70 ANOS DO MAIOR ATENTADO TERRORISTA DA HISTÓRIA

imagemFábio Bezerra*

Há exatos 70 anos, o mundo descobria o potencial destruidor de uma arma nuclear. No dia 06 de agosto de 1945 um avião cargueiro da força aérea norte-americana lançava uma bomba atômica sobre a cidade japonesa de Hiroshima exatamente as 8:15 da manhã de uma segunda-feira. O impacto da bomba, chamada ironicamente pelos norte-americanos de “Litlle Boy” continha cerca de 50 quilos de urânio 235, com potencial de destruição equivalente a 15 mil toneladas de TNT, o calor liberado pela bomba foi de 100 calorias/cm² no grau zero até cerca de 500 metros do epicentro da explosão, que explodiu a cerca de 580 metros do solo e fez se elevar uma grande cortina de fumaça que ficou conhecido como cogumelo atômico a uma altura de 18 km.

Hiroshima possuía em 1945 cerca de 250 mil habitantes. 40 mil pessoas morreram imediatamente a explosão e cerca de 70 mil pessoas morreram em consequência da radiação logo nas primeiras semanas. Em 09 de agosto de 1945 uma segunda bomba nuclear, a fissão de plutônio e de codinome: “Fast Man”, explodiu sobre a cidade de Nagasaki. Estes dois ataques resultaram na morte de 200 mil pessoas apenas nas primeiras semanas após os ataques.

Até os dias de hoje, segundo estimativas do governo japonês, 30 mil pessoas fazem tratamento de leucemia devido a decorrência da radiação nuclear.

O uso de armas atômicas no final da 2ª grande guerra (1938- 1945) inaugurou no cenário mundial um novo capítulo na história da humanidade. A era das armas de destruição em massa e consecutivamente das ameaças e do poder bélico das nações que as possuem.

Essa nova etapa do processo de expansão imperialista possibilitou diversos mecanismos políticos que sustentavam – e ainda sustentam- a dinâmica e os pretextos para a imposição geopolítica dos interesses daqueles que detém essa tecnologia.

imagemUma das dinâmicas foi a escalada sem precedentes do uso do desenvolvimento científico e consequentemente das novas tecnologias na área da física nuclear, para alimentar a indústria armamentista nos anos 60, 70 e 80 e todo um discurso ideológico sustentado na lógica da “Guerra Fria” que se justificou perante a opinião pública dos EUA e que mobilizou bilhões de dólares das reservas orçamentárias, alimentando um dos setores mais expressivos política e economicamente na economia norte-americana, o setor bélico, que possui fortes ligações com o sistema financeiro.

Todo o aparato bélico, desde então, tornou-se o epicentro nevrálgico da política externa estadunidense, alimentando as justificativas para os gastos militares e toda a malha industrial agregada a esse setor, o expansionismo imperialista em outras regiões geograficamente estratégicas e as campanhas eleitorais ora dos republicanos ora de democratas que mantem estreitas relações políticas com esse setor.

A conquista da tecnologia de armas atômicas, passou a ser prioridade para países que desejassem se impor no cenário mundial. Ao mesmo tempo, essa corrida armamentista influiu decisivamente no percurso da ciência e da tecnologia ao longo do século XX e no desenvolvimento de um novo conceito de racionalidade geopolítica e de novos instrumentos de pressão e controle político e econômico.

Um exemplo claro desse processo foi o ocorrido após a crise dos mísseis em 1961, envolvendo diretamente as duas superpotências nucleares ( EUA e a URSS) elevando a tensão e a possibilidade de uma nova guerra mundial por cerca de 15 dias. Após um acordo que envolveu diretamente Washigton e o Kremilin, a URSS retirou seus mísseis de Cuba ao passo que os EUA retirava, no mesmo período, seus mísseis da Turquia. A partir desse episódio uma série de tratados foram sendo construídos em diversas partes do mundo, influenciados sobretudo, pelas pressões da opinião pública endossada por grande parcela da comunidade científica, mas que teve a chancela e a operação política dos EUA em especial, de modo a controlar o desenvolvimento das pesquisas nucleares- principalmente na América Latina- restringindo o acesso a essas tecnologias ou condicionando a compra de equipamentos.

Após a assinatura do Tratado de não proliferação de armas nucleares (TNP) em 1968, a Agência Internacional de Energia Atômica passou a fiscalizar as atividades científicas no âmbito da tecnologia nuclear, o que também representou uma forma de controle, espionagem e ingerência em diversos momentos ao longo do século. Recentemente o mundo presenciou esse tipo de manobra para justificar a opinião pública mundial, ataques ao Iraque, acusado de possuir armas químicas e material radioativo para ser usado contra dissidentes internos. Relatórios da Agência insinuavam essas possibilidades.

O resultado final, todos sabemos; cerca de 250 mil mortes com a ocupação imperialista por mais de uma década, a desnacionalização do petróleo iraquiano através das grandes multinacionais do setor e o esfacelamento do país contribuindo com a instabilidade geopolítica local.

Curiosamente, armas com material radioativo (urânio empobrecido) foram utilizados justamente pelos EUA na Guerra do Golfo e pela OTAN na guerra dos Balcãs ambos na década de 90.

Na década de 50 do século passado, a restrição e o controle do desenvolvimento tecnológico, sob o pretexto de se assegurar a “paz” no continente, fez com que o professor Julius Oppernheimer, físico estadunidense principal dirigente do Projeto Manhattan – projeto piloto, que em 1942 iniciou os trabalhos para a produção da bomba atômica- fizesse uma visita ao Brasil em 1953 e após ter acesso aos projetos de desenvolvimento nuclear, retornou a seu país alertando as autoridades de que em breve o Brasil poderia criar uma bomba atômica.

Em 1978 o então presidente dos EUA Jimmy Carter, diante das informações dos serviços de inteligência veio pessoalmente ao Brasil pressionar o governo do Gal. Ernesto Geisel a desistir das pretensões nucleares, principalmente após a decisão do governo em estabelecer um pacote de intercâmbio com a Alemanha que resultou na compra de Angra I e na transferência de tecnologia para o enriquecimento do urânio.

No campo da ciência e da tecnologia é inegável o questionamento ético que se propalou pela comunidade científica em todo o mundo, sobre a instrumentalização da ciência para fins de extermínio em massa e o direito a pesquisas e desenvolvimento da tecnologia nuclear aos países chamados periféricos.

Sobre a formação de uma nova racionalidade geopolítica a questão da posse desse tipo de armamento passou a ter valor igual ou maior do que a influência econômica local ou mesmo a potencialidade das riquezas naturais.

Mas também é inegável que todo o conjunto de esforços, por mais bem intencionados que sejam e com elevadíssimo valor moral, em restringir e abolir as armas nucleares, não impediu a corrida armamentista mundo a fora e o extermínio de milhões de vidas humanas em guerras planejadas para sustentar não apenas a lógica de domínio imperialista, mas toda a complexa indústria da guerra- a maior do mundo- que movimenta anualmente trilhões de dólares. As Guerras são sem sombra de dúvida, na lógica do sistema capitalista, um lucrativo negócio!

imagemDesde 1945, a indústria armamentista intensificou em quantidade e qualidade destrutiva o seu arsenal. Armas químicas, biológicas, bacteriológicas, eletrônicas e mais recentemente as nanotecnológicas, possuem um poder de destruição capaz de aniquilar toda a humanidade e a biosfera. Não raro, muitos desses artefatos são utilizados em escalas variadas nos mais variados conflitos, inclusive como forma de contenção e controle de levantes civis.

Ironicamente, ou melhor, cinicamente, hoje os EUA se colocam na condição de paladinos da segurança mundial sob o pretexto de coibir o acesso de grupos terroristas a material e tecnologia para a produção das temíveis armas nucleares; por sua vez, o maior ato terrorista da história da humanidade, em todos os tempos, foram perpetrados pelos EUA há exatamente 70 anos, instaurando uma nova era de ameaças e insegurança que apesar do fim da chamada: “Guerra Fria”, ainda mantém sob alerta a possibilidade de uso de armas atômicas como forma de assegurar o controle social e ou chantagear nações e povos que se rebelem contra a ordem do sistema.

*Fábio Bezerra é professor e membro do Comitê Central do PCB

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