Cuba: Encontro Internacional de Solidariedade

imagemA unidade como prática política em tempos de contraofensiva imperial

Por Laura V. Mor. Fotos: Héctor Planes,
(Da Correspondência Resumen Latinoamericano em Cuba).

Havana, 02 de maio de 2017 – Unidade foi a palavra de ordem e a prática do Encontro Internacional de Solidariedade celebrado na cidade de Havana, Cuba.

Como todos os anos, depois da celebração do Dia Internacional do Trabalhador com desfiles populares massivos ao longo de toda ilha de Cuba, em torno de 1.200 representantes sindicais e de organizações, partidos e movimentos sociais dos cinco continentes se reuniram no Palácio de Convenções, em um evento organizado pela Central de Trabalhadores de Cuba (CTC).

Ulises Guilarte De Nacimiento, Secretário Geral da CTC e membro do Birô Político do Partido Comunista de Cuba, abordou a situação mundial do proletariado, enfatizando o crescimento do trabalho informal e a precarização dos trabalhadores.

A vice-ministra de Relações Exteriores de Cuba, Ana Teresita González Fraga, em sua apresentação sobre a atualização da política exterior cubana, afirmou que “a decisão do país é seguir lutando pela suspensão do bloqueio”; explicando que “as medidas executivas anunciadas pelo ex-presidente Obama para modificar aspectos da aplicação do bloqueio foram positivas, porém ainda insuficientes”, considerando a perseguição sistemática às transações internacionais cubanas e a necessidade de realizar essas operações financeiras por meio de um terceiro país, com o aumento de custos que essa situação gera à nação cubana.

É necessário lembrar – como bem enunciava a vice-ministra – que, embora Cuba e Estados Unidos tenham avançado em suas relações no âmbito diplomático, o mesmo não ocorreu no âmbito econômico, devido à continuidade do bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos em 1962, nem no âmbito político estratégico dada a perpetuação da usurpação do território de Guantánamo, a existência de transmissões ilegais de rádio e televisão contra a Revolução Cubana – denunciada por Cuba na ONU – a ingerência e a tentativa de intervenção em assuntos internos do país por meio do financiamento à contrarrevolução interna. Embora em 12 de janeiro do corrente ano, tenha sido assinado um acordo migratório entre ambos países que colocou fim à política de Pies Secos, Pies Mojados [Pés Secos, Pés Molhados] e ao programa de cooptação de pessoal médico PAROLE – as principais causas da imigração descontrolada, insegura e ilegal –, a Lei de Ajuste Cubano se mantém vigente, assim como “o trabalho subversivo como prioridade da política exterior dos Estados Unidos para Cuba”.

O evento contou com um painel internacional, onde representantes da Argentina, Brasil e Venezuela realizaram uma análise da situação política, social e econômica que se encontra cada um desses países, como parte de uma ameaça geral à integração, estabilidade e unidade obtida na região durante os últimos anos.

Gladys Hernández Pedraza, investigadora do Centro de Investigação da Economia Mundial (CIEM), advogou pela necessidade da unidade popular como “principal garantia” ante “a polarização crescente da classe média nas grandes economias desenvolvidas da região latino-americana”.

“Eu venho de um país que é o contrário a esta ilha da dignidade. Ali existe um governo dos ricos, pelos ricos e para os ricos”, afirmou Carlos Aznárez, diretor de Resumen Latinoamericano, ao começar sua intervenção acerca da atual situação política, econômica e social da Argentina sob a presidência de Mauricio Macri, a qual definiu como “capitalismo selvagem e não só neoliberalismo”. Aznárez denunciou a tentativa de instalação de três bases miliares em zonas estratégicas do território argentino: em Misiones, onde se encontra o Aquífero Guaraní, principal reserva de água doce da região; em Jujuy, onde existe grande quantidade de reservatório de lítio e na Tierra del Fuego, extremo sul do país, zona vital para o controle geopolítico da região. Assim, alertou sobre dois decretos sob o qual Macri colocou as reservas naturais do país como garantia de pagamento da dívida externa. “Mais entrega que isso, impossível”, sentenciou em forma de síntese da situação grave que acontece na Argentina.

Em outro momento de sua fala, assinalou que já existem 250 mil demitidos e milhares de desempregados no país, onde lutam os funcionários públicos, os docentes e outros sindicatos. Também apontou que “como estas receitas sempre encerram com repressão, o governo compra armas nos EUA e Israel, porém também mantêm presos políticos, como Milagro Sala, Agustín Santillán e outros, além de processar dirigentes sociais, como Lito Borello, Luis D’elía e Luis Bordón”.

Ao referir-se às tentativas de golpe de Estado e desestabilização da República Bolivariana da Venezuela, dirigidas pelos Estados Unidos por meio da Organização dos Estados Americanos (OEA) e seu Secretário Geral Luis Almagro e com o apoio irrestrito do governo macrista ao papel intervencionista da OEA, o diretor de Resumen Latinoamericano afirmou ante um aplauso generalizado do auditório que “a Venezuela é MERCOSUL, a Bolívia é MERCOSUL, para além das balelas idealizada por Macri”, diferenciando assim o povo argentino de sua atual administração. “Não existe fim de ciclo, existiu luta, existe luta e existirá luta. O exemplo disso é Cuba”, foi a mensagem alentadora de Aznárez para os movimentos progressistas e de esquerda da região.

Carlos Fermín, representante de União Socialista de Trabalhadores da Venezuela, afirmou, em contraposição com a Argentina, que em seu país “não existem presos políticos, mas políticos presos”. Denunciou a tentativa de globalizar midiaticamente a situação pontual de alguns Estados venezuelanos. Fermín afirmou que a tentativa de implantação do terrorismo nas ruas do país não é generalizada, mas em zonas monopolizadas pela direita, que representam uns 10% do total do território nacional. Ante a guerra econômica e midiática contra a Revolução Bolivariana, tanto da direita nacional como da transnacional, “existe um Povo decidido a não renunciar”.

O apoio à Revolução Bolivariana foi um tema comum ao longo das intervenções tanto dos integrantes do painel como os participantes do evento, pois tal como enunciou a vice-ministra González Fraga, “a estabilidade da Venezuela é vital para a região”.

Divanilton Pereyra, vice-presidente da Central de Trabalhadores do Brasil, por sua vez, também denunciou a ofensiva neoliberal no ataque aos processos soberanos da região latino-americana.  Pereyra fez um chamado a continuar a integração latino-americana e a reforçar mecanismos como a ALBA, a CELAC e UNASUR.

Durante o desenvolvimento do painel, se colocou em evidência a importância dos novos espaços digitais de comunicação para dar prosseguimento à batalha à desinformação e manipulação dos meios hegemônicos de informação.

Fernando González Llort, Heroi da República de Cuba e Presidente do Instituto Cubano de Amizade com os Povos (ICAP), saudou e agradeceu ao movimento de solidariedade pela luta por sua libertação e a de seus irmãos presentes na sala Gerardo Hernández, Antonio Guerrero e Ramón Labañino; e a de René González, mundialmente conhecidos como Los Cinco, presos e encarcerados por 16 longos anos em prisões estadunidenses quando tentavam visibilizar e desbaratar ações terroristas contra o povo cubano “A luta por nossa libertação é um exemplo do que se pode conseguir com unidade”.

Fernando enfatizou a necessidade de redirecionar a solidariedade para Cuba, centrando-a na suspensão definitiva do bloqueio e na devolução do território ilegalmente ocupado com a Base Naval dos EUA em Guantánamo; também afirmou que “hoje é de vital importância a solidariedade com o Povo e a Revolução Bolivariana de Venezuela”.

Como enfatizou Graciela Ramírez, coordenadora do Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade aos Povos, “este é o momento de aprender com esta Revolução (referindo-se ao processo revolucionário cubano), que com muito pouco, pode tudo”.

Foto: Fala no Encontro nossa companheira de RL Cuba, Graciela Ramírez.

Fonte: http://www.resumenlatinoamericano.org/2017/05/02/cuba-encuentro-internacional-de-solidaridad-la-unidad-como-practica-politica-en-tiempos-de-contraofensiva-imperial/

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)