Bolsonaro, o neofascismo em movimento
EDITORIAL DE O MOMENTO Nº 11
Por Milton Pinheiro
Bolsonaro, o Neofascismo em Movimento – A condensação da crise em nosso país tem, objetivamente, lançado seus efeitos sobre a sociedade brasileira e acumulado vitórias na operação organizada e rápida da destruição social. Apesar de não termos, ainda, um despertar das subjetividades que impactam a luta política, a relação de forças na luta de classes tem dado sinais da movimentação da classe trabalhadora e isso pode contribuir para a construção de uma alternativa que impacte a cena pública e a política no Brasil.
No entanto, ainda prossegue a operação de destruição/dominação do Estado brasileiro – o caos controlado – e cresce o poder corrosivo do golpismo por dentro das instituições, avolumando-se os desmandos sobre a ordem da democracia formal, ferindo gravemente as liberdades democráticas. São ataques contra jornalistas, prisões de militantes, processos intimidatórios contra lutadores sociais na Polícia Federal, PMs bolsonaristas autonomizando-se da leniente corporação para agir com nítida forma fascista contra opositores do governo federal, repressões aos atos e manifestações sociais, processos contra professores/as das mais diversas universidades públicas, cerceamento da liberdade de expressão, avanço no uso da Lei de Segurança Nacional, ameaça de criação de uma lei “antiterror” para silenciar a oposição, etc.
No ambiente da crise econômica, o desemprego avança na corrosão das condições de vida social com algo em torno de 20 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho. O conjunto das políticas de acompanhamento social tem sido paulatinamente destruídas, tendo como lógica a convicção de que os miseráveis da ordem capitalista devem ser jogados completamente na insana competição do mercado. A fome invadiu os lares e as ruas do Brasil. A carestia e a inflação têm sido criminosas contra trabalhadores de baixa renda e os pobres da estrutura social, esse projeto econômico tem sido muito mais efetivo na base da pirâmide social do que para com os segmentos médios com maior poder aquisitivo e os ricos.
O desemprego, a fome e a carestia têm sido o tripé que a burguesia interna, através do seu governo, tem se utilizado para atacar e esgarçar o tecido social. Trata-se da maior intervenção política da história recente do Brasil para exterminar a classe trabalhadora e colocá-la na informalidade e, ao mesmo tempo, o capitalismo aprofunda o sentido de ódio aos pobres para jogá-los na marginalidade social, ou seja, desarticulando-os da integração humana.
Esse projeto de classe prossegue com a radical e perversa ação do governo do agitador fascista, Jair Bolsonaro, tentando impedir as ações de fiscalização sobre aqueles que cometem crimes contra o meio ambiente, a exemplo da destruição da floresta amazônica e do avanço predatório do garimpo. Tudo isso aliado ao profundo descompromisso com a questão indígena que tem colocado essa população originária em risco cotidiano. A política pública do governo federal, nessas áreas, é de completa abertura para a intervenção do capital que, com sua capacidade destrutiva, está operando uma devastação sem precedentes.
A pandemia da Covid 19, com sua letalidade, se transformou na oportunidade que o governo de extrema direita encontrou para liquidar um conjunto grande de pessoas (mais de 520 mil vidas) e operar o eugenismo social. O papel de Jair Bolsonaro nesta conjuntura pandêmica é criminoso, obscurantista, anticientífico, estimulador do contágio social e profundamente reacionário. Não temos vacinas em virtude do negacionismo do presidente. O projeto do caos controlado e o avanço do golpe por dentro das instituições se consolidou. Agora está em marcha o ato final dessa estratégia de extrema direita.
A estratégia de destruição da democracia formal e das liberdades democráticas avança. Podemos afirmar que Bolsonaro tem movimentado ações táticas que se configuram nos testes públicos de força e nas declarações que sinalizam para o começo do processo de ruptura. Tudo planejado para examinar a capacidade ou não de reação das chamadas instituições e das forças populares e proletárias. A lógica é da perene naturalização e efetivação de um processo golpista… Para isso, operam-se as diversas ações de força com a presença de tropas militares e policiais, em especial as PMs, com hordas neofascistas e segmentos sociais de extrema direita que clamam pelo golpe aberto.
A ideologia do golpe fomenta a movimentação de diversas forças com ações muito consistentes por todo o Brasil. Percebe-se uma articulação policial-miliciana, uma presença militar concreta e, para isso, temos um acordo velado entre as forças armadas (em especial o exército) e o presidente da república.
Não tem consistência analítica qualquer informação que coloque o exército como uma instituição que age de forma reativa diante do presidente neofascista. Essa força foi sedutoramente cooptada com milhares de postos no governo, com ministérios decisivos no palácio, com privilégios para a tropa, com aumentos no soldo e eles, hoje, estão agindo em perfeita simbiose com o presidente. Temos diversos exemplos desse conluio, mas ficaria apenas em dois: o episódio da não punição de Pazuello, que participou de ato político com Bolsonaro, e a entrevista do presidente do Superior Tribunal Militar (STM).
Bolsonaro com suas bases de caráter paramilitar e as hordas neofascistas se movimentam para encetar, após os rotineiros testes de força, o golpe que vai tentar fechar o ciclo de dominação sobre as instituições de Estado e operar a única forma de continuar no poder: um Estado de exceção. Pode ser, a depender do acirramento da conjuntura e do grau de repercussão das denúncias sobre ele em momento mais próximo, mas também pode ocorrer depois do processo eleitoral diante de uma possível derrota (por isso questiona o voto eletrônico e defende o voto em cédula). Mesmo com essa análise sobre o processo golpista, examino que Bolsonaro chegará, se chegar, com muita força nas eleições de 2022. O Brasil e a ordem democrática correm risco com os dois cenários.
Só uma profunda alteração na relação de forças, com forte incidência dos segmentos proletários e populares na cena pública e com a construção da mais férrea unidade de ação é que a esquerda poderá enfrentar o projeto golpista em curso. Bolsonaro colocou o neofascismo em movimento e só a frente única das forças proletárias, populares e de esquerda pode barrar esse projeto e contra-atacar.