Haiti: o povo vai às ruas contra o regime
Por Carlos Aznárez, Resumen Latinoamericano
Depois das manifestações que mobilizaram multidões na última quarta dia 17 e que foram às ruas para denunciar o governo corrupto de Jovenal Moise, parece que o ponto central da demanda deu um passo adiante, já que não é somente a revolta por causa dos fundos desviados da PetroCaribe, mas que a população, encolerizada em virtude da repressão policial que custou uma nova vida, exige diretamente a renúncia de Moise.
O caso PetroCaribe foi a gota d’água, pois o desvio de fundos, que tão solidariamente a Venezuela Bolivariana enviara para atender aos graves problemas do país, é visto, logicamente, pela população como um crime, num país onde o sofrimento é algo cotidiano. Deste estado de ânimo das massas têm surgido novas rebeldias. Que fique claro: o povo não se opõe à PetroCaribe, muito pelo contrário; deseja pôr fora os governos corruptos que traíram o gesto do Comandante Hugo Chávez.
Agora a partida fundamental se joga nas ruas. Assim, uma multidão inundou, com suas improvisadas faixas e a bandeira nacional o imenso Campo de Marte. E a mesma cena se repetiu em Gonaive, Cite Soleil ou Jacmel, de onde Moise deve ter saído correndo como um rato diante da ira de centenas de populares.
Pela noite, na segunda cidade do país, Cabo Haitiano, a grande maioria de seus habitantes permanecia ocupando as ruas e a polícia estava dispersa e sem saber o que fazer. Os moradores insistiam em gritar: “que se vá Moise” e outros epítetos sobre seus atos de corrupção.
Para estes dias se esperam novas mobilizações em Puerto Príncipe e também em Les Cayes, onde foi assassinado um manifestante na quarta-feira.
Tudo indica que, desta vez, o povo está disposto a dizer a última palavra e apertar o passo para que a sucessão de maus governos (os três últimos têm sido um pior que o outro: Preval-Martelly-Moise) não se repita e que sejam as forças populares e os movimentos sociais os que passem a ter opinião superlativa na hora de se decidir o rumo do país. Não é casual que, neste 17 de outubro, nas ruas, com os cantos e consignas contra o regime, muitos resgataram a figura de Jean-Jacques Dessalines, o grande patriota antiescravista e lutador pela independência. Seu legado revolucionário segue sobrevoando por todo o território haitiano. Muitos são os que rememoram aquela conquista de 18 de novembro de 1803, quando o líder proclamou “Liberdade ou morte”. Esse pronunciamento se fez carne em centenas de milhares de haitianos e haitianas, que hoje estão dispostos a que nem as tropas de ocupação da Minustah nem as forças repressivas do governo atual sejam capazes de frear seus anseios libertários. Como bem disse um dos manifestantes entrevistado por uma cadeia de tv mexicana: “Já sofremos demasiado para que não tenhamos a dignidade de nos rebelar, e desta vez não vamos retroceder até que o povo governe”.
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