Fala do Secretário Geral do KKE no XXI EIPCO

imagemDISCURSO DO SECRETÁRIO GERAL DO COMITÊ CENTRAL DO KKE, DIMITRIS KOUTSOUMPAS
XXI ENCONTRO INTERNACIONAL DE PARTIDOS COMUNISTAS E OPERÁRIOS ORGANIZADO PELO PARTIDO COMUNISTA DA TURQUIA E O PARTIDO COMUNISTA DA GRÉCIA

Estimados Representantes dos Partidos Comunistas e Operários:

Sejam bem-vindos à reunião deste ano organizada, com base na decisão do Grupo de Trabalho, em conjunto pelo Partido Comunista da Turquia e o Partido Comunista da Grécia, nas costas da Ásia Menor, nas margens do Mar Egeu, que deve ser um mar de paz e de cooperação e não de agressividade, de provocações ou de ataques aos direitos soberanos no contexto dos antagonismos das classes burguesas da região. A classe trabalhadora, nossos povos e ainda mais as cidades vizinhas, o povo grego e o povo turco não têm que se dividir. Todos compartilhamos a preocupação e a vontade de paz, amizade, progresso, socialismo.

O KKE se opõe ao acordo de manutenção e expansão das bases EUA-OTAN na Grécia. Lutamos contra o envolvimento em planos imperialistas à custa de outros povos. Lutamos pela saída do país das organizações imperialistas da OTAN e da UE. O KKE condena a nova invasão das tropas turcas à Síria e expressa sua solidariedade com o povo sírio, que sofre as duras consequências da longa guerra imperialista. Devemos enfatizar que, especialmente neste ano, nosso encontro é comemorado em um período crítico, de aprofundamento de antagonismos e oposições imperialistas, de continuação de guerras e conflitos imperialistas locais e regionais, de intensificação da exploração da classe trabalhadora, das camadas populares, de crises econômicas capitalistas, de intensificação da preocupação com um novo perigo internacional, possivelmente de uma crise sincronizada mais profunda nos próximos anos, de exacerbação dos problemas ambientais e das mudanças climáticas, dos refugiados e imigrantes, de limitação dos direitos e liberdades populares, da intensificação de políticas anticomunistas, racistas e ultranacionalistas.

Além disso, é um ano fortemente simbólico para nossa luta e solidariedade internacionalistas, já que este ano marca 100 anos da fundação da Internacional Comunista. O Comitê Central do KKE comemora o centenário da fundação de Internacional Comunista (CI), ocorrida em 2-6 de março de 1919.

Nosso partido desenvolveu uma atividade significativa no movimento internacional. Isso, de todo modo, expressa uma necessidade importante em nossos dias, após a derrubada contrarrevolucionária do socialismo em 1991, assim como hoje, devido à crise econômica do capitalismo, que exige ainda maior coordenação e organização da atividade conjunta, para que o Movimento Comunista Internacional possa avançar mais rapidamente no sentido de desenvolver uma estratégia única contra a agressão imperialista, contra a guerra imperialista, pela paz entre os povos, pelo socialismo. O movimento operário, desde seu nascimento, com o surgimento e a difusão da visão de mundo marxista e da fundação dos primeiros partidos políticos da classe trabalhadora, abraçou o internacionalismo.
A análise leninista do imperialismo, a teoria do desenvolvimento desigual e do fraco “elo” em um país ou grupo de países e as tarefas de cada partido comunista com base nessa teoria, a própria experiência histórica do século passado, levam inequivocamente à conclusão de que o campo da luta nacional permanece dominante sem que isso seja finalmente interpretado como uma renúncia à necessidade de coordenação e a elaboração de uma estratégia e atividade conjuntas dos comunistas em todo o mundo. É uma necessidade que está ganhando importância ainda maior, uma vez que a internacionalização capitalista assumiu formas superiores, não apenas no campo da economia, mas também no nível político, também através da formação de organizações interestatais internacionais e regionais da OTAN, da UE, do FMI, etc.

Nosso Partido, desde sua fundação, está comprometido com os princípios do internacionalismo proletário. Por 100 anos, ele lutou de forma consistente e não abandonou esses princípios. Como uma seção da Internacional Comunista, ele recebeu grande ajuda em sua formação como Partido de Novo Tipo. Ao mesmo tempo, sofreu as consequências negativas dos problemas de imaturidade teórica e também de oportunismo que surgiram no Movimento Comunista Internacional, mas nunca negou a necessidade de uma estratégia única no movimento comunista contra o imperialismo, para o socialismo. Não teorizou na direção errada experiências negativas. Nunca cometemos o erro de justificar nossos erros ou deficiências, passando responsabilidades para outras pessoas, fora de nós, mesmo que as opções e decisões internacionais nos afetassem negativamente.

Em particular, certas questões que têm a ver com aspectos da estratégia do Movimento Comunista, nas décadas anteriores, nos fornecem lições valiosas para o presente e devem ser discutidas no movimento comunista, porque de vários lados existem opiniões ideológicas e formulações equivocadas que muitas vezes foram colocadas em prática e fracassaram, levando o movimento revolucionário à derrota e ao revés, finalmente alcançando sua extrema expressão contrarrevolucionária. Gostaria de abordar essa questão um pouco mais especificamente, em breve, sem dar, é claro, alguma prioridade a nenhuma delas.

A PRIMEIRA QUESTÃO, que também existe como uma conclusão fundamental nas elaborações do KKE – e sobre a qual é necessário aprofundar ainda mais – está a debilidade do Movimento Comunista Internacional de desenvolver uma estratégia revolucionária única, especialmente durante e logo após o final da Segunda Guerra Mundial e nas décadas que se seguiram. Havia Partidos Comunistas, especialmente dos países capitalistas fortes, que, embora declarassem a necessidade do socialismo, na elaboração de sua política propunham objetivos que, independentemente de suas intenções, não estavam a serviço de uma estratégia de concentração e organização de forças para preparar o conflito e a ruptura total com o poder burguês. Portanto, a política de então não funcionava como um componente da estratégia para o socialismo.

É verdade que houve uma debilidade na elaboração de uma estratégia revolucionária durante e logo após a Segunda Guerra Mundial, posto que a Internacional Comunista em seu conjunto e a maioria dos Partidos Comunistas no ocidente capitalista falharam em elaborar uma estratégia de transformação da guerra imperialista ou da luta pela libertação da ocupação estrangeira e do fascismo, na luta pela conquista do poder dos trabalhadores em condições de grande agudização das contradições entre as classes sociais no país em que atuavam. Ao mesmo tempo, a classe dominante demonstrou com o tempo a capacidade de formar alianças em defesa de seu poder, bem como de reordenar suas alianças internacionais e nacionais.

Uma SEGUNDA QUESTÃO é o fato de que vários partidos estabeleceram e colocaram em sua estratégia como objetivo político a formação de alguns “governos democráticos”, na forma de uma reforma parlamentar ou como estágio intermediário do processo revolucionário. Insistimos que vale a pena observar e refletir sobre como nosso próprio partido e quase todos os PCs, por exemplo, levantaram a questão da dependência de seu país em seus programas e como vinculamos isso à posição de criar alianças e propostas de “governos democráticos”.

A experiência histórica prática, as elaborações e os estudos teóricos mostram-nos ainda mais que as dependências multifacetadas (econômicas, políticas, culturais etc.) existem de qualquer maneira dentro do sistema imperialista internacional, entre os vários países capitalistas e são formadas precisamente pelos desenvolvimento desigual e, é claro, são dependências que não podem ser resolvidas no capitalismo, apenas com a revolução socialista, com a transição para o socialismo. Existe, é claro, a questão específica da dependência da ocupação político-militar de um país sobre outro, que também pode ser resolvida dentro do capitalismo, ou seja, conseguir descartar, por exemplo, o ocupante de seu país, mas o sistema ainda é a democracia burguesa, é o capitalismo. Mas esse problema também pode ser resolvido de maneira diferente, estabelecendo o poder dos trabalhadores, derrubando o capitalismo e construindo o poder e a economia popular, tarefa que o movimento comunista revolucionário deve definir.

TERCEIRA QUESTÃO IMPORTANTE, em nossa opinião, a experiência histórica mostrou como era utópica e é a percepção da transição para o socialismo através da chamada “expansão gradual da democracia burguesa”. As maiores taxas eleitorais do PCs no passado, mesmo em condições de uma correlação de forças mais favorável, não justificavam as expectativas de um passo parlamentar gradual para o socialismo, como muitos se apressaram em propagar. Pelo contrário, grandes ilusões e desvios oportunistas alimentaram e levaram à dissolução desses partidos. Portanto, não foram estabelecidas condições para a emancipação de classe dos movimentos operários e populares, processo que exige o amadurecimento e expansão da iniciativa revolucionária, vinculando-se às massas populares até o surgimento de novas condições, quando as crises econômicas e políticas generalizadas objetivamente promoveriam a ação massiva e revolucionária dos povos.

Na Europa Ocidental, principalmente sob a grande influência do eurocomunismo nas décadas de sessenta, setenta e oitenta, as táticas de formar governos em aliança com a social-democracia, ou seja, com os partidos burgueses, e a participação dos PCs nos governos que administraram efetivamente o desenvolvimento capitalista, integrado na lógica das etapas, com a primeira etapa para resolver as demandas democráticas burguesas e a questão da dependência, em quase todos os países da Europa Ocidental, conduziram apenas ao fortalecimento do poder capitalista, em apoio a novos mecanismos de repressão e manipulação.

A QUARTA QUESTÃO, o renascimento do revisionismo e do oportunismo nos moldes do movimento comunista, ocorreu através do recuo em direção às posições reformistas da social-democracia e, em muitos casos no Ocidente capitalista, levou a um programa de gestão da cooperação com as forças das democracias burguesas, enquanto muitos PCs foram transformados ou estão se tornando em social-democratas. É óbvio que a experiência da Revolução de Outubro foi completamente ignorada nestes casos. A política da aliança da social-democracia com a burguesia foi vista pelos bolcheviques como uma traição à classe trabalhadora. Naquela época, a maioria dos partidos social-democratas era contra a posição de transformar a guerra imperialista em uma luta pelo poder dos trabalhadores em cada país. Lenin abriu uma frente contra a social-democracia internacionalmente. Essa frente foi expressa pela primeira vez na Rússia, com o resultado de que as forças revolucionárias não foram atraídas pelos objetivos e manobras da burguesia doméstica, pelas pressões pequeno-burguesas e oportunistas. Posteriormente, predominou a ideia de que os PCs não seriam capazes de desatar as forças oeprárias que seguiam a social-democracia, que seriam isoladas se não seguissem uma política de aliança com os partidos social-democratas. A separação da social-democracia entre “direita” e “esquerda” se tornou um “dogma”, supostamente para atrair a parte da “esquerda” para o movimento comunista. Algo que nunca foi confirmado. A grande parte da base popular dos outros partidos, como a prática demonstrou há décadas, foi conquistada através do acirramento da luta de classes, com uma forte frente ideológica contra todas as variantes da política burguesa e em momentos de culminância dos conflitos sociopolíticos.

Camaradas:

Após a dissolução da Internacional Comunista e, apesar dos problemas estratégicos acumulados nos partidos comunistas, não foi possível conseguir a criação de uma nova organização internacional dos PCs. O MCI precisou superar fortes fatores negativos, como a numerosa pequena burguesia e as fortes tradições do parlamentarismo burguês. Ambos os fatores se tornaram um pretexto para que muitos PCs propusessem “particularidades nacionais” contra as leis da revolução socialista.

Os anos que se passaram desde a contrarrevolução de 1989-1991 são longos o suficiente. Eles oferecem nova experiência, positiva e negativa. Em vários países, os PCs foram reconstruídos ou criados novamente. As reuniões internacionais dos PCs foram sistematizadas, reuniões regionais e temáticas foram realizadas e outras iniciativas que tiveram mais ou menos sucesso em uma determinada unidade de ação em algumas questões estão sendo desenvolvidas. Essas são etapas que devem ser consolidadas e multiplicadas. No entanto, tudo isso está bem atrás do papel que o movimento comunista deve desempenhar nos desenvolvimentos mundiais e, ao mesmo tempo, vários problemas continuaram ou pioraram.

Os esforços de reconstrução trouxeram à tona os problemas mais antigos, juntamente com as dificuldades criadas pela contrarrevolução e a derrota temporária do socialismo. Paralelamente, a repressão estatal, a criminalização da ideologia e prática comunistas, da luta de classes estão se intensificando. Os sinais que surgiram nos últimos anos, especialmente na UE, são advertências mais gerais: a recente decisão da UE, com o apoio de todos os componentes do espectro político burguês no Parlamento Europeu – liberais, social-democratas, “neoesquerdistas”, ambientalistas, verdes, extrema direita, nacionalistas, esquerdistas de centro -, derrubando a verdade histórica, equiparam fascismo a comunismo, hitlerismo a stalinismo. O mesmo acontece em outros continentes.

Nosso partido acredita que as Reuniões Internacionais dos Partidos Comunistas e Operários são úteis e certamente devem continuar, no contexto da troca e fermentação de pontos de vista e experiências dentro do movimento comunista e anti-imperialista, do esforço de coordenação. Mas para uma reconstrução essencial, uma contraofensiva muito mais bem-sucedida do MCI, é necessário algo mais. É um esforço conjunto dos PCs cujas opiniões ideológicas e políticas se baseiam no marxismo-leninismo, reconhecendo o projeto histórico da construção socialista no século XX e sua contribuição, seja qual for sua finalidade, e a necessidade de luta em prol do socialismo.O KKE está agora mais maduro do que nunca para contribuir nessa direção.

Camaradas:

O KKE está ciente de que o processo de reconstrução revolucionária será lento, difícil, vulnerável e se baseará na capacidade dos PCs de se fortalecer ideológica e organicamente em seus países. É preciso superar as posições errôneas que dominavam o Movimento Comunista Internacional nas últimas décadas, hoje reproduzidas sob várias formas, combinando ação revolucionária e teoria revolucionária. É necessário construir bases sólidas na classe trabalhadora, em setores estratégicos da economia, reforçando nossa participação no movimento operário e popular, fortalecendo cada Partido Comunista.

Os 100 anos da fundação da IC deveriam ser um novo ponto de partida para a reconstrução revolucionária do movimento internacional comunista e operário no combate à ação contrarrevolucionária das forças dominantes do capitalismo e os retrocessos de hoje. O lema do “Manifesto Comunista ainda é oportuno: “proletários de todos os países, uni-vos!”.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Fonte: http://es.kke.gr/es/articles/DISCURSO-DEL-SECRETARIO-GENERAL-DEL-COMITE-CENTRAL-DEL-KKE-DIMITRIS-KOUTSOUMPAS/

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