43º Festival da Juventude Comunista da Grécia
Boletim do KKE – 19.09.2017
“A OTAN, EUA e a União Europeia jamais garantirão a “paz” e a “segurança” nos Bálcãs”
Em dezenas de cidades da Grécia continuam os eventos políticos e culturais do 43° Festival da Juventude Comunista da Grécia (KNE) e de seu periódico “Odigitis”, que este ano está dedicado ao centenário da Revolução de Outubro.
De 13 a 16 de setembro ocorreram os eventos do Festival da KNE em Tessalônica, onde o Secretário Geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas, pronunciou um discurso em uma grande manifestação política chamando os jovens “a partir de manhã, com o impulso do êxito do festival, mais trabalhadores e jovens unirão suas forças conosco no caminho para a mudança revolucionária. É preciso lutarmos todos juntos por uma sociedade que possa satisfazer nossas necessidades contemporâneas. Por uma sociedade na qual cada um de nós, segundo suas capacidades, possa desenvolver todos os aspectos de sua personalidade, utilizar todas suas habilidades e desempenhar um papel dirigente na construção desta sociedade. Uma sociedade que fomente a iniciativa, a criatividade, o pensamento realmente inovador e a atividade consciente, que liberte todo o potencial dos jovens que atualmente estão sendo estrangulados pelo sistema da exploração e das guerras, pelo capitalismo. Uma sociedade onde o poder esteja nas mãos da classe operária, em que o povo trabalhador esteja no comando da economia porque terá suas chaves, e por isso poderá disfrutar de toda a riqueza que produz com suas mãos e com seu intelecto, com seu suor e seu trabalho. A mesma resposta, é dizer que o mundo está mudando, deram os bolcheviques há 100 anos, em outubro de 1917. Como sempre, o novo triunfa sobre o velho mediante a revolução. Instamos aos jovens a aprender, a perguntar, a estudar os dias que abalaram o mundo. A questionar o ponto de vista dos exploradores que caluniam o movimento revolucionário na Grécia e a nível internacional”.
O Secretário Geral do CC do KKE em seu discurso fez alusão aos acontecimentos nacionais e internacionais. Denunciou o governo do SYRIZA-ANEL pelas medidas antioperárias e antipopulares duras que aplica. Chamou os trabalhadores a unirem forças com o KKE, com o movimento operário e popular que tem uma linha de ruptura e conflito com o sistema capitalista.
Neste discurso, D. Koutsoumpas, de Tessalônica, que está geograficamente no “coração” dos Bálcãs, se referiu detalhadamente aos acontecimentos nos Bálcãs e ao aprofundamento das contradições interimperialistas na região. A seguir, se apresenta um extrato de seu discurso sobre a situação nesta região e as avaliações do KKE.
“Estimados camaradas:
A Revolução de Outubro confirmo una prática que a luta pela retirada da guerra imperialista está intrinsecamente ligada à luta pelo poder operário e esta estratégia dos bolcheviques se confirmou há 100 anos.
Queremos discutir sobre esta experiência, particularmente hoje em dia, quando a confrontação e a disputa entre as potências fortes do mundo capitalista global estão envolvendo nossa região, os Bálcãs, o mar Egeu, o Mediterrâneo Oriental.
Nesta disputa, estão se envolvendo, de uma ou outra maneira, as relações de nosso país com os países vizinhos dos Bálcãs, assim como as relações greco-turcas e a questão cipriota.
Aqui, a “corda” não é simplesmente tensa, mas está se convertendo em um “emaranhado” devido às contradições, não só dos Estados mais poderosos, mas também dos “elos” menores, dos planos que têm as classes burguesas na região.
O questionamento multifacetado dos direitos soberanos e das fronteiras da Grécia pela burguesia turca, assim como pelas classes burguesas de outros países vizinhos, onde se está emergindo de novo o chauvinismo nacionalista, por exemplo na Albânia, se realiza em um momento quando em nossa região mais ampla tem lugar a guerra na Síria, onde “o caldeirão está fervendo” não só no Oriente Médio e na África do Norte, mas também na Europa, na Ucrânia, ao longo das fronteiras da OTAN com a Rússia.
Por isso, a decisão do governo do SYRIZA-ANEL de renovar o convênio de cooperação para a defesa mútua entre os governos da Grécia e dos EUA não é uma prática de “rotina”, mas um acontecimento que envolve nosso país ainda mais profundamente nos planos dos EUA e da OTAN, que pretendem fortalecer ainda mais o papel já importante da base aérea naval em Suda, que é uma “ferramenta” poderosa para seus planos de guerra no Mediterrâneo, assim como para um maior alcance de operações.
Ao mesmo tempo, se mantém e se moderniza a base em Araxos para que esteja pronta para receber o trânsito de ogivas nucleares, armas nucleares, aumentando os perigos para nosso povo. O governo está escondendo tudo isso do povo grego. Instamos-lhes a estarem preparados, a organizarem a luta.
NÃO às bases e às armas nucleares!
Assim, quando o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, declarou em agosto que a Rússia busca um conflito militar, a desestabilização dos Bálcãs, qualquer um pode entender porque os EUA se interessam em fortalecer a base de Suda e porque o ministro de Defesa do governo do SYRIZA-ANEL lhes propõe novos territórios para construir bases militares, porque o embaixador estadunidense na Grécia “passeia” pelas ilhas gregas.
Estas declarações do vice-presidente dos EUA feitas aqui nos Bálcãs em agosto passado e mais em concreto em Montenegro que, a toda pressa e sem um referendo, como se tinha prometido ao povo, se integrou à OTAN, são indicativos a respeito do fortalecimento das contradições interimperialistas na região mais ampla.
Os exercícios militares da OTAN neste verão nos países balcânicos, os exercícios navais na Bulgária e os exercícios militares na Romênia são muito característicos desta situação.
O governo do SYRIZA-ANEL, que participa plenamente dos planos da OTAN, e às vezes convida a OTAN no mar Egeu no contexto da guerra contra a Síria e outras vezes serve como rota de passagem para as forças estrangeiras da OTAN, como ocorreu neste verão, não só não garante os interesses do país, como afirma, mas também expõe o “nó” dos antagonismos interimperialistas em torno do pescoço de nosso povo.
Assim, enquanto a Grécia está se convertendo em uma “ferramenta” nos planos euro-atlânticos contra a Rússia, a classe burguesa da Rússia, pretendendo beneficiar-se de qualquer fenda na aliança antagônica da OTAN, assinou um acordo com a Turquia para a venda de sistemas russos modernos S-400.
Trata-se de um evento que é parte dos antagonismos interimperialistas que se desenvolvem com qualquer modo: no terreno diplomático, como se demonstra pelas expulsões mútuas do pessoal diplomático dos EUA e da Rússia, no terreno militar, como demonstra o crescimento e a orientação dos grandes arsenais de armas de um ao outro, assim como no terreno financeiro, por exemplo a respeito da maneira de dividir o mercado internacional de armas.
No entanto, este tipo de ações, no momento em que a Turquia ameaça diretamente a soberania de 17 ilhas gregas, somente contribuem para a intensificação da corrida armamentista entre as classes burguesas. Isto será pago pelos dois povos, enquanto o povo grego e o povo turco enfrentam os becos sem saída do modo de desenvolvimento capitalista, a pobreza, o desemprego, a exploração.
Além disso, a venda destas armas, inclusive quando estas se consideram como “armas puramente defensivas”, de fato reforça, “blinda” a agressividade da classe burguesa turca contra a Grécia e outros países, como a Síria cujas fronteiras são disputadas pela Turquia.
É por isso que quando os governantes defendem que nosso país é um “pilar de estabilidade” em um “triângulo de instabilidade”, por ter se incorporado nos planos dos EUA, da OTAN, da UE, voltam a dizer mentiras.
Na realidade, querem colocar a classe operária e nosso povos, antolhos euro-atlânticas para impedi-los ver a perigosa que é a implicação de nosso país nestes antagonismos, que pretendem servir a interesses estrangeiros e, em particular, como as classes burguesas, em primeiro lugar as mais fortes, os “leões” e depois as demais, os “tigres”, as “hienas” e inclusive os “abutres” repartirão entre eles a “presa” dos recursos energéticos, das matérias primas, as rotas de transporte de mercadorias, as cotas de mercado.
É por isto que este famoso “pilar de estabilidade” do governo do SYRIZA-ANEL, assim como o dos governos do PASOK e ND, é feitos de “palha”, de ilusões, baseados na “areia movediça” da insegurança da barbárie capitalista, das crises econômicas e das guerras imperialistas.
A OTAN não pode garantir a solução de problemas entre os países balcânicos, do mesmo modo que não fez durante 65 anos entre a Grécia e a Turquia ou nas relações entre a Grécia e a Albânia.
De fato, nos últimos 8 anos em que a Albânia é membro da OTAN não se parou, mas ao contrário, se fortaleceu a tendência do expansionismo, das reivindicações territoriais inaceitáveis às custas da Grécia, enquanto a Albânia cancelou o acordo sobre a ZEE no mar Jônico, que tinha assinado previamente.
A OTAN e a UE tampouco podem imbuir com “paz” e “segurança” as relações da Grécia com ARYM. O reavivamento no período recente das discussões a respeito da questão do “nome”, a participação de vários mediadores para resolver esta questão ocorre novamente no marco da maior incorporação do país vizinho no imperialismo euro-atlântico.
Os EUA e seus aliados não querem em absoluto que se reforce a influência de seus antagonistas em ARYM e sua incorporação em planos de energia e outros que estão opostos aos seus. Em qualquer caso, é preciso lembrar que naquela região, na fronteira com Kosovo, os EUA têm sua maior base no mundo, Camp Bondsteel.
Nem tampouco se pode assegurar “a paz e a prosperidade” pelos diversos “eixos” político-militares que estão sendo promovidos, como os com Israel ou Egito. Estes “eixos” que, de fato se apresentam como “noivas com dote” e como a solução para a exploração sem obstáculos dos recursos energéticos da Grécia e do Chipre, para a salvação do povo em condições de crise capitalista, a única coisa que podem fazer é criar novos tormentos para nosso povo.
Em primeiro lugar, porque onde quer que se formem “eixos” no mundo capitalista se demonstrou que se enfrentam com fortes “anti-eixos”, ou seja com interesses econômicos e geopolíticos rivais. Logo, é bem sabido que da exploração dos recursos energéticos ganham uns poucos, ou seja, os grandes monopólios de energia; não a classe operária, não os povos.
Por isso é inaceitável a pressão exercida sobre o povo cipriota por uma suposta “solução” à questão cipriota, em nome da exploração sem obstáculos dos recursos energéticos pelos grupos monopolistas com a finalidade de legitimar as consequências da invasão-ocupação turca e de seus resultados.
O KKE expressou sempre sua solidariedade com o povo cipriota contra a invasão-ocupação turca e contra qualquer “solução” dicotômica.
Nosso partido luta por um Chipre unido, por um e não dois estados, com uma soberania, uma nacionalidade, uma personalidade internacional, por uma patria comum para os greco-cipriotas e os turco-cipriotas, sem tropas de ocupação e exércitos estrangeiros, sem bases estrangeiras, sem garantidores nem “protetores”, com o povo cipriota sendo o verdadeiro dono de seu país”.
http://inter.kke.gr/en/articles/NATO-the-USA-and-the-EU-are-in-no-way-guarantors-of-peace-and-security-in-the-Balkans/