“Chapa-branca” ou máfia de calças curtas?

As últimas semanas tem sido de imensas mobilizações e confrontos. Após um trabalho político que buscou a unidade entre segmentos como estudantes secundaristas e universitários, professores, funcionários e pais, para enraizar as solicitações entre a sociedade, todo o país debate o modelo de educação – gerado por uma ditadura militar.

A principal bandeira é o financiamento público para o ensino público, retirando assim o apoio estatal para o lucro privado dos tubarões do ensino. A luta, em sua última jornada, gerou 62 manifestantes presos e 34 policiais feridos.

Falamos do Chile, de seus estudantes e sua Federação dos Estudantes das Universidades, da luta popular.

As últimas duas décadas tem sido de inconfessáveis jogadas de gabinete, acordos espúrios e descaracterização. Após um trabalho político que visa usar uma entidade histórica como poder de barganha por cargos, verbas públicas e projeção política, muitos gabinetes foram ocupados, campanhas financiadas, parlamentares e até mesmo prefeitos eleitos para gerir desavergonhadamente a política exploratória do capital.

Falamos do Brasil, das últimas diretorias da UNE, da vergonha de se vender ao poder.

A imprensa burguesa, movida por sua moral burguesa, critica a UNE por realizar seu 52º Congresso com verbas públicas – e a isso dá o nome de “congresso chapa-branca”. São muitas as matérias publicadas nos últimos dias dando conta de que Petrobras, Eletrobras, Caixa e ministérios dos Transportes, Turismo, Saúde e Educação despejaram verbas para a realização do evento.

Aliada de primeira hora da face mais crua do capitalismo no Brasil (PSDB-DEM) e difusora – como aparelho ideológico do Estado – do ideário do Estado Mínimo, identifica este financiamento com o início dos governos petistas no país – ou seja, 2003.

Pressionado por tais notícias e tentando jogar a própria imprensa em contradição, o atual presidente da entidade afirmou que a destinação de dinheiro do governo para os eventos da UNE não são novidade e nem começou no governo Lula. “O Congresso da UNE de 1989, realizado na Bahia, recebeu verbas do governo baiano, então comandado pelo PFL, atual DEM”, afirmou.

Algo esclarecedor, pois um bom ouvinte – ou uma imprensa séria – ao ouvir isso teria a curiosidade de pesquisar desde quando, e até onde, vai a relação de “parceria” entre a força política que dirige a UNE e governos não necessariamente capitaneados pelo PT.

Descobriria, sem muito esforço, que o PFL, ou DEM, fez parte das últimas gestões da UNE na chapa dirigida por este grupo, que certa governadora do Maranhão (estado que tem os piores índices sociais do país, e no qual as discrepâncias de renda e condições de vida saltam aos olhos) de sobrenome sugador da coisa pública também é parceira das últimas diretorias da UNE. Verá que esta história realmente – e infelizmente – não começou em 2003.

Também saberia porque o Governo de Goiás, do tucano Marconi Perillo, despejou dinheiro no evento – como havia feito outras vezes, inclusive durante o mandato de Fernando Henrique Cardoso.

Outro ponto não tocado pela imprensa é o patrocínio dado ao 52º Congresso da UNE pela pouco famosa – mas muito ativa… – Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Representantes do empresariado que comandam o intragável e ultralucrativo sistema de transportes do país, é de se deixar curioso que esta entidade tenha oferecido verbas para a realização de um congresso estudantil.

Seria falta de pureza crer que isto se dá pelas expectativas criadas de superfaturamento com a realização das obras de infra-estrutura para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que envolvem diretamente a máquina de interesses, jogatinas e comissões gerenciadas dentro dos Ministérios dos Esportes, controlado pela mesma força política que dirige a UNE?

Novamente – e mais uma vez infelizmente – essa estória não começou agora: é filha direta de acordos com o sistema de rádios Jovem Pan para a confecção das “carteirinhas”, a Fundação Roberto Marinho e as Organizações Globo para a desconstrução da História e da Memória do movimento estudantil brasileiro.

Analisados os aspectos não citados pela imprensa burguesa, é hora de fazer uma consideração: as últimas diretorias da UNE são algo bem pior que pelegas ou chapa-brancas e caminham a passos largos para o pior tipo de representação de liderança dos movimentos sociais: a pura e simples máfia.

Para nós da União da Juventude Comunista (UJC), se a política do governo federal fosse voltada aos interesses dos trabalhadores, se as empresas e órgãos públicos citados tivessem sua atuação marcadamente voltada aos interesses dos trabalhadores e se o comando político da UNE tivesse seus interesses voltados aos interesses dos estudantes, não haveria problema ou dúvida alguma sobre as causas e consequências desses patrocínios. Mas não é o caso, como demonstrou a participação do ex-presidente Lula e do ministro da educação Fernando Haddad no evento.

Convescote para troca de afagos ou apresentação de faturas?

Ao participar na quinta-feira do 52º Congresso da UNE, Lula disse ser grato “pela lealdade na adversidade”. Deve ter falado dos inúmeros momentos em que a diretoria da entidade deveria mobilizar sua base para estar ao lado dos interesses de trabalhadores e estudantes mas se escondeu por fazer parte do projeto de expansão do capitalismo brasileiro do qual ele, Lula, é maior fiador político.

Capitalismo que se expressa também na área da Educação – e que leva a acordos inconfessáveis entre os tubarões do Ensino Superior privado e de péssima qualidade, as forças políticas que comandam a UNE e o MEC.

MEC, aliás, cujo titular da pasta perdeu uma ótima oportunidade de permanecer calado. Assim como o presidente da UNE, para jogar a imprensa em contradição, o ministro Fernando Haddad afirmou a seguinte pérola para afirmar que a entidade não poderia ser chamada de “chapa-branca” por receber verbas públicas:

“Você liga a televisão e vê propaganda de quem? Quem é a propaganda do futebol brasileiro? Quem é a propaganda das novelas? Para eles, é democrático. Para vocês, é chapa-branca”.

A afirmação de Haddad soa como resposta ao provocante comunista Apparício Torelly, o “Barão de Itararé”: “Esqueçamos a ética e nos locupletemos todos!”

Não, ministro, não concordamos com verbas públicas financiando a linha editorial das TVs privadas, quiçá de suas telenovelas. Esse dinheiro seria bem melhor aplicado no salário de nossos professores, nas bibliotecas e laboratórios de nossas escolas, na merenda de nossas crianças.

Não concordamos com a linha política que levou a presidente da UNE entre 2007 e 2009 a dizer que a entidade “não faz críticas e sim ressalvas a política do Governo Federal”. Não concordamos com o fato de a UNE não ter protagonizado ao longo dos oito anos e seis meses de governo social-liberal do PT e aliados nenhuma ação, protesto ou manifestação contrária ao Governo Federal.

Mesmo quando o governo cortou verbas para a Educação, retirou direitos dos aposentados e se posicionou contra as propostas da entidade – hoje “mais realista do que o rei”.

Por isso nós, da UJC, decididamente mantemos nossa posição firme de lutar, como os precursores da UNE e seu único fundador ainda vivo, Irun Sant’Anna, que nos orgulha por fincar pés nas trincheiras do Partido Comunista Brasileiro (PCB), como nos mostram os companheiros chilenos. Nossa índole é de luta!

No Chile, “reunião” com governo é nas ruas. “Representante” do Ministério é a polícia

Os jovens comunistas brasileiros nos somamos de longe à luta desses estudantes, professores e pais por entendermos que sua luta também é nossa, e precisa ser implementada também no Brasil: a luta para que aumentem as verbas públicas para a educação pública, e que o estado deixe de financiar a iniciativa privada em seu assalto ao sistema de educação.

Lá, assim como cá, lutamos por uma mudança estrutural no modelo educacional e em seu sistema de financiamento, que é o subsídio ao lucro privado. Felizmente lá – e infelizmente cá – essa luta hoje mobiliza as atenções de um país, chamam à atenção da sociedade e do mundo, ocorrem nas ruas em confronto aberto contra o sistema opressor do capital e seus costumeiros verdugos, a polícia.

No Chile, a direção política das manifestações estudantis está com os camaradas da Juventude Comunista (JJCC), que usam sua influência e presença política nas Federações Estudantis para o que é justo e correto: mobilizar por transformações.

Ao que nos cabe, aqui no Brasil, com ou sem a diretoria da UNE, seguiremos nessa batalha.

Fonte: UJC

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