A vitória deles e a nossa

imagempor João Vilela*

Por um lado, a consciência desta situação reduz todos os discursos pacifistas a uma parvoíce que só a ignorância histórica pode permitir afirmar, e a um luxo a que nenhum trabalhador se pode dar. Por outro, a derrota do nazismo às mãos da União Soviética figura ainda hoje, e figurará para sempre, como uma das páginas mais gloriosas da história da classe trabalhadora à escala mundial, um exemplo imorredouro e inspirador de que nenhum expediente militar ou ideológico inventado pela burguesia é, ou algum dia será, suficientemente poderoso para quebrar a unidade da classe trabalhadora e a arrancar do poder, assim ela tenha dirigentes firmemente empenhados no curso da revolução.

É portanto, hoje mais do que nunca, dia de refutar duas teses mil vezes repetidas: em primeiro lugar, a de que a derrota do nazi-fascismo às mãos do Exército Vermelho é a mesma derrota que este sofreu diante de norte-americanos, de britânicos, e de franceses. Não, não é. Uma derrota frente ao proletariado nunca será igual a uma derrota perante uma burguesia concorrente, a qual, de resto, nem sequer pode reclamar a autoridade moral suficiente para afirmar que enfrentou o fascismo por uma questão de princípio.

A França, do mesmo De Gaulle que moveu a guerra da Argélia e o massacre dos argelinos em Paris, a Grã-Bretanha do mesmo Churchill que chacinou malaios e quenianos nos anos 50, os EUA que invadiram e massacraram na Coreia, no Vietname, no Cambodja, que ao tempo da II Guerra Mundial tinham (e continuaram a ter por mais 20 anos) as leis Jim Crow de segregação dos negros do sul, tinham tudo menos autoridade para denunciar e atacar o nazismo.

O próprio Churchill, que enquanto a URSS auxiliava a República em Espanha elogiava Franco enquanto «combatente antivermelho», terá dito, numa conversa de corredor à margem da Conferência de Potsdam, «we might have slaughtered the wrong pig», referindo-se aos soviéticos. E foi de bom grado que os EUA e os demais países ocidentais adoptaram o acervo de mentiras e distorções engendradas pela propaganda de Goebbels sobre a URSS, no fito de prosseguirem a sua sanha anticomunista durante a Guerra Fria.

Essa conjuntura, essa correlação de forças, com a vitória da contra-revolução na URSS e no Leste, com a traição eurocomunista de diversos partidos operários no coração da Europa ocidental (França, Itália, Espanha, etc), acabou em definitivo. Perante essa derrota, a burguesia aposta cada vez mais despudoradamente no fascismo, com partidos burgueses herdeiros dessa «herança democrática» a abrirem o caminho sem qualquer hesitação. Apelos emocionais às suas tradições democráticas de coisa nenhuma servirão. A burguesia só conhece a crítica das armas, liga pouco às armas da crítica.

O rearmamento teórico da classe trabalhadora, para enfrentar a vaga reacionária que se vai abater sobre ela nos próximos tempos tem um exemplo elucidativo na vitória soviética: só poderá contar com ela mesma, e qualquer confiança em setores da burguesia será atraiçoada na primeira esquina, assim que os motivos conjunturais que ditaram a amizade de circunstância tenham passado. Nunca confiar na burguesia. Aliar-se sempre com autonomia em relação à burguesia. Nunca aceitar a hegemonia da burguesia numa aliança. E assentando nas suas próprias forças, determinada, organizada, mobilizada para a vitória, a classe trabalhadora derrotará, como já derrotou, todas as SS, todos os marines, toda a repressão que a burguesia faça desabar sobre ela.

10/Maio/2015

O original encontra-se em https://conscienciavisceral.wordpress.com/2015/05/10/a-vitoria-deles-e-a-nossa/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/europa/vilela_10mai15.html .