Enquanto aumentam os mortos por cólera, surgem novos protestos contra estrangeiros no Haiti

Os habitantes do Haiti mantêm as mobilizações contra as forças de ocupação estrangeiras.

Resumo Latino-americano/AVN – Com novos protestos contra as tropas da Missão de Estabilização das Nações Unidas (Minustah), nesta sexta-feira os habitantes da nação caribenha, castigada por um surto de cólera, retomaram os protestos para que saiam do país soldados nepaleses apontados como sendo os portadores da epidemia que já custou a vida de 1.138 pessoas.

As manifestações acontecem na capital, Porto Príncipe, e em outras localidades.

Os habitantes, que acusam as tropas nepalesas de jogar resíduos fecais no rio Artibonite, levantaram barricadas nas ruas, e teme-se que a polícia nacional comece uma nova repressão como em dias passados.

Até agora o ato acionar policiais causou a morte de três pessoas e produziu dezenas de feridos.

Enquanto isso, na Organização das Nações Unidas (ONU) rejeitaram a idéia de que os soldados provenientes do Nepal tivessem introduzido a cólera no Haiti, como sugeriram fontes em Porto Príncipe.

As autoridades haitianas explicaram na segunda-feira passada que a cepa de cólera que se expandiu pelo território provinha do sul da Ásia, razão pela qual teria entrado pelo acampamento soldados nepaleses.

A Minustah informou que depois do começo da epidemia no centro do Haiti, foi feita uma análise na unidade nepalesa de Mirebalais, no departamento de Artibonite, descartando que houvesse cepas de cólera no lugar.

No transcurso dos dias, em frente a esta base militar se realizaram várias manifestações contra os soldados.

Enquanto as pessoas se encontram nas ruas protestando – e a situação é crítica devido às mortes por cólera e às conseqüências do terremoto que no começo do ano deixou sem lar quatro milhões de habitantes – no Haiti continua a campanha proselitista com vistas às eleições presidenciais do dia 28 de novembro.

A multiestatal Telesur indicou que os manifestantes desejam participar das eleições, mas não da forma como estão sendo conduzidas, já que o atual governante René Preval está relacionado com 14 dos 19 candidatos.

Também foi dito que a polícia haitiana evita a presença de meios de comunicação credenciados nas zonas onde as pessoas protestam, com a desculpa de que não estão autorizados.

Nas manifestações a exigência reiterada é que a Minustah abandone o país, não só pelo atual surto de cólera, mas pela sua ação repressiva.

Com uma economia devastada, mais de 70% da população na pobreza e uma instabilidade política muito marcada desde a derrocada por seqüestro do presidente legítimo Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004, por parte de tropas dos EUA, o Haiti sofreu um forte terremoto no início do ano, houve a passagem do furacão Tomás e agora uma epidemia de cólera que avança desde o norte do país e já cruzou a fronteira com a República Dominicana.

Durante esta jornada, o Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, explicou que esta epidemia que afeta a nação caribenha é parte de uma pandemia mundial que começou há 49 anos.

O relatório apresentado foi feito juntamente com a Organização Pan-americana da Saúde (OPS), e revelou que provas genéticas realizadas no patógeno determinaram que a cepa é idêntica à achada anteriormente em países do sul da Ásia e outras zonas.

“Se as amostras estudadas são representativas das circulantes no Haiti, então é provável que a bactéria Vibrio cholerae poderia ter chegado nessa nação através de um único caso”, acrescentou o documento.

Mesmo no Haiti não havendo casos de cólera há 100 anos, as condições para sua propagação estão criadas por causa da aglomeração, da pouca higiene pessoal e ambiental, da falta de sistemas de rede de esgoto adequado e da carência de água potável.

Por sua vez, a organização Médicos sem Fronteiras (MSF) explicou aos habitantes haitianos “o baixo risco e os grandes benefícios” de instalar centros de tratamento de cólera nos bairros, espaços que muitos cidadãos rejeitam por temer o contágio.

Eles consideraram necessário “tranqüilizar uma população assustada com uma doença completamente desconhecida no país”.

O MSF também assinalou que a falta de uma resposta concreta no desdobramento de medidas para conter a epidemia “está debilitando os esforços para frear” a doença.

Por esta razão, foi solicitado a todas as agências presentes no Haiti “que aumentem as dimensões e a rapidez de seus esforços para assegurar uma resposta de acordo com as necessidades das pessoas em risco de contrair cólera”.

Traduzido por: Valeria Lima.

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