Um ano de Ayotzinapa: o terror como instrumento de ação política
Mercedes Meineri (Textos e fotos)/Resumen Latinoamericano/Marcha – Neste sábado, fez um ano do sequestro e do desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa. 365 dias, 13 luas, 12 meses e milhões de passos que caminham em busca da verdade, exigindo do governo de Enrique Peña Nieto uma resposta contundente.
Na noite de 26 de setembro de 2014, policiais de Iguala e Cocula, sob a responsabilidade do prefeito José Luis Abarca Velázquez, abriram fogo contra um grupo de estudantes da Normal Rural “Isidro Burgos”, do estado de Guerrero, que se preparavam para assistir a uma manifestação em memória do Massacre de Tlatelolco, ocorrido em 2 de outubro de 1968. O saldo: seis mortos, dezenas de feridos e 43 estudantes desaparecidos.
A versão oficial, denominada paradoxalmente como “verdade histórica” pela Procuradoria Geral da República, acusa o cartel Guerreros Unidos de tê-los levado e incinerado em um lixão de Cocula. No entanto, o Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), que realizou uma exaustiva investigação independente, entregou um informe no começo deste mês, onde detalha uma serie de fatos chaves que aumentam as contradições da versão oficial e apontam dados fundamentais para o esclarecimento do caso.
A equipe de especialistas, criada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), assegura que o Exército e a Polícia Federal participaram do operativo, que não existe evidência científica que possa sustentar a versão oficial de que os estudantes tenham sido incinerados e denuncia a negligência na manipulação de evidência forense, no processo de investigação e na busca dos estudantes.
Ao longo do processo de investigação foram realizados dezenas de rastreamentos em terrenos onde existiam indícios que apontavam a possibilidade de encontrar os corpos dos estudantes. Foram descobertas mais de 70 fossas comuns com os restos de centenas de pessoas, que em sua maioria ainda não foram identificadas. Dentro dos corpos que foram reconhecidos, se identificaram dois dos estudantes.
No ano que transcorreu, mais de 100 pessoas foram presas com relação aos desaparecimentos dos estudantes, dos quais aproximadamente a metade são policiais e a outra metade supostos membros de grupos criminosos. Dos detidos, nenhum é acusado especificamente pelo crime de desaparecimento forçado e ainda não existe nenhuma sentença.
Ayotzinapa, crime de Estado
Os números da tragédia humanitária que vive o México evidenciam que Ayotzinapa não é um caso isolado: mais de 22 mil e 610 pessoas desapareceram nos últimos nove anos, 150 mil mortas, um milhão de deslocados. Isto segundo números oficiais.
Ayotzinapa é a ponta do iceberg. O desaparecimento dos estudantes é a mostra de que o México está vivendo uma gravíssima crise em matéria de direitos humanos. Longe de serem “excessos” de grupos fora de controle, práticas sistematizadas como o desaparecimento forçado, a tortura e o assassinato resultam instrumentos de ação política que pretendem disciplinar através do terror. E então os limites entre a lógica racional do poder instituído e a do narco se confundem.
Um ano após aquela noite que comoveu a sociedade mexicana e mobilizou tanta gente ao longo do mundo, em centenas de manifestações, atividades, concentrações, atos e caravanas, reclamando a apresentação com vida dos estudantes desaparecidos, exigindo justiça e uma resposta seria sobre o caso, o grito volta a se multiplicar: Ayotzinapa dói porque os desaparecidos fazem falta a todos nós! Vivos os levaram; Vivos os queremos!
Para ver a galeria de fotos: http://www.marcha.org.ar/gallery/13-lunas-12-meses-y-millones-de-pasos/
Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2015/09/25/un-ano-de-ayotzinapa-el-terror-como-instrumento-de-accion-politica/
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)