti-imperialista de que o Brasil precisa”.