KKE: sobre o resultado eleitoral de 21 de maio

DECLARAÇÃO DO COMITÊ CENTRAL DO KKE SOBRE OS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES PARLAMENTARES DE 21 DE MAIO DE 2023

1. O CC saúda os milhares de membros do KKE (Partido Comunista) e da KNE (Juventude Comunista), simpatizantes, indivíduos que cooperam com o Partido e eleitores que contribuíram para a batalha eleitoral do KKE. Saudamos especialmente aqueles que participaram da campanha pela primeira vez, e os jovens que votaram pela primeira vez a favor do nosso Partido. Saudamos todos aqueles que se uniram a nós nesta batalha eleitoral. Esta mobilização baseia-se nas lutas e ações conjuntas realizadas ao longo do período anterior dentro do movimento operário-popular, na luta contra a política antipopular do governo da Nova Democracia, dos grupos empresariais, da UE e da OTAN.

O fortalecimento eleitoral do KKE, que obteve 7,23%, 425.000 votos e 26 deputados — um crescimento que tem dimensão geral nacional — é o passo positivo nesta batalha eleitoral, dentro da atual e adversa correlação de forças. As novas forças que se reúnem em torno do Partido podem, a partir de agora, dar um novo impulso no caminho do contra-ataque, da luta de classes com características de massas, do reagrupamento do movimento operário, da promoção do movimento anticapitalista e da aliança social antimonopolista; este resultado pode encorajar as mulheres e os jovens a aderirem ao movimento de forma mais massiva. O reforço da influência política do KKE em importantes centros urbanos, em bairros populares, em áreas onde se concentra grande parte da produção industrial e econômica, bem como sua ascensão como terceiro partido na Ática, são sinais de esperança. Os grandes percentuais obtidos pelo KKE entre os funcionários do setor privado, agricultores, estudantes universitários e faixas etárias produtivas também são encorajadores. O KKE será a única oposição dos trabalhadores e do povo contra o novo governo. Este deve ser o principal critério para continuar a unir forças e fortalecer o Partido diante de acontecimentos políticos de qualquer natureza.

2. O fortalecimento eleitoral do KKE é um indicador da ascensão do prestígio do Partido entre a classe trabalhadora e o povo. Este prestígio deriva do fato de o Partido ter estado à frente de todas as frentes cruciais de luta durante o período passado; das emblemáticas lutas e manifestações operárias; de sua postura durante a pandemia; de sua posição e ação contra a guerra imperialista na Ucrânia e o envolvimento da Grécia nos planos da OTAN; das reivindicações militantes, do apoio e da solidariedade expressos por suas organizações, membros e quadros durante os desastres naturais enquanto o estado burguês abandonou o povo; das lutas dos agricultores e autônomos; da ação da KNE entre estudantes universitários e escolares, que também se expressou pelo primeiro lugar do “Panspoudastiki” nas eleições estudantis pelo segundo ano consecutivo.

O KKE esteve na vanguarda de todos os momentos críticos entre 2019 e 2023, quando a Nova Democracia estava no governo, consistentemente na oposição do ponto de vista dos interesses do povo, tanto nas lutas travadas nas ruas quanto no Parlamento, enfatizando as escolhas políticas do ponto de vista da classe dominante feitas pelo governo, com o consenso dos outros partidos burgueses. Foi o caso da pandemia, da guerra imperialista na Ucrânia, mas também do acidente ferroviário em Tempe, onde o KKE destacou a responsabilidade da política de privatização e liberalização dos transportes promovida por todos os governos para servir ao lucro dos grupos empresariais. Esta postura permitiu que forças populares mais amplas que acreditavam na “esquerda do primeiro tempo” agora passem a confiar no KKE, reconhecendo sua consistência e estabilidade em expor a tentativa de fraude do SYRIZA, apesar de opiniões e pensamentos diferentes.

O KKE foi politicamente acusado por sua postura política durante 2012-2015 contra o novo surgimento de ilusões social-democratas trazidas pelo fortalecimento eleitoral do SYRIZA, bem como pelo fato de que, apesar de todas as derrotas eleitorais que enfrentou, manteve-se firme e não compactuou com o governo alternativo. Durante a governança do SYRIZA em 2015-2019, o KKE revelou o caráter de sua política de governo como um apoio político aos interesses de grupos empresariais por meio da infame “negociação orgulhosa”, o engano do povo com o falso dilema em torno do referendo de julho de 2015, a aprovação do 3º memorando junto com a ND e o PASOK e a promoção de uma nova rodada de ataques contra o povo.

Ao mesmo tempo, apesar de todas as dificuldades, o KKE e suas forças no movimento social estiveram na linha de frente para manter acesa a chama da luta, contribuindo assim para manter abertos os canais de comunicação com os trabalhadores e as forças populares que apoiavam a social-democracia e outros partidos burgueses. Durante este período, o KKE foi capaz de explicar melhor sua posição em relação aos governos burgueses para forças populares mais amplas, apresentando sua própria percepção acerca do poder e do governo dos trabalhadores, seu caráter, as condições para sua realização e o papel que o KKE vai jogar nele. A ascensão do prestígio do KKE também diz respeito à sua intervenção político-ideológica em torno de questões estratégicas da história, economia e da luta contemporânea, bem como a defesa do socialismo como o sistema social econômico e político contemporâneo necessário e realista, a única saída para a classe trabalhadora e para o povo do país. Também diz respeito à capacidade do Partido de fazer previsões corretas sobre o curso dos acontecimentos, de esclarecer e alertar o povo e os trabalhadores sobre eles.

O prestígio do Partido também é reforçado por sua intervenção ideológica mais ampla em uma série de questões relativas aos avanços da ciência, tecnologia, educação e saúde; a sua intervenção na discussão das questões sociais contemporâneas; a sua rica atividade no campo da cultura, que tem permitido mobilizar forças mais vastas e que se expressa também na participação massiva nos festivais KNE-Odigitis. Sabemos que um setor mais amplo de trabalhadores, forças populares e jovens que atualmente se reúnem em torno do KKE não concorda conosco em tudo, não está firmemente convencido da saída política que propomos e do caminho para alcançá-la. Porém, acreditamos que hoje somos mais capazes de convencê-los.

No próximo período, através da nossa intervenção e discussão ideológico-política, mas também através da ação conjunta com milhares de pessoas em várias frentes de luta, seremos mais capazes de conseguir uma união mais forte de forças em torno do KKE e sua política, suas posições e o seu programa cientificamente elaborado, que garante a sua consistente postura militante em prol dos interesses dos trabalhadores e do povo e em conflito com os objetivos e a estratégia dos grupos empresariais.

3. A correlação de forças entre os principais partidos burgueses, ou seja, Nova Democracia, SYRIZA e PASOK, mas também a Solução Helênica que emergiu das eleições, mostra não apenas as possibilidades de formar um governo que continuará na mesma direção antipopular, mas também de um consenso e apoio das forças ditas de oposição às escolhas políticas em favor do capital, contra os trabalhadores e o povo. Durante todo o período eleitoral, o KKE destacou que o programa do próximo governo é predeterminado e antipopular, pois será chamado a continuar a política em favor de grupos empresariais e, portanto, em detrimento da classe trabalhadora, dos trabalhadores autônomos, dos agricultores e dos jovens. Também é evidente que, apesar de suas diferenças e confrontos, eles convergem em direções estratégicas fundamentais e, acima de tudo, no fato de servirem conjuntamente aos interesses dos grandes grupos empresariais, da UE e da OTAN. O SYRIZA em particular, tanto atuando no governo como na oposição durante os últimos quatro anos, tem sido um importante veículo para a virada conservadora do povo, alimentando a predominância da Nova Democracia.

4. A opção por não proceder à formação de governo e recorrer a novas eleições, ao abrigo da nova lei eleitoral, tem apenas um propósito: roubar os votos dos trabalhadores e setores populares que não ficaram presos nos dilemas de uma “estabilidade” antipopular. Trata-se da tentativa de obter um consenso mais amplo sobre o trabalho antipopular do próximo governo; os trabalhadores e o povo devem se opor a isso. O KKE também está pronto para travar esta batalha. O objetivo de um KKE ainda mais forte nas próximas eleições é a resposta a todas as tentativas de chantagear e roubar o voto do povo e os assentos parlamentares. A necessidade de um fortalecimento ainda maior do KKE é constante e urgente, pois a agenda do governo tem claramente um caráter antipopular.

Existe apenas um dilema para o povo: ou dará seu consentimento para apoiar a política antipopular do governo ou fortalecerá a única oposição real do ponto de vista dos interesses do povo trabalhador. Como foi demonstrado, a social-democracia do SYRIZA ou do PASOK não pode ser uma verdadeira oposição em favor do povo.

A única força que resistirá ao governo antipopular de partido único da Nova Democracia é um KKE ainda mais forte, cujas posições e políticas estão na direção oposta a todas as políticas burguesas, liberais e social-democratas. Porque o KKE assume a pesada responsabilidade de ser a única oposição real, dentro e fora do Parlamento, que combaterá o novo governo da ND, enquanto os outros — SYRIZA e PASOK — apoiarão, como fizeram nos anos anteriores, as escolhas mais importantes e emblemáticas do governo tanto por seu voto no Parlamento quanto por suas ações contrárias ao movimento operário-popular. As forças populares dos trabalhadores sabem por experiência que a busca sem saída para encontrar uma solução nos processos dentro da social-democracia entre SYRIZA e PASOK não é a resposta.

Porque o voto no KKE é a resposta à tentativa de chantagear o consentimento dos trabalhadores e do povo, para promover a submissão e o derrotismo face à nova política antipopular do governo. Porque o voto no KKE é a única escolha contra o sistema, uma vez que sua ação abre caminho para a derrubada do sistema. Porque o voto no KKE é a única resposta à tentativa do sistema de utilizar várias formações fascistas como reserva, ao mesmo tempo em que, como se viu, outros partidos vivem a elogiar e disfarçar suas ações.

Aqueles que até o último momento estavam indecisos e não deram o passo para fortalecer o KKE, agora devem ousar fazê-lo com maior determinação. Aqueles que deram o passo têm mais motivos antes das novas eleições para repeti-lo, consolidá-lo, chegar aos outros para fortalecer o Partido. Os trabalhadores e a juventude não precisam de uma oposição que diga “depois vamos acertar as contas”, mas de uma oposição popular que “acerte as contas” com a política antipopular no dia a dia, que se chocará dentro e fora do Parlamento.

5. Os tempos mais difíceis estão à nossa frente com o ataque crescente do capital para intensificar a exploração, usando todo o arsenal anti-trabalhador criado pelos governos da ND, do SYRIZA e PASOK. A partir de agora, portanto, a classe trabalhadora e as forças populares enfrentarão uma nova rodada de intensificação dos ataques no quadro dos compromissos com o capital, com a UE e a OTAN, no contexto de novos desenvolvimentos e fatos:
– A implementação do novo pré-requisitos do memorando para o desembolso das parcelas do Fundo de Recuperação e do Pacto de Estabilidade.
– A transição para a rígida política fiscal, que no fundo significa uma nova rodada de cortes sociais e austeridade em nome dos superávits primários exigidos pela UE, visando o nível de investimento.
– A possibilidade de uma nova crise financeira, cujos sinais de alerta já estão presentes nos EUA e na UE, enquanto a economia capitalista grega está decaindo.
– Os desenvolvimentos da guerra imperialista na Ucrânia e a procura de um maior envolvimento da Grécia ao lado dos planos da OTAN.
– Os acordos negativos nas relações greco-turcas lançados sob a égide da OTAN.

O governo administrará essas questões à custa dos interesses dos trabalhadores e do povo. As forças da oposição burguesa do SYRIZA, PASOK e outros partidos já estão convergindo para essas questões.

6. O KKE utilizará o poder que o povo lhe deu e o dará novamente para contribuir dentro e fora do Parlamento em prol da organização da resistência dos trabalhadores contra a agenda do novo governo. O maior número de deputados que o KKE elegeu e vai reeleger em vários círculos eleitorais significa mais apoio às reivindicações do povo operário, mais vozes para a defesa e promoção dos interesses do povo operário no Parlamento.

Ao mesmo tempo, o fortalecimento do KKE dá coragem e otimismo aos partidos comunistas que lutam para mudar a correlação de forças em seus países, às lutas dos trabalhadores que eclodem no esforço de reagrupar o movimento comunista internacional. Hoje há uma corrente se fortalecendo, ainda que embrionária, em torno do questionamento à política dominante, de seu caráter de classe, dos partidos e governos que a servem, do estado do capital; uma corrente que não busca novos salvadores na alternância de governos. A busca pela solução dos problemas de hoje se fortalece por meio da luta organizada, da participação no movimento e da ação coletiva. Até certo ponto, isso foi expresso nas manifestações de massa por Tempe. O slogan “Só o povo pode salvar o povo, no caminho da derrubada do sistema” toca o coração do povo.

Esses elementos nos enchem de otimismo e muita responsabilidade. A saída está no caminho da luta de classes, na luta para mudar a atual correlação de forças adversa. Este é o conteúdo da ação diária dos comunistas, dos membros da KNE, dos amigos e simpatizantes do Partido: o reagrupamento do movimento operário, os passos no avanço da aliança social, a formação de uma massa e do movimento operário popular que não se limitará a rechaçar o ataque, mas abrirá caminho para a derrubada desse decadente sistema explorador, com uma mobilização mais ampla em torno da proposta política do KKE, seu Programa pelo Poder Operário, na perspectiva do Socialismo.

7. Convocamos todos os membros do KKE e da KNE, amigos e simpatizantes do Partido. Não paramos nossa atividade política nem por um minuto. A partir de hoje, intensificamos nossa ação e esforço para aumentar a força do KKE. Mesmo aqueles que estavam indecisos, não apoiaram o KKE e escolheram SYRIZA, PASOK, ND ou outros partidos, agora podem ver que o fortalecimento do KKE, dentro e fora do Parlamento, é a única solução para a defesa dos interesses do povo trabalhador.

Há, portanto, um espaço considerável para enfrentar novos falsos dilemas e chantagens e, acima de tudo, para tornar o KKE ainda mais forte. Demos um passo à frente; vamos avançar os próximos!

Eles estão sozinhos contra todos nós! Porque só o povo pode salvar o povo, com um KKE ainda mais forte.

Comitê Central do Partido Comunista da Grécia (KKE)
22 de maio de 2023

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)