Numerosos protestos no Haiti por conta das denúncias de fraude nas eleições presidenciais

A fraude marcou as eleições no Haiti. Os protestos se iniciaram ao final da votação.

28/11/10 – Milhares de haitianos se concentraram em Porto Príncipe e exigiram a prisão do presidente René Preval, acusado de ter organizado “uma grande fraude”. Doze candidatos exigem a anulação da votação.

O que esta manhã parecia ser uma tranquila jornada de eleições presidenciais no devastado Haiti, em horas se converteu num verdadeiro pesadelo. Doze dos dezoito candidatos, entre eles os favoritos Mirlande Manigat, Michel Martelly e Charles Henri Baker, emitiram, nesta tarde, uma declaração conjunta em que denunciam diferentes tipos de fraude e, por isso, pedem “a anulação das eleições”.

Urnas com votos dentro antes de abrirem as seções de votação e pessoas com documentos de falecidos no terremoto de 12 de janeiro, foram algumas das causas que levaram os candidatos a emitirem a declaração conjunta para reiniciar as eleições e a convocar uma mobilização popular para apoiar a medida.

Milhares de haitianos se manifestaram espontaneamente nesta tarde, em Porto Príncipe, e pediram a prisão do presidente René Preval, pouco depois de que 12 dos 18 candidatos a sucessão do mandatário o acusaram de organizar uma “fraude gigantesca”.

“Prendam Preval, prendam Preval”, gritavam os manifestantes enquanto arrancavam, pelo caminho, os cartazes que promoviam a candidatura do governista Jude Célestin, informou a agência de notícias DPA.

O protesto se iniciou com centenas de pessoa, em frente ao Hotel Karibe, no bairro Pétion-Ville, onde os candidatos denunciantes leram o documento solicitando a anulação das eleições e convocando “os jovens” a se mobilizarem “pacificamente para defender um novo Haiti”.

“Denunciamos ante a comunidade internacional uma grande fraude e pedimos a anulação das eleições”, disse a declaração conjunta assinada por, entre outros, Mirlande Manigat, Michel Martelly e Charles Henri Baker, três dos favoritos nas pesquisas junto ao candidato do governo Célestin.

Ao menos três centros eleitorais em Porto Príncipe abriram com entre quatro e seis horas de atraso com relação a hora oficial, segundo a DPA. Um jornalista estrangeiro assegurou ter visto num centro em Cité Soleil como a presidente da mesa abria a papeleta antes de colocá-la na urna. Caso esta não fosse favorável ao partido que preferia, a jogava no lixo.

O candidato do governo, Jude Celestin, ignorou a importância das denúncias apresentadas pelos outros candidatos e considerou que a jornada de votações transcorreu com normalidade. “Tudo está bem, apesar de alguns problemas”, declarou para a imprensa internacional. E pediu aos seus simpatizante a “manterem a calma” porque, segundo ele, “os outros estão orquestrando coisas para responsabilizar” seus seguidores de supostas irregularidades.

Por sua vez, o candidato do partido “Inite” reiterou que seus partidários estão calmos e assinalou: “Se numa seção eleitoral não encontrarem seu nome, esperem até que se resolva o problema”.

A candidata de oposição à presidência do Haiti e preferida nas pesquisas, Mirlande Manigat, foi uma das primeiras a fazer a denúncia. Disse que se trata de uma “grande e escandalosa fraude” e se perguntou se “é com esse tipo de manobras que darão a vitória à (Jude) Celestin”.

O ex-primeiro ministro Jacques Edouard Alexix também se somou às denúncias de fraude e as relacionou com uma suposta estratégia da “Inite” para anunciar a vitória de seu candidato por meio de uma manifestação popular.

Mais de 4 milhões de haitianos foram convocados às urnas, ao primeiro turno, após o temor provocado pelos tremores, os furacões, a epidemia de cólera – que já contabiliza mais de 1.600 mortos –, a violência política que trouxe mais mortes e a suspeita de fraude sobrevoando o país, de uns 10 milhões de habitantes e um PIB que, este ano, fechará em torno de 9%.

Os opositores Mirlande Manigat e o cantor Michel Martelly, junto com o candidato da situação Jude Celestin disputavam voto a voto na apuração. Também aparecia, com menores possibilidades, o “homem” de Jean Bertrand Aristide, Jean Henry Cean e o único candidato branco num país de negros, o empresário Charles Baker.

Em 1995, René Preval foi eleito por Aristide e seu movimento Lavalas com a intenção de sucedê-lo, depois de ter sido substituído no poder, um ano antes, por uma invasão de 20.000 marines, ordenada por Bill Clinton, frente a avalanche de balseiros que iam embora do Caribe e fugiam dos tubarões para escapar da miséria e violência provocada pela ditadura de Raoul Cedrás.

Em 2001, Aristide voltou ao poder, até que o golpe de Estado de 29 de fevereiro de 2004 – paradoxalmente ou não – promovido pelos EUA e a França, mandou o ex-pai dos pobres ao obscuro exílio na República da África Central.

Em fevereiro de 2006, Preval venceu Leslie Manigat no primeiro turno das eleições – neste país nunca existiu segundo turno –, ao longo de várias semanas de violência nas ruas, com sua dose de morte. Avalizado pela OEA e pela Minustah (a missão da ONU neste país, desde 2004), o Conselho eleitoral “distribuiu” os números para que o atual presidente, que obteve pouco mais de 47%, frente aos 11,7 de Manigat, chegara aos 51.15, evitando o segundo turno.

A fórmula foi muito simples: retiraram da contagem os votos brancos e nulos, algo que não é permitido pela lei eleitoral. Porém, como no Haiti tudo é possível, Preval se deu ao luxo de retornar ao Palácio do Governo, reluzente com seus brancos, frescos e afrancesados salões de princípios do século. Parece que a história se repetirá.

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Tradução: Maria Fernanda M. Scelza

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/index.php?option=com_content&task=view&id=2482&Itemid=49〈=en

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