Curso de Formação Estadual da UJC Santa Catarina homenageia os camaradas Pedro Alcântara, Dona Zulma e familiares

imagemCamarada Pedro, PRESENTE! Agora, e SEMPRE!

Bertold Brecht disse: “Há homens que lutam um dia. E são bons. Há homens que lutam muitos dias. E são melhores. Há homens que lutam anos. E são excelentes. Mas, há os que lutam toda vida. E estes são imprescindíveis”. Para nós Pedro foi imprescindível!

Começaremos usando a frase que comumente usávamos: “Pedro tu és pedra e sobre ti edificaremos a ‘nossa igreja’”. Não edificamos igrejas, tampouco templos suntuosos, mas tentamos continuar seu legado de luta; sim, porque cada um de seus filhos vive ou viveu seus enfrentamentos.

Mas, afinal, quem foi Pedro? Pedro Alcântara da Silva, ou simplesmente Pedro foi o quarto filho de uma família de sete irmãos. Filho de José Sebastião, ou Seu Zé Pequeno, e Maria. Ele padeiro. Ela lavadeira. Nasceu em Florianópolis, e, como muitos Pedros, ele também não tinha grandes posses. Porém, seu caráter, garra, determinação o tornaram uma criatura rica. Pedro era operário da construção civil. Aos 14 anos iniciou sua trajetória conduzido pelas mãos hábeis de Seu Cadinho. Hábil na arte edificar sonhos, deixou registrado na memória da cidade sua obra.

Viveu na invisibilidade, como tantos outros trabalhadores operários vivem, atualmente. Dizia com frequência que tudo o que fazia em um piscar de olhos se tornava estranho a ele, visto que não poderia habitar ou ser possuidor de suas obras. Pedro vivia em conflito, pois acreditava que “quem vive de concessões e favores não é capaz de ver nos outros senão os vícios que carrega em si mesmo”.

Ainda jovem passou a viver com Dona Zulma. Deste encontro nasceram os rebentos: Sandra, Sid, Susan e Solange (in memoriam) e Sônia, Saul e Samara. Com muita dificuldade os dois criaram os sete filhos. A roda gira e neste giro aos filhos mais velhos coube, junto a Dona Zulma, a árdua tarefa de prover no sustento da casa. Dona Zulma era lavadeira. Dona Zulma que acompanhou sua trajetória de vida política, dando-lhe assistência e segurança.

Pedro vivia envolvido em assuntos relacionados ao futebol, atuando na zaga do Postal Telegráfico, Guarani e Avaí, sua eterna paixão; ao samba e junto com outros vizinhos e amigos contribuiu com a formação do bloco Filhos da Lua que deu origem, em 1948, ao GCERES Os Protegidos da Princesa; ao remo, através do Clube de Regatas Aldo Luz. Hábil na marcenaria e carpintaria, Pedro consertava os barcos e era patrão (timoneiro) na classe Oito Com (8+). Por intermédio do CR Aldo Luz ele conseguiu escapar das perseguições decorrentes de sua militância no Partido Comunista Brasileiro – PCB. Pedro acompanhava a delegação em períodos de regata e desta forma tinha sua liberdade preservada mesmo que por breve período. Além disso os dirigentes do Clube concediam-lhe guarida sempre que necessário enviando-lhe aos países latinos americanos com o firme propósito de reparar os barcos.

O PCB foi seu grande caso de amor, não restando à família outra opção senão acompanhar os sonhos de Pedro. Aguentar as saídas estratégicas com o Clube de Remo para camuflar tempos sombrios. Como membro da Liga Operária, participou ativamente da organização do movimento operário em defesa dos direitos da classe trabalhadora à época, bem como contra a repressão no período da ditadura militar. Neste período, infelizmente, presenciou a história do Partido ser destruída com o intuito de salvaguardar outros Camaradas, em face da brutal violação de direitos ocorrida por parte do Estado. Silenciar e destruir a história foi o golpe fatal, não só para ele como para os demais camaradas. Mesmo com pouca instrução, dedicava-se à leitura de Marx, Lenin, Trotsky, Tolstói, Dostoievsky e outros. Através deles, vislumbrava a possibilidade de promover transformações profundas, como a reforma agrária, acabar com o analfabetismo e criar sistemas políticos de saúde e educação. Apaixonado por Cuba, sonhava com a revolução que não viu concretizada em seu país. Apaixonado por música, dava “barrigadas” de riso ao ler a “novela pecuária” Fazenda Modelo de Chico Buarque.

Dizia ele: “aguardo a revolução do rebanho e torço para que os estorvos da direita sejam exterminados até a quinta geração para que não germine os seus frutos podres. Esta novela era o espelho da sociedade brasileira, mostra as sanções que são aplicadas a todo aquele que se mostrar opositor do governo ou simpatizantes das ideias comunistas, pois eram ameaças ao lucro do governo, e, consequentemente, ao capitalismo”.

A vida de Pedro não foi nada simples. A postura, sem medo de autocriticar-se, sempre disposto a se reavaliar, era uma de suas características. Ele não fez de sua luta passada uma sequência de falsas vitórias.

Categoria