A atualidade da trincheira sindical nas lutas dos trabalhadores e no caminho da Revolução Brasileira
Caio Andrade*
Os impactos da crise capitalista internacional abalaram as condições que permitiam a política de conciliação realizada pelo PT desde 2003. O esgotamento dessa estratégia petista ficou mais evidente desde 2014. Preocupado em manter a confiança do grande empresariado, o governo federal esforçou-se em convencê-lo de sua competência para impor a agenda conservadora sobre o povo. Contudo, a burguesia queria mais agilidade nos ataques aos direitos dos trabalhadores. Portanto, lançou mão das mais sujas manobras institucionais para livrar-se de Dilma, já desgastada por dirigir o Brasil na direção contrária ao prometido antes das eleições.
Procurando valer-se do clima de crise para aumentar a exploração, destruir os serviços públicos, ampliar as privatizações e eliminar direitos trabalhistas básicos, o patronato emplacou, com o auxílio decisivo dos governantes a seu serviço, uma verdadeira ofensiva conhecida como ajuste fiscal. Nesse contexto, a espada capitalista segue apontada contra a cabeça da classe trabalhadora, ameaçando o direito de aposentadoria e outras conquistas essenciais presentes na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
A pergunta que deve ser feita em meio a essa conjuntura é: como o país ainda não parou?! A frase de Cyril L. R. James cai como uma luva: “Quando a história for escrita como deve ser, os homens ficarão admirados do comedimento e da grande paciência das massas, e não da sua ferocidade”. A paciência das massas, porém, não tem origem genética nem decorre do clima tropical. Ela é fruto de processos históricos.
Assim, inúmeros fatores contribuem para que hoje a imprensa, o governo, o Congresso Nacional e o STF discutam abertamente formas de aumentar o sofrimento dos trabalhadores para dar mais lucros aos milionários sem que haja uma poderosa revolta popular e uma greve geral. A esse respeito, importa destacar a hegemonia capitalista no movimento sindical. Ou seja, a grande maioria dos sindicatos, federações e centrais sindicais está há anos nas mãos de setores políticos contrários aos interesses da classe trabalhadora.
Segundo o próprio DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), as maiores centrais são marcadas pela ideologia de mercado e todas as centrais com mais de 5% de representatividade são influenciadas por partidos da ordem. Esse é o tamanho do desafio colocado ao campo classista e revolucionário, infelizmente ainda pouco no movimento sindical, além de fragmentado internamente. Enquanto os operários de setores estratégicos – como o metalúrgico, o automotivo, a construção civil, os transportes – estiverem sob a direção dos pelegos e burocratas da CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST etc. será mais difícil garantir a luta efetiva e independente pela defesa dos direitos históricos dos trabalhadores, que dirá o avanço rumo a novas conquistas e o enfrentamento do capitalismo.
Isso não quer dizer que devemos esperar a reversão desse quadro para levar a cabo uma ofensiva ideológica e fazer todos os esforços para barrar os ataques do patronato, aglutinando os setores combativos. Mas é preciso ir além e consolidar uma visão estratégica, compreendendo que, na atual realidade brasileira, o movimento sindical é uma trincheira central para os revolucionários. Cair no equívoco de subestimar este fato só irá atrasar a emancipação da classe trabalhadora e do povo brasileiro em geral.
*Caio Andrade é Professor de Geografia da Rede Estadual do Rio de Janeiro e estudante de mestrado na ESS/UFRJ.
https://unidadeclassista.org.br/uc1/2525