COLÔMBIA-VENEZUELA: Sete pontos chaves para entender os sete pontos de Quito

imagemPor William Castillo / Resumen Latinoamericano/QUESTION / 23 de setembro de 2015 – Os conceitos vertidos nesta seção não refletem necessariamente a linha editorial da Nodal. Consideramos importante que sejam conhecidos porque contribuem para construção de uma visão integral da região.

1.- Retorno imediato de Embaixadores.

Nenhuma intenção de diálogo seria crível se os embaixadores da Venezuela e da Colômbia permanecessem em seus respectivos países. É uma medida concreta e lógica, que restabelece o canal diplomático regular e a natural para avançar na agenda bilateral dos complexos temas pendentes.

2.- Realizar uma investigação da situação da fronteira.

Antes de tudo, cabe se perguntar o que cada parte quer investigar. E o que deveria ser investigado? Para a Colômbia, deve ser investigado o ocorrido com a suposta (e nunca demonstrada) violação aos direitos humanos dos colombianos deportados, eixo sobre o qual Santos montou seu discurso midiático de “protesto indignado”. Para a Venezuela, é muito, muito profundo o que deve ser investigado: a exportação pelo país vizinho do modelo criminoso do paramilitarismo (que na Colômbia é chamado as bandas criminosas – Bacrim), a legalização colombiana do contrabando de combustível e alimentos da Venezuela; o êxodo massivo de cidadãos colombianos empurrados pela pobreza e pelo abandono do modelo neoliberal colombiano; a penetração do narcotráfico, que declarou guerra à Revolução Bolivariana e se apropriou de um sistema financeiro que manipula o câmbio para utilizá-lo como coordenada para o contrabando espoliador. Assim, não existe Comissão da Verdade, como quis a Venezuela. Terá que esperar como se concretiza no cara a cara entre os dois países esta investigação que deverá ter – de alguma forma – uma relevante participação internacional capaz de dar credibilidade.

3.- Reunir os ministros para tratar os temas sensíveis na fronteira.

Boa decisão que concretiza o início do diálogo em 48 horas. Acontecerá? Não vejo a Colômbia derrubando os decretos nacionais e as ordens municipais que legalizam o contrabando de combustíveis ou autorizam a manipulação cambial na fronteira, por exemplo. A Colômbia permitirá que a PDVSA instale estações de serviços ou venda de gasolina diretamente às estações de serviço no norte de Santander e Guajira? Que medidas adotará a Venezuela quanto ao trânsito pesado que destrói nossas vias? O Estado colombiano fará presença, por fim, na fronteira e desmontará a economia paramilitarizada que atua como uma sanguessuga violenta sobre a Venezuela? Que fará Santos com as Bacrim e demais criminosos “desmobilizados” de Uribe?

4.- Progressiva normalização da fronteira.

Aqui novamente cabe o jogo das interpretações. O que significa “normalizar a fronteira”? Depende. Para a Colômbia, é abrir a fronteira novamente e voltar ao status quo anterior a 19 de agosto. Ou seja, retornar à situação que provocou o fechamento. Com livre acesso de contrabandistas, máfias de “bachaqueros” e criminosos para a Venezuela, junto do povo colombiano pobre que vem buscar um futuro melhor. Algo inaceitável para a Venezuela. Para nosso país, a situação ainda com o Estado de Exceção, hoje em dia está “mais normal” que antes do fechamento. O Presidente Maduro foi muito claro: a Venezuela propõe uma “nova fronteira de paz”, não vai retornar à caótica e ameaçadora situação do passado recente. A Colômbia deseja ansiosamente a mesma fronteira de sempre, com mudanças cosméticas e gestos diplomáticos. O modelo colombiano se baseia em excluir os pobres e empurrá-los à fronteira, e que se virem como bem puderem. Só assim podem sustentar as “zonas rosa” e os privilégios de Bogotá. Amanhecerá e veremos.

5.- Coexistência dos modelos sociais, econômicos e políticos de cada país. Proposta essencial para a Venezuela, ameaçada hoje de leste a oeste. Não se aceita o termo “convivência” proposto pelo Presidente Maduro, porém se reconhece a existência (e necessidade de coexistência) de dois modelos. Dois modelos, por certo, que não são somente diferentes, mas diametralmente opostos um ao outro. Dois projetos radicalmente antagônicos por sua concepção e seus objetivos históricos. A oligarquia colombiana propõe reposicionar a Colômbia como prato de segunda mesa no mapa da descarada e militarizada globalização. A Venezuela constrói, ainda que tateando, uma experiência de justiça social e econômica. É o coletivo versus o privado. O mundo das elites contra a esperança dos humildes. Os privilégios contra a solidariedade. Para dizê-lo em chave bolivariana, é Santander contra Bolívar. Ou na Colômbia, é a oligarquia contra Gaitán.

Como nas relações pessoais, para conviver faz falta o acordo dos dois, porém – para se separar – basta que um só queira. Se a Colômbia não está disposta a respeitar o projeto bolivariano. Se Bogotá continua sendo ninho de conspirações, adotando a mais retrógrada e violenta direita venezuelana, e permitindo a instalação de uma para-economia na fronteira. Se continua desempenhando o papel geopolítico decidido por Washington através de Uribe: “Para acabar com a Revolução Bolivariana é preciso ocupar militarmente a Colômbia”. Se a oligarquia bogotana continua nos vendo como uma pavorosa ameaça por nossos avanços sociais e nosso sonho de justiça, continuará jogando, sorrateiramente, na destruição do vizinho. Nada faz pensar que isso vai mudar nem sequer uma vírgula. Com fronteira fechada ou com fronteira aberta.

6.- Fazer um chamado ao espírito de irmandade e unidade, propiciando um clima de mútuo respeito e convivência. Diplomacia. Diplomacia. Diplomacia. Não é o mais importante, mas faz falta, sem dúvida. E muito.

7.- Continuar trabalhando com o acompanhamento do Equador e do Uruguai. Básico. Vital. Este diálogo será sustentado – e avançará ainda com obstáculos e dificuldades – apenas se a região for acompanhada. Nesse sentido, Quito e os instrumentos projetados e criados pelo gênio Chávez, a UNASUL e a CELAC, demonstram novamente a artificial utilidade da OEA, o caduco discurso intervencionista da União Europeia e propicia uma nova derrota política à polícia do mundo. Em Quito, no centro do mundo, a América Latina marcou um gol pela paz. Mais tarde, se verá se foi suficiente. Ainda resta muita partida por jogar.

Fonte original: Questión

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/09/23/colombia-venezuela-siete-claves-para-entender-los-siete-puntos-de-quito/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)