Chile: Com bombas e jatos d’água, polícia acaba com megamanifestação estudantil em Santiago

[Victor Farinelli] De nada adiantou a Intendência Metropolitana (governo regional) de Santiago proibir a marcha dos estudantes a partir da Praça Itália, localizada no centro da capital do Chile. Tampouco as barricadas policiais em frente ao palácio presidencial de La Moneda foram suficientes para deter o ímpeto dos manifestantes.

 

Uma multidão de 80 mil pessoas (segundo os organizadores, 20 mil segundo a polícia) participou de uma nova marcha pedindo mudanças radicais no sistema educacional chileno. O evento no entanto, foi duramente reprimido pelas forças de segurança locais, terminado no confronto mais violento já verificado desde o começo da série de manifestações. Os comícios programados pela organização não puderam ser realizados devido à intervenção da polícia.

A marcha foi organizada por entidades estudantis e conta com o apoio dos sindicatos de professores. O objetivo dos manifestantes é propor uma alternativa ao GANE, polêmico projeto do governo chileno para a área de Educação e acusado de ser um tubo de ensaio para iniciar uma onda de privatização do setor.

Às 11h locais (12h de Brasília), uma multidão de cerca de 80 mil pessoas, segundo cálculos dos organizadores do evento, iniciou a passeata. Ela terminou na Praça dos Heróis, em frente à embaixada do Brasil, às 13h30 (14h30 de Brasília).

A Intendência Metropolitana da capital chilena havia solicitado aos organizadores que realizassem a manifestação nas proximidades da Universidade de Santiago (zona oeste da capital chilena), e longe do centro. Mas a Confech (Confederação dos Estudantes da Universidade do Chile, principal organizadora da passeata) já havia montado seu palanque na Praça dos Heróis e insistiu em realizar a marcha pelo mesmo trajeto percorrido nas manifestações anteriores.

Início pacífico

Às 11h, após um diálogo entre o presidente do Sindicato dos Professores, Jaime Gajardo, com comandantes da força policial, os estudantes começaram a transitar pela Alameda Bernardo O’Higgins, a principal via da cidade.

O desfile dos estudantes pela alameda se desenvolveu com certa tranquilidade, apesar da falta de autorização, e contou com uma série de manifestações artísticas. Diversos grupos de percussão, de diferentes universidades, se encarregaram de ditar o ritmo.

Alguns grupos de teatro universitário também realizaram performances especiais, assim como os alunos do curso de artes cênicas da Universidade de Santiago, que se fantasiavam de personagens emblemáticos da história chilena, como os ex-presidentes Salvador Allende e Frei Montalva. Mesmo em setores onde havia barricadas policiais, como na Plaza de la Ciudadania, em frente ao Palácio de La Moneda, a passeata não registrou maiores incidentes.

Ainda durante a marcha, a presidente da Confech, Camila Vallejo, em entrevista ao Opera Mundi, procurou destacar o caráter pacífico da manifestação. O objetivo, segundo ela, é demonstrar o descontentamento dos estudantes com o projeto do governo para a educação, o GANE, apresentado pelo governo na semana passada. Segundo ela, “as autoridades estão querendo impor um acordo sem antes falar com os estudantes.

O GANE não considera nossas principais demandas, os estudantes somente querem dizer ao governo que o que eles oferecem não é suficiente”.

O confronto

O palanque montado na Plaza Los Heroes já estava completamente tomado pela multidão às 13h (hora local), quando se iniciaram os discursos das lideranças do movimento. Porém, vinte minutos depois, justamente quando o presidente do Sindicato dos Professores, Jaime Gajardo, iniciaria uma série de discursos, os conflitos começaram.

Tanques passaram a lançar jatos d’água, policiais jogavam bombas de gás lacrimogêneo e tropas montadas cercaram a praça. Dezenas de estudantes reagiram ao cerco policial atirando pedras e pedaços de madeira.

No início das hostilidades, Gajardo chegou a pedir para os policiais não atacarem os manifestantes, e para os estudantes que não reagissem às provocações. Porém, o confronto se intensificou e o presidente do sindicato dos professores, entre lágrimas e uma tosse intermitente, tratou de fazer um apelo à autoridade: “Espero que o Sr. Echeverría (prefeito de Santiago) tome consciência do que está fazendo! Essa é uma marcha pacífica, não podem nos reprimir dessa forma, somos estudantes e professores, não delinqüentes!”.

Porém, logo em seguida, um tanque passou ao lado do palanque e lançou uma bomba de gás, encerrando prematuramente o comício. A maioria dos estudantes se dispersou rapidamente, enquanto uma linha de frente formada por algumas dezenas deles preferiu confrontar a polícia.

Fonte: www.diarioliberdade.org

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